
A curadora Madá Granja tem observado uma presença cada vez mais constante de temas religiosos nas obras de jovens artistas contemporâneos, por isso decidiu levar um conjunto de 30 trabalhos baseados nessa temática para o subsolo da galeria deCurators. No total, a curadora convidou 16 artistas de Brasília para participar da exposição Missa, que faz uma analogia à liturgia católica ao mesmo tempo em que explora a intersecção entre arte e religião. "A exposição faz uma analogia com a própria igreja. Entrar em uma galeria de arte também é um ato religioso, é um espaço de reverência, o público tem que desacelerar e participar de uma forma devota. Então pensamos a galeria como esse espaço religioso, consagrado. E nisso fui buscando obras", avisa a curadora.
Apenas dois artistas convidados não são do Centro-Oeste. A curadora conta que, inicialmente, queria uma produção com uma certa seriedade religiosa mas, aos poucos, mudou de ideia devido ao lugar. Antes de se tornar uma galeria, o subsolo da deCurators era ocupado por uma casa de massagem erótica. "Fui vendo que esse lugar da galeria também pode ressignificar o próprio sagrado. As obras exploram a sacralidade de forma mais expandida e misturam tanto a tradição quanto a invenção. Usam os símbolos de forma subjetiva", conta Madá.
As obras, segundo ela, falam da sacralidade de forma reinventada. O altar dá lugar a narrativas subjetivas. "E como a gente encontra muito na estética católica brasileira, que é kitsch e exuberante, com cores vivas e muita justaposição de elementos, busquei trazer tudo isso para dentro da exposição", diz. É um sagrado ornamentado, intenso e, de certa forma, contraditório. "A gente está chegando na quaresma, que é um período de renúncia, reflexão, então, esse período da quaresma também serve de pano de fundo para a exposição, para a gente ver o que é o sagrado, a liturgia, a oferenda, o sacrifício", explica a curadora.
Para Madá Granja, a arte tem, entre outros, o papel de rever símbolos e conceitos difundidos na sociedade. "Por influências de bienais e outros eventos onde o espiritual está sendo muito abordado, é um imaginário comum dos artistas. E se apoderar desses símbolos e deslocá-los para fora da igreja, trazer para o mundo da arte, é uma uma tendência. Os artistas jovens parecem ter essa sede de afirmar e ocupar os espaços que foram negados a eles", aponta a curadora.