Emília Monteiro Andrade colocou os ritmos do Norte no caldeirão musical candango. Nascida em Poços de Caldas, Minas Gerais, por um capricho do destino, ela mora em Brasília desde os anos 1980 e se considera amapaense de coração e de alma. Cresceu numa casa em que os pais sempre cultivaram a cultura, o afeto e os valores da terra de origem. Toda a família é do Amapá e do Pará. Em Brasília, ela aprendeu a viver a diversidade cultural e a intensificar a sua singularidade. Foi muita influenciada pelo rock dos anos 1980 e tem se destacado em shows como os do projeto Cena Contemporânea. Nesta entrevista, Emília fala sobre as referências musicais, a força da matriz amapaense, os ritmos do Norte, o impacto de Brasília e a Lei do Silêncio, entre outros assuntos.
;Eu fiz parte da companhia dos Menestréis de Oswaldo Montenegro, de 1998 a 2000, onde cantava e atuava. Foi lá que percebi o bem que cantar fazia para a alma, a minha e a de quem me ouvia;
;O marabaixo, o batuque, o carimbó, nos representam tanto quanto o samba, o frevo, o xote, o baião, o forro, mas ainda não foram reconhecidos como tal;
De onde vêm suas referências musicais?
O meu pai cantava na rádio de Macapá ; na época em que era ao vivo ; tão lindamente que tinha o apelido de ;bico de ouro;, porque assoviava como um pássaro, parecia um instrumento de sopro. Ele sempre foi um apaixonado pela música. Em casa ouvíamos de tudo: MPB, jazz, blues, bossa-nova, jovem guarda, baião e, claro, os ritmos do Norte. Além disso, eu vivi muito intensamente o rock dos anos 1980, que ferveu aqui na capital. Minha mãe cresceu em Laguinho, bairro negro de Macapá, e viveu fortemente esses ritmos tradicionais. Por isso, ela sempre transmitiu muito amor e reverência aos valores, costumes e tradições do Amapá. Talvez eu valorize tanto essa cultura por ter vivido longe, porque se tivesse crescido lá, seria normal. Sempre ei as férias e feriados na casa dos meus avós, então, o cordão umbilical nunca foi cortado.
O que o disco traz de novo?
Quando fiz o primeiro CD, resolvi beber das minhas origens. Trouxe ritmos do Amapá e do Pará. Quando cheguei a Brasília, tinha quatro anos. A gente se identifica como família, por todas as referências familiares e culturais. Sou totalmente mapaense de coração! No mesmo ano, eu lancei o CD lá na terrinha. O teatro era praticamente inteiro de amigos e família. Fui lá pra pedir e receber a bênção deles. Como eu me orgulho de dizer que sou macapaense, porque me identifico absolutamente com a cultura, eles também valorizam isso e me consideram filha.
Como começou a sua carreira na música?
Eu fiz parte da companhia dos Menestréis de Oswaldo Montenegro, de 1998 a 2000, onde cantava e atuava. Foi lá que percebi o bem que cantar fazia para a alma, a minha e a de quem me ouvia. Na época da escola, eu cantava informalmente e cheguei a integrar algumas bandinhas, mas só como hobby. Profissionalmente, foi o Café da Rua 8 que trouxe meu primeiro público fiel. Em 1998, quando fui ar férias em Macapá, meu irmão caçula me mostrou a música de marabaixo Mal de amor, de Val Milhomem e Joãozinho Gomes, e eu fiquei encantada. Quando voltei para Brasília, introduzi a canção nos meus shows e comecei a explicar ao público o que era essa ritmo. E as pessoas achavam o máximo!
Qual é a sua relação com o Amapá?
Há um sentimento tão grande de saudade e, ao mesmo tempo, de pertencimento. Lá, eu sou alguém: sou prima, sobrinha, neta de um monte de gente e isso é muito bom, porque aqui nós éramos apenas cinco: eu, meu pai, minha mãe e meus irmãos. Desde pequena eu frequentava rodas de marabaixo, o Curiaú, que é um quilombo vivo onde são trabalhadas essas tradições culturais do batuque e do marabaixo.
A matéria completa está disponível , para s. Para , clique