
Em Brasília, o carnaval não acabou. Neste fim de semana, o estacionamento do Mané Garrincha se transforma na versão brasiliense do Circuito Barra-Ondina, com trios elétricos, abadás exclusivos e uma line-up de peso. A tradicional Micarê começa hoje, com shows de Bell Marques, Banda Eva, Xanddy Harmonia e Tomate, e se estende até amanhã, com Durval Lelys, Timbalada e Rafa e Pipo.
"O carnaval tem esse clima de celebração que parece que nunca vai terminar", declara Bell Marques, que se apresenta nos dias de evento. Em 2025, a folia ganhou um significado mais especial — são celebrados os 40 anos de axé music e os 75 do trio elétrico. "Eu gosto de dizer que o axé é MPB. Não tem nada mais popular e brasileiro do que a música que vem da rua, anima as pessoas e as deixa felizes", opina o ex-vocalista da banda Chiclete com Banana.
"Por acaso, no caminho, deram esse nome, axé, de início de forma pejorativa com o que vinha da Bahia, sem saberem que marcaria tanto a história da música nacional", acrescenta o cantor. Com 45 anos de carreira, o artista garante: "Muita coisa mudou, mas até hoje o frio na barriga ao dar os primeiros acordes em cima do trio existe".
À frente do Timbalada, Denny Danan faz parte do universo do axé desde criança. "Ainda pequeno, lembro de ver aquele mar de gente pulando e dançando atrás de um "caminhão", como se os problemas não existissem. A cada canção era uma emoção diferente. É algo inexplicável. Uma sensação única", diz.
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Durval Lelys, ex-líder do Asa de Águia, define a primeira lembrança em cima de um trio como "surreal". "Foi o meu primeiro convite para tocar com cachê e, na época, eu tinha uma banda de rock. Para não perder essa oportunidade, chamei mais três percussionistas e misturei o meu rock'n roll com as batidas dos tambores da Bahia. Foi aí que nasceu meu "rockaxé"", relata o baiano.
"Foi uma mistura inusitada de guitarras e teclados eletrônicos com as percussões baianas. O Asa, desde o primeiro disco, representava essa essência. Temos o rock na veia e o adaptamos à música baiana por conta da nossa atividade em cima dos trios elétricos", explica o cantor.
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Com a banda, Durval foi um dos precursores da expansão dos carnavais fora de época pelo Brasil, como o deste fim de semana. "Levamos essa essência baiana de bloco, de micareta", afirma o vocalista. "Em Brasília, fomos pioneiros com a Micarecandanga", destaca.
Segundo o cantor, tal expansão foi responsável pela nacionalização e internacionalização do estilo musical. "Corremos por vários continentes, fomos dos Estados Unidos ao Japão levando esse som. O axé hoje, junto com todas as bandas e artistas que fazem parte da minha geração, contribuíram muito para que esse movimento conquistasse o mundo por meio do carnaval", opina.
"Cantar, dançar e pular na avenida sempre leva o folião a um prazer imensurável, e nós, cantores e músicos, levamos para eles a essência desta festa. O axé music traduz exatamente esse sentimento nas pessoas", finaliza Durval.