
A educação midiática é a instrução que desenvolve habilidades para ar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático especialmente para os pequenos, a fim de evitar casos como a recente tragédia incentivada pelo desafio do desodorante, que vitimou uma criança de 8 anos no DF. O tema pautou o CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — dessa quarta-feira (15/5).
Aos jornalistas Roberto Fonseca e Ronayre Nunes, a presidente executiva do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco, comentou sobre a importância da família no processo de fiscalização do uso das redes sociais e os desafios advindos de uma geração nativa digital. Ela é a presidente do Encontro Internacional de Educação Midiática, evento gratuito que será realizado entre em 22 e 23 de maio.
Diante do caso recente ocorrido no DF, qual deve ser a postura da família, da escola e da sociedade? Como agir em situações como essa?
A educação midiática é o desenvolvimento de uma competência necessária, desde as crianças até a população acima de 60 anos, para identificar conteúdos que geram riscos e aproveitar as oportunidades do universo digital. Nesse caso específico, é preciso refletir: uma criança de 8 anos pode ter o a uma rede social com esse tipo de conteúdo? As redes sociais não foram construídas para crianças. Todas estabelecem idade mínima de 13 anos porque uma criança de 8 ainda não desenvolveu plenamente a capacidade de interpretação, nem de identificar riscos em informações, postagens ou vídeos. Outro ponto é o papel dos pais. É fundamental buscar os controles parentais e direcionar conteúdos adequados para cada faixa etária. É preciso olhar para esse ambiente digital com o objetivo de oferecer segurança e construir, progressivamente, a autonomia da criança, sempre respeitando a sua idade.
Crianças de hoje são nativas digitais, enquanto muitos pais e avós vieram de um mundo analógico. Como essa diferença gera riscos? A falta de letramento digital dos adultos prejudica a proteção das crianças?
Esse é um ponto fundamental. Muitos pais e responsáveis não entendem bem seu papel nesse contexto. Quantas vezes vemos pais, mães ou cuidadores imersos no celular, sem oferecer uma atenção qualificada aos filhos? Não se trata de culpar exclusivamente as famílias. A responsabilidade deve ser compartilhada entre famílias, empresas que oferecem os serviços digitais que podem criar filtros e os mais seguros, e a escola, que deve educar para o uso consciente dos dispositivos. A educação digital e midiática permite trazer conteúdos que mostram o que está por trás das redes, dos algoritmos, e ensinam como fazer uma leitura crítica do que se recebe. O governo também tem um papel importante ao criar políticas públicas e diretrizes para proteger a criança, que, embora seja nativa digital, é inocente digital. Costumamos dizer: se não deixamos uma criança de 8 anos sozinha em um cruzamento movimentado de uma grande cidade, por que deixá-la sozinha no ambiente digital, que também apresenta riscos? O ambiente digital tem muitas coisas positivas, mas também uma camada de risco da qual precisamos proteger as crianças. E o público 60+ também precisa ser acolhido com cuidado.
Quais cuidados específicos a educação midiática deve ter com esse público 60+?
É fundamental olhar para esse público com atenção. A pessoa idosa geralmente não tem a mesma agilidade no uso dos dispositivos eletrônicos e do ambiente digital. Por isso, é muito importante oferecer orientação para que ela aprenda a interpretar corretamente os conteúdos, saiba como se posicionar nas redes e, principalmente, como se proteger dos riscos. Esse público precisa ser acolhido com cuidado para que tenha mais segurança no uso das plataformas. Vemos muitos golpes circulando nas redes, e, embora todos estejamos sujeitos a eles, a população idosa é uma das mais afetadas. Por isso, investir na educação midiática para essa faixa etária é essencial.
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti
Saiba Mais
DESAFIO DO DESODORANTE
Sarah Raíssa Pereira morreu aos 8 anos de idade, em 13 de abril, após inalar spray de desodorante, supostamente ao participar de um desafio que circula nas redes sociais. O chamado “desafio do desodorante” consiste em inalar o produto em aerossol pelo maior tempo possível — uma prática perigosa e com potencial letal. Após sofrer uma parada cardiorrespiratória, Sarah foi levada ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Apesar dos esforços da equipe médica, que tentou reanimá-la por cerca de uma hora, ela não apresentou reflexos. A morte cerebral foi confirmada no mesmo dia e o óbito oficialmente declarado três dias depois. O inquérito aberto pela 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro) para investigar as circunstâncias da morte foi prorrogado. Ao Correio, a mãe da criança, Maria Fabiana Pereira, disse que esteve no Instituto Médico Legal (IML) e na delegacia, mas não obteve novidades sobre a apuração.