
Foi o incentivo de amigos editores que levou Ary Quintella a reunir em livro os 32 textos publicados ao longo de sete anos em uma página pessoal na internet. Com o título de Geografia do tempo, a obra será lançada na quarta-feira, na Livraria Travessa do Casa Park. Diplomata de carreira, Quintella sempre gostou de escrever textos que mesclam episódios autobiográficos com observações pontuadas por perspectivas filosóficas, humanas e históricas.
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Um misto de crônica e ensaio, Geografia do tempo é também um livro pessoal e afetuoso. "A tônica principal do livro, alguns acham que é sobre minha vida, outros acham que é sobre a vida de maneira geral. Obviamente, falo das minhas vivências, mas não é, necessariamente, autobiográfico. Tiro minhas conclusões sobre a vida e comunico ao leitor", explica o autor. Como abrangem um período longo de tempo, os textos são variados e muito influenciados pelo momento em que foram escritos. "Os textos escritos durante o confinamento da covid-19, por exemplo, têm preocupações diferentes dos textos de antes da pandemia. E são muito influenciados pelas minhas viagens e meu local de residência. Alguns foram escritos em Brasília e outros, na Malásia", explica Quintella, que hoje mora em Angola.
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Os aspectos autobiográficos estão muito presentes, mas não há intenção alguma em ser um livro de memórias ou uma autobiografia. "É uma visão parcial das minhas percepções sobre a vida", avisa o autor, que também ite ser o afeto uma espécie de guia. Quintella é categórico ao explicar que não escreve sobre coisas, situações, livros ou pessoas das quais não gosta. "E, embora seja um livro em que a morte também está muito presente, porque é um dado que faz parte da vida, sempre procuro nunca ter uma visão negativa das pessoas, das coisas da vida, porque não quero perder meu tempo escrevendo sobre coisas das quais não gosto. Então, mesmo quando falo da morte, procuro falar da vida", diz.
Assim, há belos textos que citam episódios trágicos, como a morte do irmão adolescente ou a perda de sucessivos bichos de estimação, que sempre rodearam o autor ao longo da vida. Mas há também reflexões sobre livros, filmes e cultura de modo geral, sobre países e aspectos mais filosóficos da vida. A longa viagem da velha gata Kiki até Kuala Lumpur, que se tornaria a base de Quintella durante a pandemia, o fascínio causado pela leitura do romance Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas, as lembranças de uma das casas da infância, na Bélgica, ou das bibliotecas da família, que sofreram drásticas mudanças ao longo do tempo, aparecem como pretextos para também falar das relações afetuosas e das referências intelectuais.
Geografia
do tempo
De Ary Quintella. Andrea Jakobsson Estúdio, 240 páginas. R$ 71. Lançamento na quarta-feira, às 19h, na Livraria da Travessa (Shopping CasaPark)