MEGATUBARÃO

Megalodon: a dieta secreta do maior peixe predador da história

A partir de análise de zinco em fósseis de dentes do 'Otodus megalodon', conhecido como megalodonte, foi possível descobrir quais eram as presas do gigante marinho 

This handout picture released by Metazoa Studio on November 25, 2020, shows an artist's impression of the prehistoric shark Otodus megalodon. The largest sharks ever to have roamed the oceans parked their young in shallow, warm-water nurseries where food was abundant and predators scarce until they could assume their title as kings and queens of the sea. But the reliance of Megalodon on nurseries may have contributed to the end of their 20-million-year reign, according to the research. Otodus megalodon -- sometimes classified as a Carcharocles megalodon -- took 25 years to become an adult --
This handout picture released by Metazoa Studio on November 25, 2020, shows an artist's impression of the prehistoric shark Otodus megalodon. The largest sharks ever to have roamed the oceans parked their young in shallow, warm-water nurseries where food was abundant and predators scarce until they could assume their title as kings and queens of the sea. But the reliance of Megalodon on nurseries may have contributed to the end of their 20-million-year reign, according to the research. Otodus megalodon -- sometimes classified as a Carcharocles megalodon -- took 25 years to become an adult -- "an extremely delayed sexual maturity", the authors said in the research paper. - RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / METAZOA STUDIO / HUGO SALAIS " - NO MARKETING - NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS / AFP / METAZOA STUDIO / Hugo SALAIS / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / METAZOA STUDIO / HUGO SALAIS " - NO MARKETING - NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS - (crédito: HUGO SALAIS)

Um artigo publicado nesta segunda-feira (26/5) pelo periódico Earth and Planetary Science Letters revela o que comia o tubarão pré-histórico Otodus megalodon, extinto há milhões de anos e conhecido por ter sido o maior peixe predador da história. Até o momento, sabia-se que o animal, que podia medir até 24 metros, se alimentava de mamíferos marinhos, mas o estudo recente de fósseis revelou outras presas. 

Mais longo que um caminhão com reboque e com dentes triangulares que tinham o tamanho de uma mão humana, o megalodonte viveu nos oceanos da Terra entre 20 milhões e 3 milhões de anos atrás e consumia cerca de cem mil quilocalorias por dia. De acordo com o portal de divulgação científica EurekAlert, a mordida dele teria a força de uma prensa hidráulica industrial. 

Até então, a ciência acreditava que a principal fonte de ingestão calórica do maior peixe predador da história eram as baleias. Pesquisadores da Alemanha, França, Áustria e Estados Unidos, porém, descobriram que ele se alimentava de “uma gama de presas muito mais ampla do que se supunha anteriormente”. 

A descoberta ocorreu após exame de dentes fossilizados do megalodonte — praticamente tudo o que restou do animal extinto. Dos fósseis, foi extraído zinco, elemento obtido a partir da comida ingerida pelo predador. Esse método de análise é considerado “muito novo” e promissor por cientistas. 

A partir da ingestão da comida, o corpo do animal processa dois isótopos diferentes de zinco: o 66, mais pesado, e o 64, mais leve. Os músculos e órgãos armazenam maior quantidade da forma mais leve e menor quantidade da forma mais pesada, mas, à medida que um predador come outro predador, recebe cada vez menos zinco-66. 

Isso faz com que a proporção dos diferentes tipos de zinco no corpo de um animal revele em que posição ele estava na cadeia alimentar: quanto menor for a diferença entre as quantidades dos isótopos do elemento nos órgãos de um predador, mais alta é a posição dele na cadeia alimentar.  

Os dentes — que guardam informação por milhões de anos — do Otodus megalodon e do Otodus chubutensis, parente também extinto, têm a menor proporção entre isótopos de zinco vista até então. Eles estavam, portanto, no topo da pirâmide. 

Pesquisador segura dente fossilizado de megalodonte
Pesquisador segura dente fossilizado de megalodonte (foto: Uwe Dettmar/Universidade Goethe)

“Como não sabemos qual era a proporção dos dois isótopos de zinco na base da pirâmide alimentar naquela época, comparamos os dentes de várias espécies de tubarão pré-históricas e atuais entre si e com os de outras espécies animais”, conta ao EurekAlert um dos pesquisadores. “Isso nos permitiu ter uma ideia da relação predador-presa há 18 milhões de anos.” 

Com base no estudo da dieta dos animais que viviam nos mesmos locais em que os dentes foram encontrados, foi possível chegar à conclusão de que “o megalodonte era flexível o suficiente para se alimentar de mamíferos marinhos e peixes grandes, tanto do topo da pirâmide alimentar quanto dos níveis mais baixos — dependendo da disponibilidade”. 

O cientista afirma que a teoria de que o maior predador do mar se alimentava apenas de mamíferos marinhos, como baleias ou golfinhos, precisa ser, portanto, revisada: “Nosso estudo tende a traçar um quadro do megalodonte como um generalista ecologicamente versátil”. Segundo o estudo, o tipo de presas — e a posição delas na cadeia alimentar — mudava, inclusive, de acordo com a região em que o animal estivesse. 

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“Isso nos dá insights importantes sobre como as comunidades marinhas mudaram ao longo do tempo geológico, mas mais importante, o fato de que mesmo os 'supercarnívoros' não estão imunes à extinção”, finaliza outro pesquisador. Estudos anteriores indicam que o megalodonte teria sido extinto pela ascensão do tubarão-branco, que atualmente é o maior predador do mundo. 

postado em 26/05/2025 19:24 / atualizado em 26/05/2025 19:25
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