Há cinco anos um canto bonito de uma sereia com sotaque baiano conquistou o Brasil. Rachel Reis, natural de Feira de Santana na Bahia, furou a bolha e fez sucesso nacional mesmo fora do Eixo Rio-São Paulo. Muito pouco após começar na carreira musical, ela emplacou o primeiro sucesso nacional com Maresia, em 2021. Liberou o álbum Meu esquema em 2022 e agora apresenta ao público o disco seguinte Divina casca, disponível nas plataformas digitais.
Foram cinco anos intensos. A cantora ou de uma completa anônima para um dos nomes mais falados da nova geração da música nacional. Apenas Maresia a das 30 milhões de reproduções. O disco Meu esquema ganhou edição em vinil, Rachel foi vencedora de Artista Revelação do prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e as música lançadas receberam elogios de artistas e famosos. "Outro dia Daniela Mercury me convidou para fazer uma música com ela, já posso falar que ela é minha amiga pessoal (risos), brinca a cantora, em entrevista ao Correio. "Foi me apresentar para o Lázaro Ramos e ele falou: 'Menina! eu sei quem você é. Minha playlist só tem música sua", conta também dizendo estar lisonjeada.
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Porém, Rachel acredita que esse crescimento só existe porque ela foi fiel e honesta consigo mesma e com o que desejava falar. "O número é maravilhoso. Adoro o prêmio, adoro o número e adoro reconhecimento. Mas não pode ser a minha força motora. Isso tem que ser uma consequência, se for legal. Mas a minha mensagem, o que é meu de genuíno, tem que ser preservado. Então, eu tento caminhar nesse percurso", explica a cantora.
Nessa toada veio o disco Divina casca, uma forma dela de se aprofundar nos sentimentos e na musicalidade que já tinha para dar continuidade ao grande sucesso. "O Meu esquema é um álbum muito mais doce, muito mais leve. Nesse. eu me aprofundei mais em mim mesma", avalia. "O disco foi se tornando essa coisa mais pessoal. Eu fui me abrindo mais a trazer coisas mais específicas sobre mim", complementa Rachel.
O principal tema segue o favorito da cantora desde o início: o amor. No entanto, a visão sobre é mais madura. "Eu sempre tratei muito sobre amor. Eu continuo falando sobre amor. Nesse álbum, ele mantém a parte doce dele. Mas, ao mesmo tempo, que eu trago uma visão um pouco menos ilusória", analisa.
A artista se incomoda com o fato de que existe uma idealização do ato de amar, e, principalmente, que a figura dela não é relacionada pelo público com o amor. "Desde que comecei, fico ouvindo uma história de: 'nossa, uma mulher negra falando sobre amor' como se fosse proibido para uma mulher negra amar. Então, nesse álbum, tento trazer uma nova visão de amor, mais pessoal", conta. "O amor pode ser malandro, pode ser manhoso, pode ser cheio de gingado. É a descaracterização desse amor. Quando as pessoas pensam sobre amor, o que as pessoas imaginam logo de cara? Quis brincar, trazer as mensagens que eu queria, acertar o tom, entender a sonoridade desse amor", completa.
Todas essas características só foram possíveis porque a artista buscou sempre levar o segundo disco como uma consequência de um processo e não como a responsabilidade de mais sucesso. "É um disco que foi feito com muita tranquilidade. Eu consegui manter de forma linear o processo. Não foi um processo que me preocupou quando eu estava construindo", comenta.
Dessa forma, há toda a empolgação de mostrar algo novo para o público que a acompanha, mas sem o peso de ter que acertar um hit ou se equivaler a uma própria versão de um ado próximo. "Rola aquele friozinho para trazer músicas novas. Mas no sentido da pressão, não aconteceu, porque eu consegui me dar o tempo que eu precisava, consegui viver também e deixar percepções mais claras para poder trazer para o álbum", acredita.
A grandeza do apelido
Rachel Reis ganhou o apelido de "sereiona" pela imponência no palco, pelos longos cabelos encaracolados e a voz encantadora. Entretanto, ela acredita que foi tudo parte de uma construção gradual. "Desde que lancei a minha primeira música, eu não parei de trabalhar. E além do verdadeiro, do sentimental, do espiritual, que realmente é ter essa troca com o público, escrever as músicas, estar no palco, Isso para mim, é muito mágico. Tem um processo muito árduo de trabalho ali por trás, que é muito grande", reflete.
A cantora lembra que ia para os shows para emitir sons e entreter as pessoas que pagavam o ingresso. "Era, literalmente, isso que eu ia fazer, não tinha noção de um show de me divertir no palco. Então eu senti que essa construção foi sendo feita ao longo desses cinco anos de aprendizado", percebe Rachel. "De me entender como artista, de entender para onde eu quero que minha carreira vá. Qual é a mensagem que eu quero transmitir? O que é que eu quero simbolizar? Se eu quero simbolizar, se eu não quero simbolizar, é muito importante para mim", acrescenta.
Só assim ela virou a sereiona que, atualmente, tem um show próprio para comemorar o dia de Iemanjá em Salvador e que tocou nos principais palcos de festivais do Brasil. "Essa insegurança de estar no palco tem pouco tempo que eu quebrei, que eu tenho quebrado. Ouvir que eu estou grandona no palco é ótimo, porque mostra que está dando certo", destaca.
Carregando um legado
Rachel não é a primeira da família a cantar. A artista é mais uma de uma geração que cresceu na mesma casa em Feira de Santana. Ela cresceu vendo a mãe cantar seresta em bailes pela cidade e tem uma irmã que seguiu para o lado do forró. "Hoje, tenho essa sorte, esse privilégio de ter internet e de poder pesquisar e de estudar e de conseguir resolver as minhas coisas muito rápido, de me conectar muito rápido com as pessoas. Mas a minha mãe não teve isso, então foi uma mulher preta, nordestina, cantando músicas românticas, cantando de tudo. Inclusive, essa mistura que eu faço vem muito dela", pondera.
A mãe dela encerrou a carreira nas serestas quando Rachel ainda era uma criança e ou a cantar só na igreja. Contudo, o fato não impediu que ela sentisse orgulho da trajetória da filha. "Ela acha chique, ela adora se mostrar. Ela fala para todo mundo 'a minha filha está com música na novela'. Eu amo", conta. "Meu pai também. Ele ama demais. Inclusive, não pode ter uma música minha em novela, que ele só dorme quando toca. Se não tocar, a Globo vai ter um problema diretamente com ele", adiciona.
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