
O projeto Tambor Groove vem sendo a prova de que a arte pode ser a força transformadora de vidas. Comandada por Francis Teles Magalhães, 42 anos, a iniciativa leva o ensino de repique, caixa, timbal, dobra, marcação de fundo e muito ritmo para pessoas de todas as idades da região de São Sebastião.
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A iniciativa de ensinar percussão para jovens e adultos do Distrito Federal começou em 2006, com o extinto Sons da Cidadania. Quando acabaram os patrocínios, Francis decidiu continuar por conta própria, levando para escolas do DF os ritmos que aprendeu com o Olodum, em sua terra natal, Salvador (BA).
Após seis anos levando música por conta própria para instituições de ensino, ele decidiu chamar um ex-aluno do Sons da Cidadania para dar continuidade ao projeto. "A gente teve que se virar para comprar peles, baquetas, roupas e tudo mais que era necessário", recorda o percussionista.
Atualmente, o Tambor Groove conta com 42 participantes, com encontros na praça do Jardim Botânico 3 e no Centro de Práticas Sustentáveis (S), no início do Jardins Mangueiral, onde conseguiram um lugar para guardar os instrumentos há três semanas. Antes, eram as casas de Francis e do coordenador do projeto que serviam de depósito para as percussões. "Não tem faixa etária específica. Qualquer um pode aprender com o Tambor Groove", avisa Francis. Os dias dos encontros podem ser conferidos no perfil @tamborgroove, no Instagram. "Temos vontade de voltar para as escolas", confessa o percussionista.
Os custos com o grupo são altos. "Só um par de joelheiras custa entre R$ 100 e R$ 150 reais", exemplifica. Para o Correio, ele mostrou a situação deteriorada de alguns instrumentos. O prazer com a arte é a maior fonte de força de vontade para continuar com o projeto. O ganha-pão vem da profissão que ele exerce como porteiro noturno, entre as 19h e 7h da manhã. A busca, hoje em dia, é por mais apoio financeiro.
Trajetória
Francis Magalhães é de Salvador, do bairro Liberdade, onde, ainda pequeno, gostava de fazer música com instrumentos improvisados, como pedras e pedaços de pau, em palcos também improvisados, em cima de carros. Para evitar reclamações, o tio, que era dançarino do Olodum, levou o menino para tocar na banda mirim do grupo. Após ar pelas formações juvenil e adulta do grupo, e, sendo destaque no som que comandava, recebeu o convite relâmpago para vir para Brasília fortalecer o Sons da Cidadania, em 2006. Na bagagem, na qual mal teve tempo de colocar as roupas, também trouxe os ritmos da Bahia para a capital.
Foi com o Olodum que ele teve a oportunidade de tocar com grandes nomes, como Márcio Victor (Psirico), Xuxa e Michael Jackson, quando foi gravado o clipe de They don't really care , nas ladeiras do Pelourinho, um dos clássicos do maior astro do pop de todos os tempos.
"Sou muito grato ao Olodum, porque tive a oportunidade de conhecer vários países e foi onde o mundo da música se abriu para mim". Com o grupo, ele levou música brasileira para países como Holanda, Bélgica, França, México, Espanha e Portugal.
Já sobre o Tambor Groove, a palavra que melhor traduz o sentimento de Francis é "aprendizado". "Tambor Groove significa hoje para mim um aprendizado de que a gente não sobrevive só por meio do dinheiro. Eu faço coisas por fora para trazer renda para o projeto e faço isso por prazer", revela. Nesses três anos, 120 pessoas já participaram da iniciativa. Se a contagem levar em conta a época em que ainda ia para as escolas, o número de pessoas alcançadas pelo Tambor Groove vai para casa dos milhares.
Dentro do projeto, há um grupo menor de profissionais que tocam em eventos como aniversários, casamentos e formaturas, o que acaba sendo uma forma, ainda que insuficiente, de levantar fundos.
Participantes
Mário Deogenes, 33 anos, começou a tocar com Francis nos tempos do Sons da Cidadania, quando tinha apenas 19 anos. Ele conta que, com o projeto, aprendeu conceitos musicais como temporização, afinação e notas. "Foi o que me tirou das más companhias, uma ocupação que eu tive quando tinha 19 anos. Eu me ocupava com música", lembra. Fora do Tambor Groove, o percussionista trabalha como vigilante. No grupo, o morador de São Sebastião toca surdo de fundo.
Maria Regina Lima de Sá, 21, toca o mesmo instrumento. Chegou no projeto no início do ano ado, motivada por uma paixão antiga por percussão. Desde criança ela via o irmão tocando em outro projeto semelhante ao que havia em São Sebastião.
Para ela, o valor mais importante que aprendeu com a iniciativa de Francis foi o de coletividade. "Dentro do Tambor Groove, a gente consegue aprender mais não só com as aulas do mestre, mas com as experiências dos outros percussionistas, e conseguimos fazer uma coisa muito bonita, que mexe comigo e me dá vontade de continuar. Coletividade é uma das coisas mais importantes do tambor Groove, que nos olha como potenciais", diz a trancista.
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