Crítica

Dolorida adaptação aos tempos: 'Amor' e 'Sexo' explodem no cinema escandinavo

Exibidos em dobradinha, Sex e Love integram uma trilogia sobre a contemporaneidade, na visão de Dag Johan Haugerud

Sex: parte de trilogia -  (crédito: Imovision)
Sex: parte de trilogia - (crédito: Imovision)

Crítica // Sex ★★★

Confissões de traições e uma atenção quanto à honestidade das relações amorosas. Fala-se de mulheres, não? Não, e de jeito nenhum, quando está em jogo o filme Sex (em nada erotizado ou gráfico), dirigido pelo norueguês Dag Johan Haugerud. Em certo momento da trama, há uma conversa absurda sobre "controle da narrativa", enquanto o protagonista Feier (Jan Gunnar Røise, vencedor do prêmio de melhor ator em Valladolid) revela abertamente arrependimentos quanto a uma escapadela no cotidiano de matrimônio junto à personagem de Siri Forberg. Entregar o corpo e o pensamento à ela a a ser meta, a fim de Feier buscar redenção. Sob o título de Sex, o filme, vale a lembrança faturou o prêmio ecumênico da mostra Panorama do Festival de Berlim.

No longa, desejos reprimidos são ados a limpo e sexo é o que menos aparece na tela. E, nisso, nos discursos (nunca panfletários) de personagens, brotam conceitos como o de que "homossexualidade não é identidade, é atividade" e que "olhares singulares (de terceiros)" podem ser revigorantes na libido, além de definitivos. Curioso é a modernização de dramatizações à la Bergman (outro cineasta escandinavo), que vem reajustada, sem muito julgamento (inicialmente) e repleta de preocupação com o bem estar dos protagonistas, que incluem outro casal (feito por Thorbjørn Harr e Birgitte Larsen).

Num clima apaziguador, o cinema de Dag Johan é relaxante, evita escândalos e convida à tolerância, num andamento em que Oslo vem enquadrada à distância e plácida, tal qual nos filmes do francês Robert Guédiguian. Uma grande inovação está na visão de personagens heterossexuais atentos a não "se limitar" ou "se restringir". O personagem de Thorbjørn até gera alguma graça, por perceber que ele (cristão, que canta em coral) está com a voz modificada, ao o em que tem sonhos no qual é reconhecido por David Bowie, que o enxerga como mulher. Outro fragilizado na trama é o personagem de Theo Dahl (filho da provocativa Sosionom, feita por Brigitte) que traz a mão machucada e acolhe um exemplo feminino, a fim de ter um canal no YouTube.

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Diretor que conquistou menção pela direção no Festival de Odesa, Dag Johan Haugerud revela desentendimentos, a partir de exagerada intimidade na amizade que pode influenciar casais. Repare na interessante história que une tatuagem e o famoso arquiteto Frank Lloyd Wright, numa breve crônica recheada de intensidade.

Crítica // Love ★★★★

Enquanto não se tem o ao mais recente filme de Dag Johan Haugerud, Dreams, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, a distribuição brasileira dos longas anteriores do ex-bibliotecário norueguês que abraçou o cinema como profissão vem esmerada. Junto com Sex (em cartaz), que compõe trilogia com Dreams, Love chega às telas, depois de indicado ao Leão de Ouro e ao troféu Queer do mesmo Festival de Veneza.

A primeira cena, em Oslo, é extremamente divertida quando, inadvertidamente, a personagem Heidi (Marte Engebrigtsen), que trabalha na prefeitura, pré-seleciona monumentos para um roteiro de celebração de aniversário, mas, a toda a parada (para explicar a obra), se vê motivada por contexto sexual. A sequência é bem engraçada e aponta o tema de fundo do longa: o amor e, sim, o lugar do sexo, em toda e qualquer relação social.

Vencedora do Dragon Award do Festival de Gotemburgo (Suécia), Andrea Braein Hovig interpreta a médica Marianne, bem displicente com a vida amorosa. Ele se revela interessada no geólogo Ole (Thomas Gullestad), esse, em busca do terceiro casamento. No afunilamento da trama, a médica especializada em urologia começa a criar uma profunda intimidade com o enfermeiro Tor (Tayo Cittadella Jacobsen), adepto de eios noturnos de balsa e constantes mexidas no aplicativo Grindr.

Com diálogos naturais e situações istradas com extrema maturidade pelos personagens, Love é exemplar, até mesmo na convencional edição que ajusta pequenos dramas pessoais a uma visão de conjunto que cria pleno sentido para o filme. A cada desafio, numa sociedade avançada e de conjuntura privilegiada, os protagonistas recondicionam a suposta obrigação de seguirem convenções sociais. Com o personagem Bjørn, prestes a perder a próstata, o ator Lars Jacob Holm brilha, junto com Cittadella Jacobsen. (RD)

 

 

 

postado em 11/04/2025 18:11 / atualizado em 11/04/2025 19:49
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