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Em sua trajet&oacute;ria como educadora, Sheila viu nascerem, crescerem ou morrerem experi&ecirc;ncias educacionais exitosas, caso das escolas&nbsp;parque de Bras&iacute;lia, do CIEM &mdash; Centro Integrado de Ensino M&eacute;dio, na&nbsp;UnB, ando pelo Arteduca, grupo de pesquisa implementado por&nbsp;ela e vinculado ao Programa de P&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o em Artes do Instituto de&nbsp;Artes da Universidade de Bras&iacute;lia (UnB).</p> <p class="texto">Em entrevista ao Correio, a professora fala sobre essas propostas e da&nbsp;necessidade de incentivo &agrave; pesquisa no contexto da educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica.</p> <p class="texto"><strong>Em que medida a <a href="/euestudante/educacao-basica/2023/04/5088292-professora-proporciona-a-estudantes-da-estrutural-primeiro-o-ao-cinema.html" target="_blank" rel="noopener noreferrer">arte contribui para o conhecimento</a> e o reconhecimento do outro?</strong></p> <p class="texto"><em>Concordo com o propositor da teoria da educa&ccedil;&atilde;o pela arte, o arte-educador ingl&ecirc;s Herbert Read, que defende a tese de que a educa&ccedil;&atilde;o deveria consistir em um processo de reconcilia&ccedil;&atilde;o da singularidade individual com a unidade social. Para ele, o indiv&iacute;duo ser&aacute; &ldquo;bom&rdquo;, na medida em que se realiza na totalidade org&acirc;nica da comunidade. O &ldquo;mal&rsquo; estaria relacionado com tend&ecirc;ncias que destroem essa unidade. A educa&ccedil;&atilde;o pela arte teria o papel significativo de proporcionar condi&ccedil;&otilde;es para desenvolver a singularidade e, ao mesmo tempo, a consci&ecirc;ncia social ou reciprocidade do indiv&iacute;duo. A arte possui um potencial agregador e est&aacute; presente em nosso cotidiano, principalmente na cultura digital. Estamos imersos em imagens, sons, movimentos que nos convidam a interagir. Nessa intera&ccedil;&atilde;o, est&atilde;o sempre ocorrendo aprendizagens que nos levam a concluir que a arte tem uma fun&ccedil;&atilde;o muito significativa na educa&ccedil;&atilde;o, que n&atilde;o se resume &agrave; mera transmiss&atilde;o de conhecimento. A educa&ccedil;&atilde;o pode ocorrer na intera&ccedil;&atilde;o e colabora&ccedil;&atilde;o com outros, em diferentes espa&ccedil;os &mdash; privados ou p&uacute;blicos &mdash; e, de forma especial, na escola.</em></p> <p class="texto"><strong>Qual o papel da arte na educa&ccedil;&atilde;o?</strong></p> <p class="texto"><em>No processo educacional, a arte pode desempenhar um papel muito importante por constituir-se como uma forma de comunica&ccedil;&atilde;o que pode ser viabilizada por meio de diferentes linguagens (visual, musical, c&ecirc;nica e de movimento, como a dan&ccedil;a, por exemplo). A intera&ccedil;&atilde;o e a colabora&ccedil;&atilde;o entre indiv&iacute;duos em atividades art&iacute;sticas, planejadas e fundamentadas em m&eacute;todos apropriados, podem promover a aquisi&ccedil;&atilde;o da consci&ecirc;ncia social que est&aacute; diretamente vinculada &agrave; percep&ccedil;&atilde;o da exist&ecirc;ncia de um outro diferente, muitas vezes fragilizado, desamparado, discriminado e, em situa&ccedil;&otilde;es extremas, martirizado. Um outro que deveria ser aceito, acolhido e at&eacute; mesmo amado.</em></p> <p class="texto"><strong>Pode nos dar alguns exemplos?</strong></p> <p class="texto"><em>Podemos encontrar exemplos da arte nos apresentando esse outro na m&uacute;sica, com a periferia presente nas obras de Emicida e Mano Brown, Morte e Vida Severina, Meu Guri, em Chico Buarque; na literatura, com Vidas Secas, de Graciliano Ramos, no Quarto de Despejo, de Maria Carolina de Jesus; no teatro, com o nosso Macuna&iacute;ma; nas artes visuais, com retratos de Sebasti&atilde;o Salgado e os Oper&aacute;rios, de Tarsila do Amaral, nas cer&acirc;micas e cestarias da arte ind&iacute;gena... A tese de Read, enriquecida com ideias de outros te&oacute;ricos (dentre eles, Paulo Freire e Basarab Nicolescu), foi considerada no processo de elabora&ccedil;&atilde;o da metodologia aplicada aos cursos oferecidos, entre 2003 e 2014, pelo Arteduca &mdash; grupo de pesquisa vinculado ao Programa de P&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o em Artes do Instituto de Artes da Universidade de Bras&iacute;lia (UnB).</em></p> <p class="texto"><strong>&Eacute; poss&iacute;vel citar experi&ecirc;ncias no Brasil em que a arte educa&ccedil;&atilde;o contribuiu para a instaura&ccedil;&atilde;o de uma situa&ccedil;&atilde;o de paz social?</strong></p> <p class="texto"><em>Eu tive a oportunidade de acompanhar o processo de planejamento e aplica&ccedil;&atilde;o de projetos que visavam alcan&ccedil;ar esse objetivo. Elaborados em diferentes edi&ccedil;&otilde;es da especializa&ccedil;&atilde;o oferecida pelo Grupo Arteduca, tais projetos fundamentavam-se em um conceito intitulado matriz humanizante, respons&aacute;vel por gerar um ambiente harmonioso no qual estariam imersos todos os participantes da turma. Apoiada nesse conceito, a equipe respons&aacute;vel pela media&ccedil;&atilde;o da aprendizagem deveria atuar de forma gentil, amorosa, acolhedora, procurando despertar, por meio das pr&oacute;prias atitudes, a consci&ecirc;ncia de que todos seriam respons&aacute;veis por manter a harmonia pretendida. Assim, busc&aacute;vamos incentivar uma atua&ccedil;&atilde;o docente humanizante por parte desses professores participantes, na intera&ccedil;&atilde;o com seus estudantes em suas respectivas escolas. Os estudos realizados resultavam em projetos de ensino e aprendizagem interdisciplinares ou transdisciplinares (articulando a arte e outros componentes curriculares) que poderiam extrapolar os muros das escolas e ampliar seu alcance, n&atilde;o somente em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s disciplinas ministradas, como tamb&eacute;m, com o meio social que abrigava essas escolas. Os participantes poderiam, ent&atilde;o, convidar outros professores para se integrarem ao projeto e deveriam se esfor&ccedil;ar para conscientizar cada integrante do projeto de seu papel na sociedade, n&atilde;o somente como consumidores, como tamb&eacute;m como produtores de cultura e conhecimento.</em></p> <p class="texto"><strong>De que maneira a arte educa&ccedil;&atilde;o deveria integrar as pol&iacute;ticas p&uacute;blicas para fortalecimento de uma <a href="/euestudante/educacao-basica/2023/04/5088258-escola-de-escola-de-ceilandia-recebe-projeto-literario-para-a-cultura-de-paz.html" target="_blank" rel="noopener noreferrer">cultura da paz</a>?</strong></p> <p class="texto"><em>Em minha opini&atilde;o, seria necess&aacute;ria uma revolu&ccedil;&atilde;o educacional que invertesse a l&oacute;gica da educa&ccedil;&atilde;o, atualmente baseada em propostas instrucionais, nas quais os professores, detentores do conhecimento, transmitem informa&ccedil;&otilde;es aos estudantes. No caso do Arteduca, professores de diferentes &aacute;reas de conhecimento participavam e eram orientados a elaborar projetos em parceria com arte-educadores, envolvendo a linguagem art&iacute;stica escolhida com conte&uacute;dos de seus campos de atua&ccedil;&atilde;o. Ao aplicar o projeto nas escolas, poderiam, como j&aacute; foi dito, convidar professores respons&aacute;veis por outros componentes curriculares, n&atilde;o participantes do curso, para que buscassem formas de se integrar &agrave; proposta. Nossa ideia consistia em tentar vencer a barreira que aprisiona o conhecimento em disciplinas que n&atilde;o se comunicam. T&iacute;nhamos a pretens&atilde;o de incluir outros segmentos da comunidade escolar, de maneira a promover uma grande integra&ccedil;&atilde;o, fundamentada na intera&ccedil;&atilde;o e colabora&ccedil;&atilde;o, conceitos que acredit&aacute;vamos estar na base de uma conviv&ecirc;ncia harmoniosa. Propostas educacionais fundamentadas em projetos de ensino e aprendizagem como a que pratic&aacute;vamos j&aacute; haviam se mostrado vi&aacute;veis no ado.</em></p> <p class="texto"><strong>Que experi&ecirc;ncias poderiam servir de base para repensar a educa&ccedil;&atilde;o com essa proposta?</strong></p> <p class="texto"><em>Recomendo assistir ao v&iacute;deo que apresenta uma experi&ecirc;ncia dos Gin&aacute;sios Vocacionais, desenvolvida no Estado de S&atilde;o Paulo. Ele est&aacute; dispon&iacute;vel no Youtube (<a href="https://www.youtube.com/watch?v=1NB7FZxdEwg" target="_blank" rel="noopener noreferrer">Vocacional - Uma Aventura Humana</a>). Essa experi&ecirc;ncia pedag&oacute;gica poderia ter revolucionado a educa&ccedil;&atilde;o na d&eacute;cada de 1960. Lamentavelmente, foi interrompida pelo golpe militar de 1964. Outra experi&ecirc;ncia pedag&oacute;gica que privilegiou o trabalho colaborativo entre estudantes e que pode ser mencionada foi realizada na UnB, no CIEM &mdash; Centro Integrado de Ensino M&eacute;dio, escola de aplica&ccedil;&atilde;o tamb&eacute;m interrompida pela ditadura quando, em 1970, a repress&atilde;o se tornou mais dura. Posteriormente, nos anos 1990, com a cria&ccedil;&atilde;o do Programa de Inform&aacute;tica na Educa&ccedil;&atilde;o (ProInfo), do Minist&eacute;rio da Educa&ccedil;&atilde;o (MEC), novas propostas de aplica&ccedil;&atilde;o de projetos de ensino e aprendizagem foram desenvolvidas nos laborat&oacute;rios de inform&aacute;tica de algumas escolas, como estrat&eacute;gia para uso pedag&oacute;gico dos computadores. Em minha opini&atilde;o, tais experi&ecirc;ncias deveriam ser analisadas criteriosamente, para fundamentar a proposi&ccedil;&atilde;o de novas pol&iacute;ticas p&uacute;blicas educacionais, especialmente neste momento de revis&atilde;o da proposta para o Novo Ensino M&eacute;dio.</em></p> <p class="texto"><strong>Como come&ccedil;ou a sua experi&ecirc;ncia na &aacute;rea de educa&ccedil;&atilde;o pela arte? Que projetos vingam at&eacute; hoje?</strong></p> <p class="texto"><em>A Lei de Diretrizes e Bases da Educa&ccedil;&atilde;o Nacional (Lei 9.394/96), com seu car&aacute;ter flex&iacute;vel, proporcionou condi&ccedil;&otilde;es para que os professores de arte a interpretassem e buscassem abordagens te&oacute;ricas e metodol&oacute;gicas que poderiam fundamentar suas pr&aacute;ticas. Esse esfor&ccedil;o tornou obrigat&oacute;rio o aprofundamento de estudos e me levou a ingressar no mestrado. Na Secretaria de Educa&ccedil;&atilde;o do Distrito Federal (SEEDF), eu atuava em um n&uacute;cleo de tecnologia educacional com a miss&atilde;o de oferecer forma&ccedil;&atilde;o de professores para uso pedag&oacute;gico das &ldquo;novas tecnologias&rdquo;, como eram chamadas, &agrave; &eacute;poca. Para atuar nesses n&uacute;cleos de tecnologia, receb&iacute;amos forma&ccedil;&atilde;o oferecida pelo MEC que, com essa finalidade, realizava excelentes encontros presenciais nacionais, com participa&ccedil;&atilde;o de professores de universidades e escolas, vindos de todos os estados brasileiros. Nesse "caldo" nasceu o projeto do curso de especializa&ccedil;&atilde;o Arte, Educa&ccedil;&atilde;o e Tecnologias Contempor&acirc;neas. Foi poss&iacute;vel, ent&atilde;o, colocar em pr&aacute;tica a ideia de educa&ccedil;&atilde;o pela arte, viabilizada por meio dos projetos de ensino e aprendizagem elaborados e aplicados pelos professores/estudantes ao longo do curso. Atuei na coordena&ccedil;&atilde;o do Grupo Arteduca aproximadamente 10 anos, por meio do conv&ecirc;nio entre a SEEDF e a UnB. Com o t&eacute;rmino do conv&ecirc;nio, com muito pesar, deixamos de oferecer o curso e o meu retorno &agrave; SEEDF inviabilizou o acompanhamento da aplica&ccedil;&atilde;o dos projetos.</em></p> <p class="texto"><strong>Bras&iacute;lia j&aacute; foi refer&ecirc;ncia no assunto. O projeto foi descontinuado?</strong></p> <p class="texto"><em>A arte foi muito valorizada nos prim&oacute;rdios de Bras&iacute;lia, no projeto que integrou a utopia educativa da proposta modernista concebida por An&iacute;sio Teixeira para a nova capital brasileira criada no Governo Juscelino Kubitschek. O projeto educacional se harmonizava com o projeto urban&iacute;stico da nova capital, planejado com base em unidades de vizinhan&ccedil;a, compostas por quatro superquadras. Cada superquadra possuiria uma escola classe, que atenderia &agrave; clientela que hoje &eacute; composta pelos anos iniciais (1&ordm; ao 5&ordm; ano). Cada unidade de vizinhan&ccedil;a seria atendida por uma escola parque. Por raz&otilde;es econ&ocirc;micas e pol&iacute;ticas, o projeto foi abandonado e a proposta das escolas parque foi desvirtuada. Com o objetivo de contribuir para o debate sobre o projeto original das escolas parque e, por meio dele, analisar possibilidades de atualiza&ccedil;&atilde;o da proposta, foram realizados estudos sobre o assunto na &uacute;ltima edi&ccedil;&atilde;o do curso Arteduca. Desses estudos resultou a elabora&ccedil;&atilde;o de dois projetos de ensino e aprendizagem que seriam aplicados nas escolas parque da SQN 210/211 e da SQS 307/308. Com a descontinuidade do curso, ao final do conv&ecirc;nio n&atilde;o foi poss&iacute;vel acompanhar a continuidade do projeto.</em></p> <p class="texto"><strong>Quais as consequ&ecirc;ncias de um governo ou de uma sociedade que incentiva as crian&ccedil;as e os adolescentes a usar mais armas do que os livros?</strong></p> <p class="texto"><em>As consequ&ecirc;ncias est&atilde;o evidenciadas nas manchetes de jornais e viralizando nas redes sociais em imagens absurdas dos massacres ocorridos nas escolas, nos assassinatos praticados por criminosos, milicianos e at&eacute; mesmo pela pr&oacute;pria pol&iacute;cia, que deveria ser respons&aacute;vel pela prote&ccedil;&atilde;o das pessoas. Se a pr&oacute;pria pol&iacute;cia ataca a popula&ccedil;&atilde;o, especialmente a perif&eacute;rica, e prevalece a impunidade a quem poderemos recorrer? A sociedade est&aacute; adoecida e sangra a c&eacute;u aberto. Ser&aacute; necess&aacute;rio realizar uma revolu&ccedil;&atilde;o educacional, especialmente na educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica, para tentar resgatar aquele ide&aacute;rio mencionado por Herbert Read, com o objetivo de promover a reconcilia&ccedil;&atilde;o da singularidade individual com a unidade social.</em></p> <p class="texto"><strong>Os massacres em escolas come&ccedil;aram a virar uma realidade no Brasil, como acontece h&aacute; d&eacute;cadas nos Estados Unidos. Como mudar esse quadro? Que pol&iacute;ticas p&uacute;blicas ajudariam a estancar a cultura do &oacute;dio?</strong></p> <p class="texto"><em>Ser&aacute; necess&aacute;rio investir pesadamente na educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica. Precisamos de investimentos que representem melhores sal&aacute;rios, melhor estrutura, melhores condi&ccedil;&otilde;es de trabalho, que possam atrair profissionais interessados e motivados. Muito foi feito pelo ensino superior e at&eacute; mesmo pelo ensino m&eacute;dio, com a cria&ccedil;&atilde;o descentralizada dos institutos federais, mas a aten&ccedil;&atilde;o dada ao ensino fundamental n&atilde;o foi suficiente. O sistema brasileiro prev&ecirc; que essa fase da escolariza&ccedil;&atilde;o fique a cargo de estados e munic&iacute;pios, mas eu creio que ser&aacute; necess&aacute;rio investir em mecanismos que articulem melhor o trabalho desenvolvido em todas essas inst&acirc;ncias, de maneira a garantir a qualidade da educa&ccedil;&atilde;o desde a fase inicial, pois &eacute; ali que nascem os problemas. Eu tive o privil&eacute;gio de atuar em diferentes inst&acirc;ncias e n&iacute;veis educacionais, desde o ensino fundamental, em sala de aula, at&eacute; o n&iacute;vel central da SEEDF.</em></p> <p class="texto"><strong>Falta investimento na educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica, sobretudo no pr&oacute;prio professor?</strong></p> <p class="texto"><em>Todas essas experi&ecirc;ncias me levaram a concluir que a forma&ccedil;&atilde;o continuada de professores &eacute; a melhor estrat&eacute;gia para promover a qualidade da educa&ccedil;&atilde;o. Ouso afirmar que o conhecimento de professores da educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica p&oacute;s-graduados, se devidamente valorizado, poderia contribuir para a emerg&ecirc;ncia de novas formas de intera&ccedil;&atilde;o entre escolas/universidades, para a constru&ccedil;&atilde;o de novos perfis docentes e discentes e para a cria&ccedil;&atilde;o de propostas inovadoras para as comunidades escolares.</em></p> <p class="texto"><strong>Que sugest&otilde;es a senhora daria nesse contexto?</strong></p> <p class="texto"><em>Os que det&ecirc;m o poder de decis&atilde;o podem buscar meios para garantir algum incentivo &agrave; pesquisa no contexto da educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica, fomentando grupos de pesquisa coordenados por professores doutores que atuam nesse contexto, sem a necessidade de se subordinarem &agrave;s proposi&ccedil;&otilde;es das universidades. A inicia&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica n&atilde;o poderia ocorrer nas escolas, caso esses professores doutores da educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica fossem apoiados por organismos de fomento, para criar e liderar grupos de pesquisa nesse contexto? Seria esta proposta t&atilde;o absurda? Seria invi&aacute;vel? Sugiro, ainda, que sejam revisitados os programas e a&ccedil;&otilde;es do governo federal que foram interrompidos ou reduzidos nos &uacute;ltimos anos, especialmente no &uacute;ltimo mandato presidencial. Creio que seria interessante avaliar os resultados do Programa de Inform&aacute;tica na Educa&ccedil;&atilde;o, na forma&ccedil;&atilde;o dos coordenadores dos laborat&oacute;rios de inform&aacute;tica. Esses &ldquo;multiplicadores&rdquo;, como eram chamados, foram formados para coordenar o trabalho de forma&ccedil;&atilde;o dos demais professores das escolas estaduais, distritais e municipais que haviam recebido kits compostos por computadores, televisores e decodificadores. Esse trabalho era fundamentado na proposi&ccedil;&atilde;o de projetos de investiga&ccedil;&atilde;o, com uso das tecnologias de informa&ccedil;&atilde;o e comunica&ccedil;&atilde;o, as TIC. Caso esse programa n&atilde;o tivesse sido descontinuado, creio que ter&iacute;amos nos sa&iacute;do muito melhor durante os anos em que vivenciamos a fase aguda da pandemia. Tais multiplicadores poderiam se constituir como &ldquo;resgatadores de esperan&ccedil;a&rdquo;, termo utilizado por Nicolescu, para designar pesquisadores transdisciplinares, interessados em novas formas de aquisi&ccedil;&atilde;o e dissemina&ccedil;&atilde;o do conhecimento e preocupados com os destinos do planeta. Diante do que estamos presenciando em nossas escolas e na sociedade, de uma forma geral, &eacute; exatamente de resgatadores como esses que estamos precisando.</em></p> <p class="texto"><strong>As escolas, os governos e a sociedade est&atilde;o preparados para transforma&ccedil;&atilde;o?</strong></p> <p class="texto"><em>N&atilde;o. Ser&aacute; preciso muito investimento em recursos, humanos e materiais, para preparar todo o sistema e a sociedade para a transforma&ccedil;&atilde;o necess&aacute;ria. O principal obst&aacute;culo para essa prepara&ccedil;&atilde;o ser&aacute; a supera&ccedil;&atilde;o da ruptura que vitimou a sociedade com o golpe de 2016, aprofundado no &uacute;ltimo governo.</em></p> <p class="texto"><strong>Fam&iacute;lia e escola est&atilde;o mais isoladas e distantes?</strong></p> <p class="texto"><em>Com certeza. Os ataques que as escolas vinham sofrendo, com interven&ccedil;&otilde;es de natureza ideol&oacute;gica, foram sendo agravados e culminaram com os massacres perpetrados nos &uacute;ltimos tempos. As motiva&ccedil;&otilde;es dos &uacute;ltimos ataques ainda est&atilde;o sob investiga&ccedil;&atilde;o, mas o ber&ccedil;o dessa viol&ecirc;ncia, sem d&uacute;vida, &eacute; ideol&oacute;gico e seu principal incentivador tem nome e seguidores. N&atilde;o h&aacute; como ignorar a desvaloriza&ccedil;&atilde;o da arte e da cultura pelos &uacute;ltimos governos, a defesa da escola sem partido, que, na verdade, representa a ideologiza&ccedil;&atilde;o de uma educa&ccedil;&atilde;o para o conflito, para o confronto, contra a educa&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica. Trata-se de uma proposta de educa&ccedil;&atilde;o para a aceita&ccedil;&atilde;o do status quo e da hierarquiza&ccedil;&atilde;o das diferen&ccedil;as sociais. 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Eu, Estudante 6rh50

ENTREVISTA / SHEILA CAMPELLO / DOUTORA EM ARTES PELA UNB

Arte pode contribuir para uma cultura de paz nas escolas 1r2p6e

Educadora defende o resgate de experiências educacionais bem-sucedidas, o fomento a grupos de pesquisa coordenados por professores doutores que atuam no ensino básico e a regulamentação das redes sociais 5o2w5l

Ataques a escolas, como o chocante caso de Blumenau — no qual um homem invadiu uma creche, matou quatro crianças e feriu outras cinco — abrem fendas que jamais fecham. São traumas sociais, que, quando ocorrem, suscitam diversos debates, apoiados em todo tipo de teoria. Há, no entanto, um ponto em comum nas discussões: todos abordam a necessidade de mais investimento em educação.

Mas que educação seria essa e quais modelos poderiam conter ou prevenir esse tipo de barbárie? Sheila Campello, professora aposentada da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) e doutora em Artes pela Universidade de Brasília (UnB), defende que projetos envolvendo as várias formas de arte podem contribuir para a redução dessa violência no ambiente escolar. Em sua trajetória como educadora, Sheila viu nascerem, crescerem ou morrerem experiências educacionais exitosas, caso das escolas parque de Brasília, do CIEM — Centro Integrado de Ensino Médio, na UnB, ando pelo Arteduca, grupo de pesquisa implementado por ela e vinculado ao Programa de Pós-graduação em Artes do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB).

Em entrevista ao Correio, a professora fala sobre essas propostas e da necessidade de incentivo à pesquisa no contexto da educação básica.

Em que medida a arte contribui para o conhecimento e o reconhecimento do outro?

Concordo com o propositor da teoria da educação pela arte, o arte-educador inglês Herbert Read, que defende a tese de que a educação deveria consistir em um processo de reconciliação da singularidade individual com a unidade social. Para ele, o indivíduo será “bom”, na medida em que se realiza na totalidade orgânica da comunidade. O “mal’ estaria relacionado com tendências que destroem essa unidade. A educação pela arte teria o papel significativo de proporcionar condições para desenvolver a singularidade e, ao mesmo tempo, a consciência social ou reciprocidade do indivíduo. A arte possui um potencial agregador e está presente em nosso cotidiano, principalmente na cultura digital. Estamos imersos em imagens, sons, movimentos que nos convidam a interagir. Nessa interação, estão sempre ocorrendo aprendizagens que nos levam a concluir que a arte tem uma função muito significativa na educação, que não se resume à mera transmissão de conhecimento. A educação pode ocorrer na interação e colaboração com outros, em diferentes espaços — privados ou públicos — e, de forma especial, na escola.

Qual o papel da arte na educação?

No processo educacional, a arte pode desempenhar um papel muito importante por constituir-se como uma forma de comunicação que pode ser viabilizada por meio de diferentes linguagens (visual, musical, cênica e de movimento, como a dança, por exemplo). A interação e a colaboração entre indivíduos em atividades artísticas, planejadas e fundamentadas em métodos apropriados, podem promover a aquisição da consciência social que está diretamente vinculada à percepção da existência de um outro diferente, muitas vezes fragilizado, desamparado, discriminado e, em situações extremas, martirizado. Um outro que deveria ser aceito, acolhido e até mesmo amado.

Pode nos dar alguns exemplos?

Podemos encontrar exemplos da arte nos apresentando esse outro na música, com a periferia presente nas obras de Emicida e Mano Brown, Morte e Vida Severina, Meu Guri, em Chico Buarque; na literatura, com Vidas Secas, de Graciliano Ramos, no Quarto de Despejo, de Maria Carolina de Jesus; no teatro, com o nosso Macunaíma; nas artes visuais, com retratos de Sebastião Salgado e os Operários, de Tarsila do Amaral, nas cerâmicas e cestarias da arte indígena... A tese de Read, enriquecida com ideias de outros teóricos (dentre eles, Paulo Freire e Basarab Nicolescu), foi considerada no processo de elaboração da metodologia aplicada aos cursos oferecidos, entre 2003 e 2014, pelo Arteduca — grupo de pesquisa vinculado ao Programa de Pós-graduação em Artes do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB).

É possível citar experiências no Brasil em que a arte educação contribuiu para a instauração de uma situação de paz social?

Eu tive a oportunidade de acompanhar o processo de planejamento e aplicação de projetos que visavam alcançar esse objetivo. Elaborados em diferentes edições da especialização oferecida pelo Grupo Arteduca, tais projetos fundamentavam-se em um conceito intitulado matriz humanizante, responsável por gerar um ambiente harmonioso no qual estariam imersos todos os participantes da turma. Apoiada nesse conceito, a equipe responsável pela mediação da aprendizagem deveria atuar de forma gentil, amorosa, acolhedora, procurando despertar, por meio das próprias atitudes, a consciência de que todos seriam responsáveis por manter a harmonia pretendida. Assim, buscávamos incentivar uma atuação docente humanizante por parte desses professores participantes, na interação com seus estudantes em suas respectivas escolas. Os estudos realizados resultavam em projetos de ensino e aprendizagem interdisciplinares ou transdisciplinares (articulando a arte e outros componentes curriculares) que poderiam extrapolar os muros das escolas e ampliar seu alcance, não somente em relação às disciplinas ministradas, como também, com o meio social que abrigava essas escolas. Os participantes poderiam, então, convidar outros professores para se integrarem ao projeto e deveriam se esforçar para conscientizar cada integrante do projeto de seu papel na sociedade, não somente como consumidores, como também como produtores de cultura e conhecimento.

De que maneira a arte educação deveria integrar as políticas públicas para fortalecimento de uma cultura da paz?

Em minha opinião, seria necessária uma revolução educacional que invertesse a lógica da educação, atualmente baseada em propostas instrucionais, nas quais os professores, detentores do conhecimento, transmitem informações aos estudantes. No caso do Arteduca, professores de diferentes áreas de conhecimento participavam e eram orientados a elaborar projetos em parceria com arte-educadores, envolvendo a linguagem artística escolhida com conteúdos de seus campos de atuação. Ao aplicar o projeto nas escolas, poderiam, como já foi dito, convidar professores responsáveis por outros componentes curriculares, não participantes do curso, para que buscassem formas de se integrar à proposta. Nossa ideia consistia em tentar vencer a barreira que aprisiona o conhecimento em disciplinas que não se comunicam. Tínhamos a pretensão de incluir outros segmentos da comunidade escolar, de maneira a promover uma grande integração, fundamentada na interação e colaboração, conceitos que acreditávamos estar na base de uma convivência harmoniosa. Propostas educacionais fundamentadas em projetos de ensino e aprendizagem como a que praticávamos já haviam se mostrado viáveis no ado.

Que experiências poderiam servir de base para repensar a educação com essa proposta?

Recomendo assistir ao vídeo que apresenta uma experiência dos Ginásios Vocacionais, desenvolvida no Estado de São Paulo. Ele está disponível no Youtube (Vocacional - Uma Aventura Humana). Essa experiência pedagógica poderia ter revolucionado a educação na década de 1960. Lamentavelmente, foi interrompida pelo golpe militar de 1964. Outra experiência pedagógica que privilegiou o trabalho colaborativo entre estudantes e que pode ser mencionada foi realizada na UnB, no CIEM — Centro Integrado de Ensino Médio, escola de aplicação também interrompida pela ditadura quando, em 1970, a repressão se tornou mais dura. Posteriormente, nos anos 1990, com a criação do Programa de Informática na Educação (ProInfo), do Ministério da Educação (MEC), novas propostas de aplicação de projetos de ensino e aprendizagem foram desenvolvidas nos laboratórios de informática de algumas escolas, como estratégia para uso pedagógico dos computadores. Em minha opinião, tais experiências deveriam ser analisadas criteriosamente, para fundamentar a proposição de novas políticas públicas educacionais, especialmente neste momento de revisão da proposta para o Novo Ensino Médio.

Como começou a sua experiência na área de educação pela arte? Que projetos vingam até hoje?

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), com seu caráter flexível, proporcionou condições para que os professores de arte a interpretassem e buscassem abordagens teóricas e metodológicas que poderiam fundamentar suas práticas. Esse esforço tornou obrigatório o aprofundamento de estudos e me levou a ingressar no mestrado. Na Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF), eu atuava em um núcleo de tecnologia educacional com a missão de oferecer formação de professores para uso pedagógico das “novas tecnologias”, como eram chamadas, à época. Para atuar nesses núcleos de tecnologia, recebíamos formação oferecida pelo MEC que, com essa finalidade, realizava excelentes encontros presenciais nacionais, com participação de professores de universidades e escolas, vindos de todos os estados brasileiros. Nesse "caldo" nasceu o projeto do curso de especialização Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas. Foi possível, então, colocar em prática a ideia de educação pela arte, viabilizada por meio dos projetos de ensino e aprendizagem elaborados e aplicados pelos professores/estudantes ao longo do curso. Atuei na coordenação do Grupo Arteduca aproximadamente 10 anos, por meio do convênio entre a SEEDF e a UnB. Com o término do convênio, com muito pesar, deixamos de oferecer o curso e o meu retorno à SEEDF inviabilizou o acompanhamento da aplicação dos projetos.

Brasília já foi referência no assunto. O projeto foi descontinuado?

A arte foi muito valorizada nos primórdios de Brasília, no projeto que integrou a utopia educativa da proposta modernista concebida por Anísio Teixeira para a nova capital brasileira criada no Governo Juscelino Kubitschek. O projeto educacional se harmonizava com o projeto urbanístico da nova capital, planejado com base em unidades de vizinhança, compostas por quatro superquadras. Cada superquadra possuiria uma escola classe, que atenderia à clientela que hoje é composta pelos anos iniciais (1º ao 5º ano). Cada unidade de vizinhança seria atendida por uma escola parque. Por razões econômicas e políticas, o projeto foi abandonado e a proposta das escolas parque foi desvirtuada. Com o objetivo de contribuir para o debate sobre o projeto original das escolas parque e, por meio dele, analisar possibilidades de atualização da proposta, foram realizados estudos sobre o assunto na última edição do curso Arteduca. Desses estudos resultou a elaboração de dois projetos de ensino e aprendizagem que seriam aplicados nas escolas parque da SQN 210/211 e da SQS 307/308. Com a descontinuidade do curso, ao final do convênio não foi possível acompanhar a continuidade do projeto.

Quais as consequências de um governo ou de uma sociedade que incentiva as crianças e os adolescentes a usar mais armas do que os livros?

As consequências estão evidenciadas nas manchetes de jornais e viralizando nas redes sociais em imagens absurdas dos massacres ocorridos nas escolas, nos assassinatos praticados por criminosos, milicianos e até mesmo pela própria polícia, que deveria ser responsável pela proteção das pessoas. Se a própria polícia ataca a população, especialmente a periférica, e prevalece a impunidade a quem poderemos recorrer? A sociedade está adoecida e sangra a céu aberto. Será necessário realizar uma revolução educacional, especialmente na educação básica, para tentar resgatar aquele ideário mencionado por Herbert Read, com o objetivo de promover a reconciliação da singularidade individual com a unidade social.

Os massacres em escolas começaram a virar uma realidade no Brasil, como acontece há décadas nos Estados Unidos. Como mudar esse quadro? Que políticas públicas ajudariam a estancar a cultura do ódio?

Será necessário investir pesadamente na educação básica. Precisamos de investimentos que representem melhores salários, melhor estrutura, melhores condições de trabalho, que possam atrair profissionais interessados e motivados. Muito foi feito pelo ensino superior e até mesmo pelo ensino médio, com a criação descentralizada dos institutos federais, mas a atenção dada ao ensino fundamental não foi suficiente. O sistema brasileiro prevê que essa fase da escolarização fique a cargo de estados e municípios, mas eu creio que será necessário investir em mecanismos que articulem melhor o trabalho desenvolvido em todas essas instâncias, de maneira a garantir a qualidade da educação desde a fase inicial, pois é ali que nascem os problemas. Eu tive o privilégio de atuar em diferentes instâncias e níveis educacionais, desde o ensino fundamental, em sala de aula, até o nível central da SEEDF.

Falta investimento na educação básica, sobretudo no próprio professor?

Todas essas experiências me levaram a concluir que a formação continuada de professores é a melhor estratégia para promover a qualidade da educação. Ouso afirmar que o conhecimento de professores da educação básica pós-graduados, se devidamente valorizado, poderia contribuir para a emergência de novas formas de interação entre escolas/universidades, para a construção de novos perfis docentes e discentes e para a criação de propostas inovadoras para as comunidades escolares.

Que sugestões a senhora daria nesse contexto?

Os que detêm o poder de decisão podem buscar meios para garantir algum incentivo à pesquisa no contexto da educação básica, fomentando grupos de pesquisa coordenados por professores doutores que atuam nesse contexto, sem a necessidade de se subordinarem às proposições das universidades. A iniciação científica não poderia ocorrer nas escolas, caso esses professores doutores da educação básica fossem apoiados por organismos de fomento, para criar e liderar grupos de pesquisa nesse contexto? Seria esta proposta tão absurda? Seria inviável? Sugiro, ainda, que sejam revisitados os programas e ações do governo federal que foram interrompidos ou reduzidos nos últimos anos, especialmente no último mandato presidencial. Creio que seria interessante avaliar os resultados do Programa de Informática na Educação, na formação dos coordenadores dos laboratórios de informática. Esses “multiplicadores”, como eram chamados, foram formados para coordenar o trabalho de formação dos demais professores das escolas estaduais, distritais e municipais que haviam recebido kits compostos por computadores, televisores e decodificadores. Esse trabalho era fundamentado na proposição de projetos de investigação, com uso das tecnologias de informação e comunicação, as TIC. Caso esse programa não tivesse sido descontinuado, creio que teríamos nos saído muito melhor durante os anos em que vivenciamos a fase aguda da pandemia. Tais multiplicadores poderiam se constituir como “resgatadores de esperança”, termo utilizado por Nicolescu, para designar pesquisadores transdisciplinares, interessados em novas formas de aquisição e disseminação do conhecimento e preocupados com os destinos do planeta. Diante do que estamos presenciando em nossas escolas e na sociedade, de uma forma geral, é exatamente de resgatadores como esses que estamos precisando.

As escolas, os governos e a sociedade estão preparados para transformação?

Não. Será preciso muito investimento em recursos, humanos e materiais, para preparar todo o sistema e a sociedade para a transformação necessária. O principal obstáculo para essa preparação será a superação da ruptura que vitimou a sociedade com o golpe de 2016, aprofundado no último governo.

Família e escola estão mais isoladas e distantes?

Com certeza. Os ataques que as escolas vinham sofrendo, com intervenções de natureza ideológica, foram sendo agravados e culminaram com os massacres perpetrados nos últimos tempos. As motivações dos últimos ataques ainda estão sob investigação, mas o berço dessa violência, sem dúvida, é ideológico e seu principal incentivador tem nome e seguidores. Não há como ignorar a desvalorização da arte e da cultura pelos últimos governos, a defesa da escola sem partido, que, na verdade, representa a ideologização de uma educação para o conflito, para o confronto, contra a educação crítica. Trata-se de uma proposta de educação para a aceitação do status quo e da hierarquização das diferenças sociais. A educação pela arte, fundamentada na matriz humanizante, poderia ter um papel significativo para superação dessa ruptura social, por meio da formação individual, despertando, ao mesmo tempo, a amorosidade, a consciência social ou reciprocidade, como pregavam Paulo Freire e Herbert Read.

As redes sociais são o vilão desse processo ou apenas o meio?

As redes sociais são o meio. Será preciso buscar mecanismos para coibir seu uso em benefício das tendências que destroem a unidade social e não reconhecem a existência do outro. Por esse motivo seu uso deve ser regulamentado.