
Um artigo publicado nesta segunda-feira (26/5) pelo periódico Earth and Planetary Science Letters revela o que comia o tubarão pré-histórico Otodus megalodon, extinto há milhões de anos e conhecido por ter sido o maior peixe predador da história. Até o momento, sabia-se que o animal, que podia medir até 24 metros, se alimentava de mamíferos marinhos, mas o estudo recente de fósseis revelou outras presas.
Mais longo que um caminhão com reboque e com dentes triangulares que tinham o tamanho de uma mão humana, o megalodonte viveu nos oceanos da Terra entre 20 milhões e 3 milhões de anos atrás e consumia cerca de cem mil quilocalorias por dia. De acordo com o portal de divulgação científica EurekAlert, a mordida dele teria a força de uma prensa hidráulica industrial.
Até então, a ciência acreditava que a principal fonte de ingestão calórica do maior peixe predador da história eram as baleias. Pesquisadores da Alemanha, França, Áustria e Estados Unidos, porém, descobriram que ele se alimentava de “uma gama de presas muito mais ampla do que se supunha anteriormente”.
A descoberta ocorreu após exame de dentes fossilizados do megalodonte — praticamente tudo o que restou do animal extinto. Dos fósseis, foi extraído zinco, elemento obtido a partir da comida ingerida pelo predador. Esse método de análise é considerado “muito novo” e promissor por cientistas.
A partir da ingestão da comida, o corpo do animal processa dois isótopos diferentes de zinco: o 66, mais pesado, e o 64, mais leve. Os músculos e órgãos armazenam maior quantidade da forma mais leve e menor quantidade da forma mais pesada, mas, à medida que um predador come outro predador, recebe cada vez menos zinco-66.
Isso faz com que a proporção dos diferentes tipos de zinco no corpo de um animal revele em que posição ele estava na cadeia alimentar: quanto menor for a diferença entre as quantidades dos isótopos do elemento nos órgãos de um predador, mais alta é a posição dele na cadeia alimentar.
Os dentes — que guardam informação por milhões de anos — do Otodus megalodon e do Otodus chubutensis, parente também extinto, têm a menor proporção entre isótopos de zinco vista até então. Eles estavam, portanto, no topo da pirâmide.
“Como não sabemos qual era a proporção dos dois isótopos de zinco na base da pirâmide alimentar naquela época, comparamos os dentes de várias espécies de tubarão pré-históricas e atuais entre si e com os de outras espécies animais”, conta ao EurekAlert um dos pesquisadores. “Isso nos permitiu ter uma ideia da relação predador-presa há 18 milhões de anos.”
Com base no estudo da dieta dos animais que viviam nos mesmos locais em que os dentes foram encontrados, foi possível chegar à conclusão de que “o megalodonte era flexível o suficiente para se alimentar de mamíferos marinhos e peixes grandes, tanto do topo da pirâmide alimentar quanto dos níveis mais baixos — dependendo da disponibilidade”.
O cientista afirma que a teoria de que o maior predador do mar se alimentava apenas de mamíferos marinhos, como baleias ou golfinhos, precisa ser, portanto, revisada: “Nosso estudo tende a traçar um quadro do megalodonte como um generalista ecologicamente versátil”. Segundo o estudo, o tipo de presas — e a posição delas na cadeia alimentar — mudava, inclusive, de acordo com a região em que o animal estivesse.
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“Isso nos dá insights importantes sobre como as comunidades marinhas mudaram ao longo do tempo geológico, mas mais importante, o fato de que mesmo os 'supercarnívoros' não estão imunes à extinção”, finaliza outro pesquisador. Estudos anteriores indicam que o megalodonte teria sido extinto pela ascensão do tubarão-branco, que atualmente é o maior predador do mundo.
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