-->

"A maior parte das sepulturas nem sequer tem um nome"

Correio Braziliense
postado em 17/09/2022 06:00
 (crédito: Arquivo pessoal )
(crédito: Arquivo pessoal )

Desde 2015, Valery Marchenko, 52 anos, ocupa o cargo de prefeito de Izyum. Por meio do WhatsApp e em ucraniano, ele deu ao Correio detalhes sobre a cova coletiva encontrada em uma região de mata fechada e denunciou "um terror brutal e sangrento". "Esse é um genocídio do povo ucraniano!", afirmou. O prefeito culpou a Rússia pelos "crimes".

O que o senhor pode dizer sobre a cova coletiva encontrada em sua cidade?

Infelizmente, Izyum esteve sob ocupação temporária por quase seis meses. Por isso, a escala dos crimes de guerra dos ocupantes russos é maior do que a conhecida por nós nas cidades de Bucha e de Irpin. Uma cova coletiva foi encontrada na floresta, na Rua Shakespeare. Descobrimos centenas de cruzes, identificadas sem nomes e com apenas números. Após exames, os corpos serão sepultados com o devido respeito.

Quantos corpos foram descobertos no local e como essas pessoas morreram?

Até o momento, 450 corpos de civis com indícios de morte violenta e de tortura foram descobertos. É difícil imaginar algo em pleno século 21. A maior parte das sepulturas nem sequer tem nomes sobre elas. Há apenas uma marca com um número. Entre os corpos que exumamos na sexta-feira, 99% apresentavam sinais de morte violenta. Como afirmou o governador de Kharkiv, Oleg Synegubov, há vários corpos com as mãos amarradas atrás das costas. É óbvio que essas pessoas foram torturadas e executadas. Também há crianças entre os civis enterrados.

O que o senhor teria a dizer sobre o que ocorreu em Izyum?

A escala dos crimes cometidos pelos ocupantes em Izyum é enorme. Isso foi um terror brutal e sangrento. Esse é um genocídio do povo ucraniano! Todos aqueles culpados dessas atrocidades devem ser punidos. Contamos com parceiros internacionais para nos ajudarem a trazer cada criminoso de guerra à Justiça. Nós esperamos que a Ucrânia, e toda a comunidade civilizada, façam o necessário para assegurar que a Rússia nunca volte a ser capaz de cometer terrorismo e de matar pessoas com impunidade. As agências de aplicação da lei realizam todas as ações investigativas necessárias para estabelecer as violações dos direitos humanos. Defenderemos os interesses dos cidadãos e ajudaremos todos a obterem a justiça.

Quantas pessoas vivem em Izyum e de que modo elas têm lidado com essa guerra?

Cerca de 10 mil pessoas estão na cidade. A maioria delas precisa não apenas de ajuda humanitária e material, mas também moral e psicológica. Faremos todos os esforços para auxiliá-las a se recuperarem, o mais breve possível, do horror ao qual foram forçadas a experimentar durante a ocupação russa de Izyum. 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail [email protected].

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE