Evasão escolar

Ensino superior no Brasil tem 57% de evasão na rede pública e privada

Dificuldades na garantia do o e permanência nas instituições apontam para necessidade de políticas públicas para manter estudantes

Júlia Giusti*
postado em 08/05/2024 00:12 / atualizado em 08/05/2024 14:49
A evasão é observada com mais força na rede privada de ensino. -  (crédito: Feliphe Schiarolli/Unsplash)
A evasão é observada com mais força na rede privada de ensino. - (crédito: Feliphe Schiarolli/Unsplash)

O índice de evasão da educação superior no Brasil chega a 57,2% entre redes pública, privada e ensino presencial e a distância (EaD). Os dados fazem parte do Mapa do Ensino Superior no Brasil 2024, lançado nesta quarta-feira (8/5), em São Paulo, pelo Instituto Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil, e apontam a necessidade de adoção de políticas públicas para garantir o o e permanência dos estudantes no ensino superior.

A evasão é observada com mais força na rede privada de ensino, que concentra 88% das instituições de ensino superior (IES) no país, do total de 2.595. Entre as modalidades presencial e EaD, esta conta com maior taxa de abandono do ensino superior, ocupando 56,3% das graduações. Nas instituições privadas, a evasão chega a quase 61%, já nas públicas, é menos de 40%. Cursos presenciais têm 52,6% de desistência, enquanto a distância têm 64%.

O diretor executivo e assessor para assuntos econômicos do Semesp, Rodrigo Capelato, afirma que o problema da evasão é mundial, com altos índices de alunos que não se formam no ensino médio, o que impacta na taxa de escolarização líquida, que abrange jovens de 18 a 24 anos. Segundo o Censo da Educação Superior de 2020, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apenas 20% da população nessa faixa etária frequenta a educação superior.

“O modelo de oferta da educação, na qual há um problema financeiro, de arcar com as mensalidades e se manter no ensino superior, afeta a permanência dos estudantes nas instituições. Além disso, como não há políticas públicas de o ao ensino superior, as instituições estão tendo que dar descontos, porque muitos estudantes têm baixa renda per capita na família, variando de um a 1,5 salário mínimo”, aponta Rodrigo.

Capelato defende o Pé-de-Meia, programa do governo que prevê incentivo financeiro-educacional a estudantes do ensino médio regular ou da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede pública, para combater a evasão. “Pode ser um importante alavancador para diminuir a evasão e trazer mais alunos para o ensino”. Além disso, o diretor do Semesp ressalta a necessidade de incentivo a cursos técnicos, como forma de “atacar o problema do ensino médio, em relação à qualidade, à evasão e ao conhecimento das possibilidades de atuação dos estudantes”.

Matrículas

A rede privada, que tem maior número de instituições de ensino superior, também detém o maior número de matrículas, com 78% dos mais de 8,6 milhões de ingressos, como mostrou o Inep. De 2021 para 2022, houve queda de 4,3% nas matrículas na modalidade presencial para a rede privada e 0,6% para a rede pública. No ensino EaD houve aumento total de 16,5% nos ingressos, reforçando a expressividade dessa modalidade, que quadruplicou a procura de 2015 para 2022. Entre os cursos mais buscados, se destacam, nas primeiras posições, direito e áreas relacionadas à saúde, como medicina, psicologia e nutrição, além do crescimento na busca por tecnologia da informação (TI).

Rodrigo Capelato explica que o crescimento exponencial nas matrículas no ensino superior, de forma geral, pode ser associado à criação do Programa Universidade para Todos (Prouni), que oferece bolsas de estudo em instituições particulares, à reformulação do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que financia cursos superiores, à liberação dos polos à distância e aulas remotas na pandemia. Ele também atribui o impulsionamento das matrículas ao setor privado. “Quem trouxe a expansão e democratização do ensino superior, foi o ensino privado”.

Como reflexo desses fatores, além da redução nos custos de mensalidade nas instituições, a taxa de escolarização bruta, que não avalia critérios de idade, cresceu 8,6% de 2012 a 2022, chegando a 38,6% de pessoas com formação superior no país, segundo o censo da educação superior 2020. O número é baixo, mas supera, em grande escala, a escolarização líquida, apontando a necessidade de políticas de valorização da educação desde o ensino médio, como mencionado por Capelato.

Docência

Atualmente, a carreira docente não se mostra atrativa aos professores da educação básica. No Mapa da Educação Superior 2024, foram ouvidos 444 docentes. Para eles, a falta de valorização e estímulo da carreira, com baixos salários e espaços inadequados, se destacam como maiores dificuldades da profissão, além de falta de interesse dos alunos e violências sofridas em sala de aula.

Lúcia Teixeira, presidente do Semesp, expõe que os professores estão inseguros e exaustos na profissão, ressaltando a importância do apoio psicológico no ambiente escolar. “A escola repete as violências da sociedade. Grande parte dos docentes se sentem indecisos, inseguro e exausto, mostrando a necessidade de apoio psicológico a todo o pessoal que trabalha em escolas”, diz. 

Para ela, é essencial criar políticas públicas duradouras de valorização da educação no Brasil. “É preciso pensar os modelos de oferta dos cursos de licenciatura, currículos devem ser mais práticos, a tecnologia deve ser inserida na educação e deve haver maior financiamento. A bolsa permanência deve ser implementada para impedir a evasão do ensino e que os alunos tenham que trabalhar enquanto estudam. A capacitação dos professores, alinhada com políticas públicas estruturantes, é primordial para melhorar a educação básica e a competência profissional”, afirma.

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  • Lúcia Teixeira, presidente do Semesp
    Lúcia Teixeira, presidente do Semesp Foto: Arquivo pessoal
  • Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp
    Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp Foto: Arquivo pessoal
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