
"Papai foi médico durante a vida inteira. Ele fez mais de 10 mil operações ao longo da carreira, e era indiferente, para ele, o paciente ser famoso ou indigente. Fosse pobre, isso era indiferente. Ele foi o tipo de médico que não tinha consultório. Era dos médicos mais tradicionais: não estava preocupado em ganhar dinheiro, e, sim, em salvar vidas". Essa é a declaração de Fábio Pinheiro, engenheiro, e um dos três filhos de Francisco Pinheiro Rocha, morto na noite de sábado, aos 95 anos, por contusões decorrentes da queda de uma escada, na última quarta-feira.
Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês (unidade de Brasília). Com velório marcado para amanhã, na Paróquia São Camilo de Lellis (303/4 Sul), o ilustre médico será enterrado no cemitério Campo da Esperança, na ala dos pioneiros.
Secretário de Saúde de Brasília, entre 1964 e 1967, Francisco Pinheiro teve no currículo a operação de Tancredo Neves. Homenageado pelo SindMédico, foi tema de livro assinado pelo colega Gutemberg Fialho e batizado como "Dr. Pinheiro, o médico de Brasília". Francisco Pinheiro veio para a capital, em 1960, tendo sido cirurgião dos serviços médicos do Hospital de Base e da Câmara Federal.
À frente da Secretaria de Saúde, o médico — com domínio nas áreas de cancerologia, gastroenterologia e cirurgia geral — estabeleceu o Código de Saúde do DF, além de ter contribuído para a construção de vários hospitais em Brasília. Paraibano do interior (Uiraúna), ele se formou em Pernambuco, na época de completa escassez de faculdades de medicina no país. Em 1955, foi dos profissionais que inauguraram o cotidiano de residência no Hospital Federal dos Servidores de Estado do Rio de Janeiro.
Trazido para a Brasília, Pinheiro concluiu a construção do Hospital de Base (bem como do pronto-socorro). Esteve à frente da construção dos hospitais da L-2 Sul, do Gama e de Sobradinho. Além disso, ele, que foi Presidente da Fundação Hospitalar do Distrito Federal, abriu os caminhos para a instituição do Hospital Universitário de Brasília.
Em nota da Secretaria de Saúde do DF, estão exaltados feitos como gestor e educador. "Que sua memória seja uma fonte de inspiração", registra o texto, que destaca a sua "contribuição inestimável à saúde pública" e o classifica como "um ícone da medicina".
"Meu pai viabilizou o hospital para os alunos (em formação) e, como chefe de cirurgia do Hospital de Base, liderou todas as turmas, durante 30 anos de residentes em cirurgia, que foram formados por ele. Milhares de residentes e médicos foram formados por ele, como o cirurgião-geral Roland Montenegro Costa", conta Fábio Pinheiro.
Na vida pessoal, Dr. Pinheiro serviu de bússola na extensa família, fosse na capital, fosse entre os parentes nordestinos. "Meu pai é meu exemplo. Em toda a família, a gente estuda, trabalha e todos querem sempre fazer o melhor, como ele sempre fez. Teve uma vida extremamente rica, que serviu de exemplo importante para todos nós", conclui Fábio, que fala pelos irmãos, o engenheiro Marcos, 62, e a advogada Beatriz, 61, e pelos quatro netos.