
Em um contexto de juros altos e redefinição de alianças no âmbito global, a flexibilização da política restritiva sobre a venda de terras estrangeiras no agronegócio pode ser um bom caminho para o Brasil, na avaliação do diretor da LCA Consultoria Econômica Bráulio Borges. Para o especialista, a conjuntura recente traz oportunidades ao país, embora seja necessário considerar os riscos.
"A gente está em um ambiente de juro alto e a gente conviveu de 2010 até meados de 2023 com juro baixo lá fora. Era mais fácil alocar capital, investidor estrangeiro aceitava mais risco. Hoje, o patamar de juro cobrado, por exemplo, nos EUA, está em torno de 4,5% a 5% no papel longo", explicou o diretor durante o CB Fórum: O cenário dos investimentos estrangeiros no agronegócio brasileiro, realizado pelo Correio Braziliense. "Então, hoje, existe muito mais seletividade para escolher capitais. Por outro lado, aparentemente, os EUA estão querendo expulsar muito capital da economia norte-americana e, obviamente, o Brasil aparece como um candidato a receber uma parte desses recursos que vão acabar saindo dos EUA", completou Borges.
O diretor ressaltou, durante o segundo do evento, que tratou sobre os investimentos estrangeiros em terras rurais, que o Brasil tem uma economia deficitária, com uma baixa taxa de poupança doméstica, o que gera uma necessidade de atrair recursos de outros países. Diante disso, Borges considerou determinados cenários hipotéticos para o futuro, em caso de flexibilização ou de restrição ainda maior da abertura para investimento estrangeiro em terras brasileiras.
Em um dos resultados, ele afirmou que, a cada 1% do PIB a mais de investimento estrangeiro direto no país, há um crescimento adicional de 3% na economia nacional. Em um cenário realista, ele considera que o Brasil pode garantir um incremento de R$ 88 bilhões no PIB em apenas um ano e meio. Já em uma avaliação mais otimista, esse crescimento poderia ultraar os R$ 400 bilhões em recursos adicionais para o país.
Dividendos
No mesmo , o economista e consultor da LCA Consultoria Econômica Bernardo Gouthier destacou a importância desses investimentos para a estabilidade cambial do país, mas alertou para os impactos da remessa de dividendos ao exterior. Ele reforçou a necessidade de condicionar tanto a propriedade fundiária quanto o investimento estrangeiro, considerando os impactos econômicos dessas movimentações.
"A propriedade fundiária, assim como o investimento estrangeiro, precisa estar condicionada. Existem questões relevantes do ponto de vista econômico, estamos falando aqui de questões de balanço cambial, sobretudo de contas externas, isso é importante para que a gente tenha condições de ter desenvolvimentos sustentáveis", afirmou.
Para o economista, o desenvolvimento do país sempre foi afetado por dificuldades cambiais, e a presença estrangeira na economia brasileira deve ser analisada com cautela. "O nosso desenvolvimento sempre foi truncado por dificuldades cambiantes. Então, a propriedade estrangeira, qualquer ativo, gera fluxos negativos de dividendos também. Ela leva fluxos positivos de receita quando a atividade é exportadora. Ela, na origem, tem investimento direto, mas ela também gera fluxos de remessa de dividendos que compõem a parte de nosso balanço cambial também", explicou.
Gouthier alertou que é fundamental encontrar um equilíbrio nessas operações, garantindo que os fluxos financeiros gerados sejam compatíveis com a sustentabilidade do desenvolvimento econômico nacional. "Então, [é necessário] haver um equilíbrio para que esses fluxos sejam compatíveis com a sustentabilidade do desenvolvimento", concluiu.
O consultor explicou que, embora os investimentos estrangeiros tenham sido essenciais para fechar as contas externas do Brasil, a remessa de lucros para outros países impacta a balança cambial. Segundo ele, é necessário um modelo regulatório que assegure que esses fluxos financeiros não comprometam o crescimento econômico.
O debate sobre a regulação da propriedade fundiária por estrangeiros tem sido intensificado nos últimos anos, especialmente em setores estratégicos para o Brasil. Gouthier ressaltou que, embora a presença do capital externo seja crucial para a modernização do agronegócio e de outras indústrias, o país precisa garantir que esses investimentos sejam produtivos e tragam benefícios concretos para a economia.