
Este tem sido um ano festejado para Camila Pitanga — e para a base de fãs que acompanham a atriz em seus 32 anos de carreira desde a estreia na televisão. Após um intervalo de nove anos sem dar as caras na teledramaturgia da tevê aberta, ela está de volta às novelas. E em um retorno duplo, já que emenda o sucesso estrondoso com a adorável e execrável vilã Lola, de Beleza fatal — novelão de 40 capítulos de Raphael Montes que está desde janeiro na plataforma Max —, com uma participação especial como Ellen, em Dona de mim, de Rosane Svartman — que estreou na última segunda-feira na faixa das 19h da TV Globo.
Beleza fatal marcou o retorno de Camila às novelas desde que viveu a mocinha Tereza, de Velho Chico, em 2016, também na Globo. Com a trágica morte do companheiro de cena Domingos Montagner (1962-2016), ela sentiu necessidade de se distanciar dos holofotes. "Precisei parar tudo, respeitar o luto e recomeçar", argumentou a atriz, que também é diretora e produtora.
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Nesse intervalo, a geminiana engajada em causa sociais tornou-se a primeira personalidade das Américas a ser nomeada Embaixadora da ONU Mulheres e dirigiu, com Beto Brant, o documentário Pitanga, uma homenagem à carreira de seu pai, o ator Antônio Pitanga, que ganhou o prêmio de Melhor Filme Brasileiro na 40ª Mostra de Cinema de São Paulo. Além disso, fez peças de teatro e atuou no streaming, nas duas temporadas da série Aruanas, uma produção original do Globoplay, lançada em 2019.
Mas como o bom filho sempre à casa torna, a atriz formada em artes cênicas pela Unirio cedeu ao desafio de voltar para as novelas compondo uma vilã horrível, porém com humanidade. "Lola é odiosa, faz coisas horríveis que estão muito distantes da minha realidade. Não é a minha primeira vilã, a própria Olga de Aruanas era péssima, mas eu me apaixonei pela Lola e pelo desafio de colocar humanidade nessa mulher capaz de atos tão cruéis. Ela é uma mulher que comete crimes e apronta atrocidades, mas também apanha muito por causa da vingança da Sofia (a mocinha vingativa vivida por Camila Queiroz). Ela a por um processo de reinvenção, mas nunca com redenção. As maldades só pioram", explicou.
Sucesso nas redes sociais
Camila se impressionou com o sucesso de Beleza fatal. A primeira novela produzida pela Max no Brasil está disponível para toda América Latina, Estados Unidos e Portugal — e figura no top 5 da plataforma. Mas o que mais chamou a atenção é a repercussão nas redes sociais. "É uma loucura! O público on-line fez outras novelas a partir da novela. Tem sido muito divertido acompanhar tudo o que está saindo nas redes", comemorou a atriz de 47 anos, que teve o retorno ao ar tão festejado pelo público, especialmente LGBTQIAPN+.
Inclusive, a intérprete da proprietária da clínica de estética Lolaland, que defende "um Brasil harmonizado", aclamada como "um ícone gay", assistiu ao último capítulo da novela em uma casa noturna de São Paulo. "Não foi fácil interpretar uma personagem tão complexa, gravar tantas cenas que iam do amor ao assassinato, mas eu me diverti demais e fico realmente emocionada com esse carinho. É muito gratificante e me estimula a aceitar cada vez mais trabalhos felizes como este", destacou.
A vilã tão cruel quanto carismática do folhetim assinado por Raphael Montes, da série Bom dia, Verônica, da Netflix, é cúmplice de um crime ocorrido na clínica de cirurgia plástica onde trabalha, mata o marido, induz a prima, que trata como empregada, a assumir o crime e "escraviza" uma criança — isso, somente na primeira fase. Mas Lola é uma mulher bissexual, despudorada e divertida seguida por milhares de pessoas, e um dos momentos mais icônicos é quando reproduz frases emblemáticas de Bebel, sua personagem memorável de Paraíso tropical, da Globo, como: "cueca maneira" e "que boa ideia esse casamento primaveril em pleno inverno."
A prostituta criada por Gilberto Braga em 2007, aliás, foi o ponto de virada de Camila Pitanga, que não somente ou a protagonizar novelas seguintes como comprovou, neste trabalho, a versatilidade que permitiu a ela, quase 20 anos depois, compor uma personagem parecida sem cair no estereótipo. "Bebel era uma mulher amoral, mas havia nela uma ingenuidade que levou o público a torcer em seu favor e perdoar os deslizes cometidos. Já a Lola é uma Bebel mais madura, mais safa, e bem mais maliciosa", pontuou.
Altos e baixos
Camila estreou na televisão na minissérie Sex appeal (1993) e esteve em trabalhos importantes, como Fera ferida (1993), A próxima vítima (1995), Malhação (1996), Pecado capital (1999), Porto dos Milagres (2001), Mulheres apaixonadas (2003), Belíssima (2005), Cama de gato (2009), Insensato coração (2011) e Lado a lado (2012), que venceu o Emmy Internacional de Melhor novela. Os dois últimos produtos protagonizados por Camila, entretanto, não deixaram boas memórias. Antes do dramático desfecho de Velho Chico, um ano antes, Babilônia, que a atriz encabeçou ao lado de Glória Pires e Adriana Esteves, foi um fracasso retumbante.
Ela viveu Regina, uma mulher de comunidade batalhadora, que se contrapunha às rivais de péssimo caráter, mas o último folhetim criado por Gilberto Braga foi duramente atacado pelo público logo no primeiro capítulo, quando foi exibido um beijo entre duas senhoras lésbicas interpretadas por Fernanda Montenegro e Nathália Thimberg. "Houve uma rejeição forte, e isso comprometeu o processo. Mas a equipe deu o seu melhor, dignamente, do início ao fim. E todo mundo aprendeu muito ali, porque a gente também aprende quando flopa", é o que a atriz defende sempre.
O retorno à Globo veio quatro anos após o rompimento do contrato de longa duração com a emissora. Em Dona de mim, ela vive Ellen, uma personagem importante para o pontapé inicial da novela, que morre no primeiro capítulo, mas segue no ar em flashbacks. Mãe biológica de Sofia (Elis Cabral), trabalhava na contabilidade da empresa Boaz e salvou a vida de Abel (Tony Ramos), quando ele enfrentava um momento difícil e decisivo, e procura o poderoso empresário quando chega na fase terminal de um câncer que vem tratando, pedindo a ele que crie a sua filha.
"Eu gosto de bons personagens, que me desafiem. Ellen é totalmente o oposto da Lola, e é bacana que ela tenha vindo na sequência, para me provocar como atriz e também para trazer esse contraste para o público", argumentou a atriz, que é mãe de Antônia, 16, e aguarda o lançamento do filme Malês, dirigido por seu pai, que, coincidentemente, também fez uma participação especial no primeiro capítulo de Vale tudo. "Meu pai é uma inspiração. Ele tem 85 anos e não quer parar de trabalhar. Ao contrário, sempre tem um projeto novo", finalizou a filha orgulhosa.