CEILÂNDIA 54 ANOS

Ceilândia recebe 6ª edição do Festival Hip Hop do Cerrado neste sábado

A 6ª edição do Festival Hip Hop do Cerrado acontece neste sábado com atrações musicais, além de muito break, artistas do graffiti e Djs conhecidos em todo o país

Raffa Santoro e Japão Viela: o rap como expressão estética -  (crédito: Luis Nova/CB/D.A Press)
Raffa Santoro e Japão Viela: o rap como expressão estética - (crédito: Luis Nova/CB/D.A Press)

Com a mesma idade de Ceilândia, 54 anos, Japão, do grupo Viela 17, faz parte da primeira geração de ceilandenses. Seu primeiro endereço foi na QNM 26, no ponto final dos ônibus, conhecido como "Vila do Cachorro Sentado" — o único lugar onde conseguiam embarcar sentados rumo ao Plano Piloto. Mas Ceilândia sempre foi muito mais do que transporte lotado. "Aqui, nada vinha de mão beijada, aprendemos a transformar cada dificuldade em uma nova forma de existir", relembra. E essa é a melhor lembrança que se pode ter de um lugar: aquela que molda quem a gente se torna.

Japão carrega Ceilândia no nome, na rima e na vida. Cresceu na cidade, quando o Setor O ainda nem existia, e guarda na memória os dias de infância, em que as dificuldades se transformavam em identidade. "Minhas memórias são vivas, pulsantes, cheias de poeira e alegria. Lembro-me dos amigos, das primeiras letras aprendidas na escola, das brincadeiras que transformavam concreto em aventura. Ali, a infância acontecia sem pressa, sem medo, com o riso ecoando alto", conta.

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Para ele, a cidade pulsa arte e resistência, mesmo sem o apoio necessário do poder público. "Quem conhece a quebrada sabe que, na raça e na criatividade, a cultura nunca morre. A Praça do Cidadão é prova disso: um verdadeiro palco de resistência, onde a comunidade faz acontecer, seja na arte, na música ou em manifestações. É um espaço que reafirma, todos os dias, que Ceilândia não precisa pedir permissão para existir", destaca. 

Festival

Neste sábado, dia 29, Ceilândia recebe, pela primeira vez, o Festival de Hip Hop do Cerrado. A sexta edição do evento, que antes acontecia no Plano Piloto, chega ao coração da periferia. Desde as primeiras edições, os idealizadores, DJ Raffa Santoro e Aninha, do grupo Atitude Feminina; conduziram a festa celebrando os quatro elementos do hip hop: rap, break, graffiti e DJ.

DJ Raffa Santoro, um dos idealizadores do festival, relembra a trajetória do evento. "Tenho 40 anos de hip-hop. Comecei dançando break, depois virei DJ e me formei engenheiro de som, produzindo rap. Em 2006, o Festival de Hip Hop do Cerrado nasceu de uma ideia da Aninha, do Atitude Feminina, e conseguimos realizá-lo na Torre de TV, dentro do Seminário de Dança, com apoio da Prefeitura do Conic", conta. Eles fizeram cinco edições no centro de Brasília até 2013, mas decidiram dar um tempo para focar em outros projetos. 

Agora, o festival retorna após 12 anos de pausa, prometendo ser histórico. Mais do que uma celebração do hip hop, será um presente para os 54 anos da cidade. "Essa mudança não é apenas uma questão de local, é um resgate, um reconhecimento do espaço que sempre ocupou dentro do hip hop. Aqui, o rap não é só música, é voz, é denúncia, identidade e história viva", finaliza Japão, um dos coordenadores do evento.

Presente

Hoje, o ceilandense ganhará um presente mais do que especial. Ao lado da estação de metrô Ceilândia Centro, será inaugurada a Casa do Hip Hop. Nomeada em homenagem ao falecido DJ Jamaika, o local pretende ser um centro cultural livre para todos os públicos. O espaço representa um território de resistência, identidade e valorização dos artistas locais, além de ser um ponto de encontro para a troca de conhecimento e oportunidades para a juventude.

Além de várias oficinas, o local pretende reunir acervos com registros históricos, promover eventos que resgatem a trajetória dos pioneiros e incentivar a produção de conteúdo sobre a cena com a nova escola e velha escola do hip hop.

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    Ao lado da estação de metrô Ceilândia Centro, será inaugurada a Casa do Hip Hop. Nomeada em homenagem ao falecido DJ Jamaika, o local pretende ser um centro cultural livre para todos os públicos Luis Nova/CB/D.A Press

Giovanna Sfalsin*
Luiz Fellipe Alves
postado em 27/03/2025 06:00
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