
Com um tema que envolve ancestralidade, infraestrutura e questões socioambientais, o time de arquitetos escolhido para criar a exposição que ocupará o Pavilhão do Brasil na 19ª Bienal de Arquitetura de Veneza vai levar para a mostra um pouco da Amazônia e de estratégias milenares de interação entre o homem e o meio. Formados pela Universidade de Brasília (UnB) e à frente de escritórios instalados na capital, Luciana Saboia, Eder Alencar e Matheus Seco, integrantes do Plano Coletivo, deram à exposição o título de (Re)Invenção e foram buscar em um achado arqueológico as bases para ocupar as duas salas do pavilhão.
Carlo Ratti, curador-geral da Bienal, trouxe o tema Intelligens. Natural. Artificial. Collective e foi a partir dessa proposta que o trio brasiliense propôs (Re)Invenção. Os curadores brasileiros decidiram trabalhar com uma pesquisa recém-divulgada sobre a ocupação da Amazônia há 10 mil anos por povos muito mais antigos do que se sabia até então. "Populações ocuparam a Amazônia há 10 mil anos e se desenvolveram, o que modificou esse território. É como se a Amazônia também fosse um resultado da interação com essas populações. Existia uma população avançada e uma tecnologia", explica Matheus.
Por meio de imagens captadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), arqueólogos e pesquisadores descobriram estruturas que seriam pedaços de estradas, aterros, valas de proteção e até pequenas cidades datadas de séculos antes da chegada dos portugueses. A partir desse dado histórico, os curadores criaram uma exposição em dois atos. Entre as descobertas estão 24 geoglifos espalhados por áreas do Mato Grosso, Acre, Amapá, Amazonas e Pará. São eles a base para o projeto do primeiro ato de (Re)Invenção. "Estamos produzindo um material inédito, que será exposto pela primeira vez e de uma forma específica. A gente está redesenhando essas estruturas ancestrais da ocupação da floresta, usando madeira industrializada, certificada", explica Eder. "São paineis apoiados no piso e na parede, com uma grande cartografia dos geoglifos e a topografia com a escala de intervenções únicas desses lugares."
Aprender com as estratégias ancestrais e beber nessa sabedoria para mitigar questões que vão da infraestrutura à desigualdade é o tema da segunda sala, ou o segundo ato da exposição. "É uma leitura dessas pesquisas arqueológicas conectadas com projetos atuais. A conexão está no entendimento do que é infraestrutura, que não é algo novo e é ancestral, e que vai sendo retomado", explica Luciana. Como exemplo, ela cita a integração entre as estruturas arquitetônicas e os biomas que as rodeiam. "Essa leitura do território vem de uma leitura do que é infraestrutura, que vem das infraestruturas naturais, mas também da ocupação humana, de vivências, ocupações, fluxos e permanências que criam a modalidade como se fosse uma camada entre a floresta e o relevo", diz a arquiteta.