
"Este país está podre". Essa frase, falada pela personagem Erzsébet, vivida por Felicity Jones, poderia expressar qualquer momento dos Estados Unidos quando o assunto é imigração. Em um mundo em que os imigrantes nos EUA vivem um profundo desconforto e uma enorme incerteza, O brutalista chega como um dedo na ferida em um tópico extremamente sensível.
Tecnicamente exemplar, com uma direção ímpar de Brady Corbet e um roteiro que entrega tanto no dito, quanto nas entrelinhas, o longa tem a intenção de ser diferente daqueles que ocupam as salas de cinema. Tudo no filme é pensado nos mínimos detalhes, tudo é uma referência. Nem as 3h36 de duração são desnecessárias, apesar dos 15 minutos de intervalo ajudarem o público a não sentir o tempo ar.
A trama acompanha o arquiteto húngaro Laszlo Toth que precisa fugir da terra natal por conta da Segunda Guerra Mundial e busca no refúgio o sonho americano. Após viver em condições sub-humanas, ele encontra a chance de fazer a maior obra da carreira e da própria vida graças ao mecenas Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce).
Apesar de ser uma ficção, o filme fala muito da experiência judaica real nos EUA do pós-guerra. É um retrato do que é se sentir um alienígena e culpado por não estar agradecido ao mesmo tempo. Sem o país, Laszlo talvez não conseguisse viver, mas as condições a que ele precisa se submeter estão longe da humanidade. Afinal, o brutalismo existiu e foi um movimento arquitetônico que surgiu da escassez de materiais e recursos no pós-guerra. O concreto era aparente, a cor era o cinza e a realidade era dura.
As atuações são essenciais para transmitir as sensações que foram imaginadas para a história. Adrien Brody é a representação do dilema do imigrante, que é grato, mas não bem-vindo. Jones faz o copo sempre meio cheio, um otimismo dos novos começos. Pearce é a personificação do dominante, do opressor e do mal.
Um filme como esse ser lançado e concorrer a 10 estatuetas no Oscar em meio a um momento em que os policiais tiram pessoas das casas que moram, pagas com trabalho árduo e, muitas vezes, primário e braçal, nos Estados Unidos, é um recado. O sonho americano é uma lenda e a vida do imigrante sempre foi brutal.