
O Podcast do Correio de ontem recebeu o teólogo Vicente Paulo Alves, graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília, mestre em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. O especialista conversou com as jornalistas Cibele Negromonte e Paloma Oliveto sobre as expectativas ao redor do novo papa, Leão XIV.
Essa rapidez demonstra uma forma de a Igreja mostrar que não está fragmentada?
Com certeza, porque se tivéssemos um Conclave com mais de três dias — porque é obrigatório parar no quarto dia para orações —, estaríamos muito preocupados. A rapidez é um sinal de que, realmente, houve uma unidade de pensamento. Tenho certeza de que, com o número de votos, que eram 89 para atingir a maioria nesse primeiro conclave, que é o maior que já existiu, com 133 votantes, era de se esperar que tivesse um pouco de demora para alcançar um numero tão considerável. Mas significa, realmente, uma união, no segundo dia já termos um papa.
Quando o papa é escolhido, já aparece aí uma linha do que será seu papado. O que você pode nos dizer do Papa Leão XIII?
O Papa Leão XIII foi um papa revolucionário, que fez muita diferença. Com ele, começou o que nós denominados doutrina social da Igreja. Ele é contemporâneo da Revolução Industrial, daquele período em que os trabalhadores começaram a se organizar em sindicatos e a exercer a doutrina marxista muito forte. O Papa Leão XIII foi o que escreveu uma Encíclica chamada Rerum Novarum, Das Coisas Novas. Esse papa pontuou o primeiro direito dos trabalhadores, porque os trabalhadores, à época, não tinham nenhum direito. Olha que coisa interessante, o que o Leão XIV quer, agora, buscar lá na história do ado, uma ligação bem profunda com o Leão XIII, falando de coisas também novas.
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O que já podemos pensar do discurso sobre quem será o novo papa? Porque ele não era um nome que estava sendo muito citado. Aparecia em algumas listas, mas não era um dos nomes mais comentados. O que podemos tirar do discurso dele?
Eu gostei muito do discurso dele porque ele retomou muitas coisas do Evangelho. Ele ressaltou que Cristo foi o nosso primogênito, ou seja, aquele que deu início a todo o cristianismo. Isso é fundamental. Falou da paz, de construirmos a paz, de não termos medo. Ele citou Santo Agostinho, porque ele é Agostiniano. Ele falou uma frase muito interessante de Santo Agostinho, que é: "Para vocês, eu sou bispo, com vocês, eu sou cristão". Ou seja, ele já está se colocando na posição humilde, como também Francisco. Citou umas quatro ou cinco vezes o nome de papa Francisco. Falou que Francisco não conseguiu terminar a sua benção no dia do Domingo de Páscoa. Ele, de certa forma, falou que iria finalizar essa benção, ou seja, dar uma continuidade.
Deve ser um peso muito grande suceder Francisco neste tempo. Porque ao mesmo tempo que as pessoas estão esperando uma cópia, obviamente ele é uma outra pessoa. Como você acha que será isso?
Acredito que nestes primeiros dias, o Leão XIV deve fazer muita coisa de continuidade daquilo que Francisco fez, até que ele tenha mesmo autonomia para colocar as coisas do seu jeito, a sua personalidade, seu dom e carisma. Muitas coisas agora, nestes primeiros meses, serão de continuidade, não vamos sentir muitas mudanças. Mas estamos na expectativa, justamente pelo que ele falou e pelo seu posicionamento, de que a gente vá ter realmente um papa Francisco ainda mais engajado do que o papa Francisco, que nesse último ano, por causa da doença, já estava arrefecendo um pouco, devido à debilidade que ele estava.