
"E se fosse no Brasil?" É a reflexão que o ativista brasiliense Thiago Ávila faz enquanto viaja à Faixa de Gaza em uma missão humanitária. Em alto-mar, ele falou com exclusividade ao Correio, sobre a jornada até o local disputado entre Palestina e Israel. Integrando a equipe de 12 voluntários, ele embarcou no domingo (1º/6) na missão da Coalizão Flotilha da Liberdade. Segundo o coordenador internacional da organização, o objetivo é romper o bloqueio imposto por Israel.
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"Estamos no quarto dia de viagem, na metade do caminho. Queremos levar ajuda humanitária, como alimentos, medicamentos, filtros de água, próteses e muletas para crianças que sofreram amputação", afirmou Thiago. O brasileiro conta ainda que a ideia é pressionar o "Estado genocida de Israel" a abrir um corredor humanitário para que mais barcos consigam levar ajuda para Gaza. "Não queremos que fique dependendo apenas do controle de Israel. Eles não têm a intenção de alimentar ou de sanar as necessidades daquele povo e, sim, de dominar e expulsá-los", declarou.
Essa é a quarta missão que o ativista participa em apoio a Gaza. "Me encontrei nesse processo de colaboração", comentou. Além das missões em Gaza, ele já participou de outras ações humanitárias, uma delas no Líbano. Para ele, o propósito de vida é servir à humanidade. "É um trabalho de formiguinha de quem está lutando para acabar com a exploração, as opressões e a destruição da natureza", afirmou.
Momentos de tensão
Em uma de suas redes sociais, ele publicou um vídeo com Greta Thunberg — outra ativista que integra o grupo da Coalização. Eles relataram que estavam sendo monitorados por drones na madrugada da última terça-feira (03/06). Veja o vídeo:
Apesar do clima hostil que permeia os voluntários, Thiago esclarece que toda a equipe ou por treinamentos para se proteger caso a situação saia do controle. "Nos preparamos para enfrentar quatro cenários distintos", disse. Os cenários que ele cita são:
- A embarcação ser parada no porto e não conseguir sair para a missão. Fato que aconteceu outras vezes;
- Chegar próximo a Faixa de Gaza e ser interceptado por Israel. O barco tem o controle tomado e os tripulantes presos, geralmente com violência, em uma unidade prisional em Israel até a deportação;
- Ataques de drones à embarcação, como a que aconteceu no início de maio com o barco Conscience.
- Conseguir chegar em Gaza e realizar a missão
Mesmo sob o risco de um cenário mais violento, a equipe é treinada para não reagir às agressões. Todas as missões realizadas pela coalizão têm o objetivo de denunciar o genocídio em Gaza e fazer uma documentação das violências. "Apostamos na visibilidade e na denúncia. Essas são a nossa maior defesa nesse momento", alegou.
Prevendo a ameaça dos drones, a equipe foi orientada a se preparar para possíveis ataques. "Temos protocolos de emergência justamente para situações como essa. Assumimos uma posição na parte superior do navio para se proteger caso o drone comece a atirar ou seja jogado no nosso barco", contou.
Um episódio parecido já aconteceu com Thiago. No início de maio, ele estava em outra missão quando o barco Conscience foi interceptado por um ataque de drone. "Já perdi muita gente que eu conhecia e que eu amava perto de mim, infelizmente. Eu sei muito bem o que a gente está indo enfrentar", relatou.
Thiago afirma que sabe do risco de morte e, para ele, ações mais violentas por parte do exército israelense já poderia ter sido tomada. "Sabemos que eles têm a capacidade de nos matar na hora que quiserem". Entretanto, isso poderia trazer ainda mais visibilidade para a missão, o que seria ruim para o Estado. "Eles só não o fazem por que sabem que será o pior erro da história sionista. Caso façam, pode ter certeza que vão ter mil flotilhas na semana que vem, preparadas para romper esse cerco ilegal", observou.
* Estagiários sob a supervisão de José Carlos Vieira