Ginástica Artística

Jade Barbosa avalia momento e feitos na ginástica artística: "Realizada"

Presente na fase de luta rumo à evolução e ao reconhecimento da modalidade, atleta aborda, em entrevista ao Correio, o papel de referência na Seleção, os sonhos concretizados e o futuro no esporte: "Los Angeles-2028 é algo que eu gostaria"

Ginasta Jade Barbosa, durante os Jogos Olímpicos de Paris-2024 -  (crédito: Abelardo Mendes Jr/CB/D.A. Press)
Ginasta Jade Barbosa, durante os Jogos Olímpicos de Paris-2024 - (crédito: Abelardo Mendes Jr/CB/D.A. Press)

Rio de Janeiro — Nesta sexta-feira (9/5) e no domingo (11/5), Brasília viverá o ápice da magia da ginástica artística, com a realização do Troféu Brasil, no Ginásio Nilson Nelson. Em alta, o torneio prevê as disputas entre os destaques do país, com direito a casa cheia. Referência na evolução do esporte, Jade Barbosa não competirá. Ela se recupera de cirurgia. No entanto, isso não muda o tamanho do crédito da carioca de 33 anos na construção do cenário atual da modalidade.

Jade compete em alto nível há 20 anos. Uma vida de dedicação ao esporte. No momento, recupera-se de um procedimento para corrigir uma lesão parcial no ligamento cruzado anterior do joelho direito. Enquanto vive a pausa necessária, a atleta curte a evolução da modalidade. Em Paris-2024, concretizou o maior dos sonhos, o olímpico, ao conquistar o bronze do individual geral ao lado de Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Julia Soares e Lorrane Oliveira. Mas, na Seleção, a ginasta tem um papel além da competição. A liderança dela toca onde é possível.

Em entrevista ao Correio durante a posse da gestão do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Jade Barbosa relembrou os anos de luta até a era mais condecorada da modalidade e abordou o futuro. A atleta explicou, ainda, o processo de construção do papel de referência na Seleção e destacou ver a mesma personalidade nas amigas da atual equipe para dar sequência do legado. Mas poucos temas na conversa tiraram sorrisos tão sinceros como a avaliação da fase do esporte e os sonhos realizados por meio da ginástica artística.

Você ou por uma cirurgia importante. Como se sente?

A cirurgia nunca é algo gostoso de se ar, mas diante de tantas situações, realmente foi excelente. Eu estou muito feliz. Visando o próximo ciclo, era necessário fazer. Era o momento certo, mas precisa ser paciente com o processo. Tudo isso que a gente aprende com os valores do esporte.

O que prospecta para o ciclo?

Em janeiro, fizemos o primeiro camp. É um time de meninas com idade para 2028. Eu fico muito ansiosa. É a sexta vez que eu o por isso. É uma época muito boa, adoro essa troca com as novas gerações. Eu me sinto sempre muito renovada, principalmente hoje, com a maneira na qual o meu esporte se encontra, principalmente pela cultura. Além de ser o que eu amo, é a minha profissão.

Los Angeles-2028 é o seu objetivo?

É algo que eu gostaria. Mas, como em todos os ciclos, eu entendo que será a melhor equipe, e quem decide é a comissão técnica. O primeiro objetivo do ciclo é em 2026. Teremos um Mundial (em Rotterdam, na Holanda) no qual é possível se classificar à Olimpíada. Talvez, seja o primeiro ano que a gente veja isso como objetivo. Ter esses dois anos de folga, caso aconteça, dá muito mais tranquilidade para se preparar para Los Angeles.

Como é exercer um papel de líder na Seleção?

Eu vim de uma geração na qual a gente levantou o esporte muito pelo amor e pelo objetivo de, ao menos, conseguir competir. Não tínhamos dinheiro para nada e todas as pessoas faziam tudo o que era possível. O treinador era tudo: preparador físico, psicólogo, pai e mãe, muitas vezes. Por exemplo, meu pai fazia collants, porque a gente não tinha, não vendia, não tinha tecido. Eram muitas tarefas. Eu já peguei um pouco isso dessa criação.

Outras ginastas foram referências nisso para você?

Indo para a Seleção, meu primeiro contato com Daiane dos Santos, Lais Souza, Daniele Hypólito, essa equipe muito talentosa que fiz parte, eu vi o quanto o papel delas era importante. Tê-las lá fez eu me sentir mais confortável para entrar a primeira vez no Pan-Americano dentro de casa (Rio-2007), com aquele ginásio lotado, ou participar do meu primeiro Mundial (Stuttgart-2007) e lidar com uma responsabilidade tão jovem. E, aos poucos, elas foram saindo e eu pensei: posso fazer isso.

E como começou a tomar a assumir essa missão?

A princípio, comecei a fazer o que a Dani e a Dai faziam por mim. Ao mesmo tempo, vi que, em outras coisas, eu poderia estar no comando. Coreografia, escolha de música, collants... quando eu vi tudo o que eu poderia saber e proporcionar, eu sabia que faria diferença. Isso ajudou em Paris. Todas nos conhecemos a ponto de saber, olhando, o que precisava. Nos adaptamos muito rápido às situações chatas que aconteceram na nossa equipe, como a queda da Flávia Saraiva. Fico muito feliz que, hoje, eu possa ser isso para a Seleção, porque eu sei o quanto foi importante para mim.

Em quais das meninas você vê a mesma personalidade?

Eu sinto que a Rebeca, a Flávia e a Lorrane, que são mais velhas e estão há três ciclos comigo, estão prontas para proporcionar o que Daiane, Daniele e Laís foram para mim. A Flávia eu nem tenho como dizer o que ela significa para mim, mas sinto muito com esse lado. A vejo fazendo isso com as mais novas. Todas fazem. Aos poucos, vão descobrir onde se encaixam. Por elas terem a idade parecida, podem proporcionar isso para a base. Fico feliz de estarem fazendo isso de maneira natural.

Basicamente, lidam bem com a posição de idolatria...

Elas enxergam e conseguem tomar as atitudes nas horas certas, deixando a nova geração confortável. Quando eu entrei na Seleção, as meninas eram minhas ídolas e a Dai falou: "você não é mais nossa fã, é nossa colega de equipe". Você faz parte e tem que ar isso para a nova geração, tornar o mais tranquilo possível.

Se sente bem em atuar nas questões políticas do esporte?

Fiz parte de duas comissões de atletas por um período e comecei a ter um pouco de noção desse mundo. Na Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) eu entendi mais. É muito importante os atletas saberem seus direitos e deveres, para conseguirmos colocar nossa voz, nos expressar melhor, exigir melhores condições. Acaba sendo natural, mas entendo que o objeto é o atleta estar no ginásio, 100% focado, com tranquilidade para treinar. Precisa existir um equilíbrio. É muito particular. Estou no meu andamento. A comissão do Comitê Olímpico do Brasil (COB) me deu bastante noção, por ter todas as modalidades e você ver as demandas de cada uma.

Qual o sentimento você tem da evolução do esporte?

Eu sou muito realizada, porque eu vivi e vivo do meu esporte. As medalhas estão coroando algo que sempre acreditamos. Não é só uma medalha olímpica, é um trabalho de muitas gerações, principalmente de uma mudança cultural da modalidade. A gente sempre se perguntou: precisa ser mesmo dessa forma? E toda mudança demora um tempo, precisa de maturação. E a gente buscou isso, fielmente, diariamente.

E, agora, estão colhendo os frutos...

Vai além de toda conquista. É saber que as pessoas que estão te assistindo em casa se sentem representadas por aquilo que você faz, é chegar em um ginásio e estar lotado, é ver as competições na TV. Tudo isso é uma vitória. Eu sempre quis popularizar o esporte, torná-lo possível para qualquer pessoa. Não era assim na minha época.

O apoio familiar fez diferença na sua trajetória?

Graças a Deus, eu tive um pai e uma mãe que me proporcionaram viver esse sonho. Muitos não têm. E eu sei: o esporte muda a vida das pessoas. Se a gente pode, por que não estamos fazendo? Sempre foi um dilema. Chegar nesse ponto, hoje, é muito realizador. Quando eu olho para o ginásio, tem crianças de três anos de collant. Aquilo me enche os olhos. Eu achava que o esporte era muito ligado à medalha e eu vi que é muito mais. 

Programe-se - Troféu Brasil

Hoje
8h às 10h e 10h45 às 13h
Classificatório masculino

14h30 às 18h15
Classificatório feminino

Amanhã
Treino dos finalistas

Domingo
8h20 às 13h35
Finais por aparelhos

Onde assistir
YouTube da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG)

DQ
postado em 09/05/2025 06:00
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