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Universidade de Brasília discute retorno do calendário acadêmico

Em planejamento e sem datas definidas, instituição aguarda resultado de pesquisa para estabelecer plano de retomada. Para ex-reitor, resposta é muito lenta

Correio Braziliense
postado em 22/06/2020 18:00
Equilibrar o cuidado com a saúde durante uma pandemia que infectou milhões e matou milhares em todo o mundo, a adaptação a ferramentas para um possível ensino a distância e, ao mesmo tempo, "não deixar ninguém para trás" está entre as preocupações da Universidade de Brasília (UnB) ao planejar a retomada após três meses sem aulas.
 
Apesar de portaria publicada pelo Ministério da Educação (MEC) na última quarta-feira (17/6) autorizar a suspensão das aulas presenciais nas instituições de ensino superior até 31 dezembro, a Universidade de Brasília UnB segue trabalhando para definir qual a melhor alternativa a seguir: manter o calendário acadêmico suspenso ou substituir a presença física por atividades remotas.
 
Universidade de Brasília planeja possível retomada das aulas 
As aulas foram paralisadas há três meses, conforme decisão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). Da mesma forma, cabe agora ao conselho aprovar, ou não, a retomada. Para o vice-reitor da universidade, Enrique Huelva, diante da atual situação pandêmica, há apenas uma certeza: “aulas presenciais neste momento estão descartadas”.

Segundo o vice-reitor, a universidade se encontra em uma etapa de organização e análise dos diversos contextos em que estão inseridos estudantes, professores e cursos. Não há data definida para a volta às aulas e, nem mesmo, para a decisão final sobre o calendário acadêmico do primeiro semestre de 2020. “Estamos construindo condições para poder levar uma proposta sólida a ser discutida no Cepe. É uma fase de planejamento, coleta de informações e mapeamento” afirma. 

Pesquisa social

Com intuito de auxiliar a definição de estratégias de uma possível retomada, o Comitê de Coordenação das Ações de Recuperação da Universidade de Brasília (CCAR) lançou para a comunidade universitária a “Pesquisa Social UnB: condições para a retomada do calendário acadêmico”. São questionários específicos a estudantes, professores e técnicos istrativo, disponíveis para resposta até esta terça-feira (23/6)
 
Outra instituição federal do DF, o Instituto Federal de Brasília (IFB) aplicou um questionário à comunidade bem antes da UnB e, na última sexta-feira, definiu o calendário do retorno acadêmico não presencial. A volta às aulas do IFB está marcada para 27 de julho

Para Enrique Huelva, vice-reitor da UnB, o resultado da pesquisa é essencial para que o plano de retomada atenda integralmente todos os estudantes. “O objetivo é mapear as condições socioeconômicas, de saúde e de o a recursos tecnológicos. Isso é importante para sabermos quais medidas a UnB pode tomar para ajudar aqueles em piores circunstâncias”, explica. “Trabalhamos com todo o cuidado para que ninguém fique para trás,”

O possível retorno

Neste momento, a Universidade de Brasília cogita a volta do calendário acadêmico por meio atividades remotas. No entanto, Enrique Huelva enfatiza que não há datas definidas. O vice-reitor explica que a universidade tem analisado quais as possibilidades mais adequadas para cada faculdade, área e disciplina. Por isso, cada unidade acadêmica deverá elaborar uma proposta de retomada que atenda as necessidades dos cursos.

Enrique Huelva e Márcia Abrahão, respectivamente vice-reitor e reitora da UnB

 

Os projetos serão avaliados pelo Comitê de Coordenação de Acompanhamento das Ações de Recuperação (CCAR). Enrique Huelva ressalta que as atividades remotas com que a instituição pretende trabalhar não devem ser confundidas com a educação a distância (EaD).

“O ensino a distância implica em um conjunto de metodologias e não é essa a proposta. Pode ser que tenham modalidades que se aproximam um pouco disso, mas outras que ficam mais longes. Preferimos falar atividades remotas e atendimento domiciliar”, justifica. 

Ex-reitor defende volta não presencial

Não aumentar desigualdades, claro, é válido, mas é possível encontrar alternativas para não deixar alunos sem aulas por tanto tempo. É o que defende o ex-reitor da UnB Ivan Camargo. “Como uma universidade a três meses sem dar aula" />

 

O professor Asdrúbal Borges ressalta a importância de buscar alternativas para que o máximo de alunos e disciplinas sejam contemplados com o ensino remoto. Um exemplo dado por ele é a proposta da Secretaria de Educação do Distrito Federal de se entregar material impresso aos estudantes que não tenham nenhum dispositivo digital.
 
Asdrúbal salienta que será necessário estabelecer novas formas de avaliação, acompanhamento e presença. “Não é igual a atividade presencial. No entanto, o Moodle é uma alternativa, já que, até o fim do ano, é difícil que a gente possa voltar para a sala de aula”, afirma. 

O professor explica também que, além das especificidades de cada aluno e disciplina, deve haver preocupação com as necessidades de cada professor. “Tem pessoas com mais idade que sentem certa dificuldade para se adaptar e vão precisar de mais e, apesar de não ser uma regra. Em geral, é um processo que requer mais atenção”, reforça. 

ADUnB se manifesta

A Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) preparou um documento abordar as condições para um retorno seguro das atividades acadêmicas. Entre as preocupações estão a situação de trabalho dos docentes e também o contexto em que se encontra o Distrito Federal.

“Nesse documento, feito por oito professores especialistas, nós abordamos questões relativas ao trabalho docente e à ibilidade às tecnologias digitais”, diz Luis Antonio Pasquetti, presidente da ADUnB. O presidente afirma que uma parcela dos professores não tem conhecimento sobre as ferramentas digitais. “Grande parte usado outras metodologias que não tecnológicas. Nós precisamos, de fato ter um treinamento e plataforma públicas digitais”, diz. 
 
Luis Antonio Pasquetti opina que, apesar de ser muito importante treinar os professores, isso ainda não é o suficiente para o retorno. “É necessário que o estudante tenha condições de ibilidade dos equipamentos e plataformas. Precisamos de investimentos nas universidades públicas para que elas consigam implementar essas tecnologias de maneiras que atinjam a todos”, defende. 

"Injusto e perigoso"

Em nota, a ADUnB diz que “o retorno imediato das aulas, ainda que remoto, é injusto e perigoso”. O texto menciona o movimento pelo retorno das aulas, na modalidade remota, ainda que essa decisão não tenha sido discutida nas instâncias deliberativas superiores da universidade. 

O documento cita também a notícia de que alguns departamentos e unidades já planejam o retorno, “sem qualquer decisão por parte da gestão superior e sem que sequer tenha sido finalizada a pesquisa, conduzida pela CCAR”. A associação ressalta a importância de se esperar uma decisão oficial do Cepe. 
 

Saiba Mais

 

A nota defende que qualquer opção de retorno deve “estar baseada nas condições reais de ibilidade e capacitação de professores e alunos”, além de cobrar a garantia dada pela Reitoria de que “ninguém será deixado para trás”. 

“Os exemplos que nos chegam das redes de educação básica mostram os prejuízos causados para estudantes mais pobres, com evidente aumento das desigualdades sociais existentes antes da pandemia. A ADUnB não compactuará com geração de mais desigualdades e quebra de isonomia”, afirma o texto. 

Confira nota oficial da Reitoria da UnB

“A Universidade de Brasília está planejando a retomada do calendário acadêmico, em diálogo com institutos e faculdades e com representantes de estudantes, técnicos e docentes. Como parte do planejamento, a instituição realiza, até 23 de junho, pesquisa social junto à comunidade. O objetivo é mapear as condições socioeconômicas, de saúde e de o e familiaridade a recursos tecnológicos, principalmente entre os discentes.

Isso é importante para que a UnB tenha a real dimensão de quantas pessoas precisarão de apoio para conectividade no caso de uma eventual retomada do calendário acadêmico, com a realização de atividades domiciliares. Ninguém será deixado para trás. A instituição trabalha para garantir equanimidade a todos. Também é importante ressaltar que não se trata de educação a distância, uma modalidade de ensino com pedagogia própria, mas da eventual realização de estudos em modo remoto, por um período determinado.

Nesse processo, outra preocupação é capacitar docentes para o uso de ferramentas de ensino e aprendizagem on-line. A Universidade ampliou a oferta de capacitação nessa área e tem a expectativa de formar pelo menos 600 professores até julho. Todas as ações estão sendo coordenadas pelo Comitê de Coordenação de Acompanhamento das Ações de Recuperação (CCAR), presidido pelo vice-reitor, Enrique Huelva. 

Esclarecemos, por fim, que ainda não há uma data para a retomada. Além da discussão com as unidades acadêmicas, o assunto deve ser objeto de apreciação pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), instância responsável pelas deliberações sobre o calendário.”

 
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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    Homem de perfil e mulher sorrindo ao fundo Foto: Helio Montferre/Esp. CB/D.A Press
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    Homem grisalho de óculos e camisa social; ao fundo, vê-se a logomarca da UnB Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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    Menina em frente à banner de apresentação Foto: Arquivo pessoal
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    Mulher no mezanino da Universidade de Brasília Foto: Arquivo pessoal
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    Jovem com adesivo colado na camisa escrito "eu defendo a educação" Foto: Arquivo pessoal
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    Mulher em sala de aula com microfone em mãos Foto: Arquivo pessoal
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    Homem discursando Foto: Arquivo pessoal

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