
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou na segunda-feira (24/3) em Tóquio, acompanhado de uma comitiva de ministros e parlamentares, para dar início a uma intensa agenda em visita ao Japão. A viagem oficial simboliza a retomada e o fortalecimento dos laços entre os dois países, que em 2025, comemoram 130 anos de relações diplomáticas.
O primeiro compromisso do chefe do Executivo brasileiro foi a Cerimônia de Boas-Vindas no Palácio Imperial, onde foi recebido pelo imperador Naruhito e pela imperatriz Masako. Ainda na noite de ontem, houve um jantar oficial em homenagem ao presidente brasileiro realizado no mesmo local.
O petista terá um dia ainda mais movimentado nesta terça (25), quando se reunirá com sindicatos japoneses e participará do Fórum Empresarial Brasil-Japão, onde estarão presentes empresários de setores estratégicos, como agronegócio, energia, siderurgia e logística. No fim da tarde, o presidente tem encontro marcado com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, no Palácio Akasaka. Após a reunião, ambos participarão da Cerimônia de de Atos e de um jantar oferecido ao chefe de Estado brasileiro e sua comitiva.
Entre os temas centrais da visita, destacam-se a ampliação do comércio bilateral e a atração de investimentos japoneses para o Brasil. Atualmente, a balança comercial entre os dois países gira em torno de US$ 11 bilhões anuais, mas Lula acredita que esse volume pode crescer significativamente. "O Brasil e o Japão têm uma relação comercial de US$ 11 bilhões. É pouco para a grandeza do Japão e do Brasil", afirmou o presidente na semana ada, em entrevista a veículos de comunicação japoneses.
Acordos bilaterais
Durante a viagem, devem ser assinados acordos bilaterais em áreas como ciência e tecnologia, educação, pesca, recuperação de terras agrícolas e, principalmente, transição energética. Segundo Lula, esse é um tema de grande interesse global e pode gerar novas oportunidades de cooperação entre Brasil e Japão.
O Japão é um dos principais investidores estrangeiros no Brasil, com um estoque de investimentos que alcançou US$ 35 bilhões em 2023 — um crescimento de 24% em relação ao ano anterior. Nos últimos anos, o setor automotivo foi um dos principais beneficiados, com aportes significativos de empresas japonesas. A Toyota, por exemplo, anunciou investimentos de R$ 11 bilhões até 2030 no país, enquanto a Honda planeja investir R$ 4 bilhões no mesmo período.
Lula reforçou a importância do Japão como parceiro estratégico. "Espero que cresça o nosso fluxo de comércio, que o Japão venda mais para o Brasil e que o Brasil venda mais para o Japão. Sei que o Japão importa praticamente 60% de todo o alimento que consome. E o Brasil hoje é um país que está se transformando num shopping center de alimentos do planeta", afirmou.
O economista e sociólogo Vinicius do Carmo destacou a importância da visita diante das incertezas do comércio global, em meio às tarifas impostas pelo presidente norte-americano, Donald Trump. "Com a ameaça de sobretaxação dos EUA, o Brasil precisa diversificar seus mercados para proteger a competitividade de seus produtos. O Japão, como membro comprometido da OMC (Organização Mundial do Comércio), oferece um ambiente de comércio mais previsível e estruturado. Esse padrão multipolar, especialmente quando não dolarizado, é justamente um dos alvos da crítica de Trump ao Brasil e ao Brics", afirmou.
Visita histórica
A visita de Lula ao Japão tem um caráter especial. O país asiático recebe apenas uma visita de Estado por ano, e a última ocorreu em 2019, com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A escolha do Brasil para a retomada desse tipo de cerimônia reforça a importância da relação bilateral.
Além disso, a relação entre Brasil e Japão foi elevada ao status de Parceria Estratégica e Global em 2014, e o encontro pode consolidar ainda mais essa aproximação. A expectativa é que a agenda desta semana resulte em novas oportunidades de cooperação e investimentos para os dois países.
O encontro ocorre em um momento de intensificação dos contatos de alto nível entre os dois países. Em 2023, o presidente participou da Cúpula do G7, em Hiroshima. No ano ado, o então primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, esteve no Brasil, e seu sucessor, Shigeru Ishiba, participou da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, onde se reuniu com o presidente brasileiro.
Mercosul
Para o presidente do Instituto Monitor da Democracia e cientista político, Márcio Coimbra, a viagem é para simplesmente abrir caminhos para novos mercados. "Você não consegue negociar nada durante esse período tão curto. Sabemos que tem negociações, não negociações, conversas entre um acordo de Mercosul e Japão, mas isso deve ser conversado em uma próxima etapa", explicou.
Segundo Coimbra, a presença do presidente brasileiro pode servir para dar um impulso para essas conversas entre Mercosul e Japão se tornarem negociações. "Efetivamente a presença do presidente brasileiro é mais para abrir potenciais. Sabemos que pode se crescer muito ainda no agro especialmente na exportação de carne e isso é muito importante para o Brasil, nesse momento em que o país pode sofrer retaliações dos Estados Unidos", pontuou Coimbra.