
Reverências, expectativas, responsabilidades e os primeiros escolhidos para o pontapé inicial de uma nova era. Apresentado ontem, Carlo Ancelotti desembarcou no comando da Seleção Brasileira como quem chega a um templo sagrado: afagado, retribuiu o carinho e demonstrou entender o tamanho da missão de guiar o país na próxima Copa do Mundo. Ao anunciar os 25 convocados para os jogos contra Equador e Paraguai, o técnico italiano foi homenageado calorosamente pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e transformou a coletiva em um ato simbólico de união entre o ado glorioso e um projeto de futuro promissor para o futebol nacional.
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O clima e a estrutura montados no Grand Hyatt Hotel, no Rio de Janeiro, desde a chegada do italiano no domingo, eram dignos de uma convocação para Copa do Mundo. Mais de 250 jornalistas de todo o mundo presenciaram Ancelotti divulgar a primeira lista de jogadores à frente da Seleção Brasileira. As boas-vindas vieram de autoridades como Samir Xaud, novo presidente da entidade, e de nomes históricos do futebol nacional como Carlos Alberto Parreira, Falcão, Zico, Júnior, Rivellino — além de outros esportistas consagrados, como Felipe Massa, Isaquias Queiroz, Formiga e Falcão. Luiz Felipe Scolari fez o elo entre o penta e o sonho do hexa ao entregar um casaco simbólico ao italiano.
Carlo destacou a conexão pessoal e esportiva com o país. "A minha conexão com o Brasil começou muito cedo, nos anos 80, com Falcão, Cerezo... depois, treinei 34 jogadores brasileiros", lembrou, abordando também a responsabilidade da nova missão. "O que a sociedade brasileira espera de mim é que eu faça um bom trabalho que permita ao Brasil voltar a ganhar a Copa do Mundo. Eu posso ajudar e me conectar à Seleção. Isso é importante para a CBF, para os jogadores, para o time. É fundamental ter o apoio e a ajuda de uma nação", discursou. Embora tenha falado em espanhol, o italiano distribuiu palavras em português e reforçou, por diversas vezes, a intenção de aprender o idioma local.
O anúncio dos convocados foi precedido por uma frase ensinada por Branco: "Essa é a minha primeira convocação", disse, antes de ler um a um os 25 nomes. Com 11 remanescentes da última Copa e sete jogadores do futebol brasileiro — cinco deles do Flamengo, o clube mais lembrado —, Ancelotti optou por uma lista segura. Com apenas três treinos antes da estreia, fez questão de priorizar atletas com condição imediata de atuar. Neymar, ainda em recuperação, ficou de fora. "Tentei selecionar jogadores que estão bem. O Neymar teve uma lesão há pouco tempo. O Brasil conta com ele. Falei com ele antes para explicar isso, e ele está totalmente de acordo", afirmou.
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O retorno de nomes de confiança como Richarlison e Casemiro — ambos fora desde 2023 — foi um movimento calculado. "Essa convocação sai de um pensamento conjunto. Eu conheço a atitude do Richarlison e do Casemiro. Eles têm vantagem nesse sentido. Mas terei a oportunidade de conhecer todos", comentou. "Entre as qualidades, estão experiência, conhecimento, liderança. Não significa que alguém está aqui só por ser jovem. O Estevão está aqui porque tem qualidade", completou. Também sobrou espaço para novidades. O zagueiro Alexsandro, do Lille, fará sua estreia. As presenças de Hugo Souza (Corinthians), Antony (Betis) e Andrey Santos (Strasbourg) completam a lista das "surpresas". E houve até promessa em torno de Vinicius Junior, o atual melhor do mundo. "Estou totalmente convencido de que vai mostrar sua melhor versão."
O impacto da chegada de Ancelotti gerou até questionamentos de jornalistas italianos sobre o fato de ele jamais ter comandado a Azzurra. "Porque, neste momento, a Itália tem um treinador e não precisava de outro. Nunca me convidaram. O interesse veio do Brasil. Eu sinto muito orgulho de estar aqui", respondeu. O entusiasmo é nítido — e mútuo. A empolgação com um possível sucesso esportivo e a força simbólica da contratação também. Ontem, o torcedor brasileiro teve um déjà-vu daquele orgulho de outros tempos. Agora, resta torcer para as glórias acompanhem o mesmo roteiro.
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