O Brasil registrou, em 2024, um recorde no número de transplantes com mais de 30 mil procedimentos realizados, segundo dados apresentados nesta quarta-feira (4/6) pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em Brasília. O crescimento de 18% em relação a 2022 supera os patamares pré-pandemia e revela um avanço importante no setor. No entanto, o número de doadores não acompanhou esse crescimento, e o país ainda enfrenta um grave gargalo. Cerca de 78 mil pessoas seguem na fila de espera por um órgão ou tecido.
Conforme o relatório da pasta, cerca de 85% dos transplantes realizados no país foram custeados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que destinou R$ 1,47 bilhão à área, um aumento de 28% em comparação a 2022.
Entre os órgãos mais transplantados, destacam-se os rins com 6.320 mil procedimentos, fígado com 2.454, córnea com 17.107 mil e medula óssea com 3.743 transplantes realizados. Mesmo com mais de 4 mil doadores efetivos, porém, o volume de doadores está praticamente estagnado em relação a 2023 e abaixo da demanda crescente.
Segundo o Ministério da Saúde, um dos principais obstáculos é a baixa autorização familiar. Em 2024, apenas 55% das famílias entrevistadas permitiram a doação dos órgãos de seus entes falecidos. Para mudar o quadro, o governo anunciou a criação do Programa de Qualidade em Doação para Transplante (PRODOT), que busca capacitar, monitorar e financiar equipes médicas que atuam diretamente nas entrevistas com os familiares.
Padilha apresentou outras estratégias para agilizar o processo de compatibilização entre doadores e receptores. A principal delas é a ampliação da chamada prova cruzada virtual, uma tecnologia que permite identificar a distância a possibilidade de rejeição do órgão. O exame, que hoje é feito apenas nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Piauí e Pernambuco, será estendido a outras regiões.
"Investir no transplante, além de salvar vidas, qualificar tecnologias, produzir conhecimento, qualificar os serviços, também gera uma melhoria de todo o atendimento especializado e nos ajuda a reduzir o tempo de espera, e nos ajuda a executar com mais agilidade o 'Agora Tem Especialistas' [programa lançado em maio deste ano para ampliar o o da população a consultas, exames e cirurgias]", frisou o ministro.
A pasta da Saúde também anunciou medidas operacionais, como reajustes de valores pagos pelo SUS nos líquidos de preservação de órgãos, que terão aumento de até 81%, e nos exames de compatibilidade imunológica, como o HLA. Além disso, o SUS ará a oferecer o transplante de membrana amniótica para o tratamento de queimaduras, além de autorizar oficialmente transplantes de intestino delgado e multivisceral, voltados a pacientes com falência intestinal irreversível.
Por fim, o Padilha comentou que uma plataforma nacional de pesquisa para xenotransplantes com suínos geneticamente modificados começou a ser estruturada, embora ainda esteja em fase inicial. Segundo o ministro, investir no sistema de transplantes é também uma forma de qualificar UTIs, laboratórios, serviços de urgência e ampliar a eficiência do programa “Agora Tem Especialistas”, lançado para acelerar o o da população a consultas e cirurgias.
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