
"Eu sentia um amor muito grande. Não tem nem explicação para o sentimento."
É assim que o cuidador de idosos Rodrigo Rafael de Camargo, de 39 anos, lembra de Carlos, que tinha demência e faleceu em abril, aos 87.
“Quando eu chegava, ele já dava um grito. ‘Rodrigo, vem aqui um pouco. Você não viu o que está acontecendo com o controle da TV aqui">profissão do futuro no Brasil?
'Fui trocar uma lâmpada e virei cuidador'

Rodrigo trabalhava como segurança de um condomínio em Indaiatuba, no interior de São Paulo, quando um pedido de um casal de moradores, Carlos e Maria das Dores, mudou sua vida.
“Fui trocar uma lâmpada, e eles me convidaram para ser motorista deles. Depois virei cuidador. Com o Seu Carlos, eu chegava de manhã, tinha de preparar os medicamentos — ele tomava muitos comprimidos."
"Ele tinha demência, e teve também derrame. Às vezes, dava um branco na mente dele e ele acabava esquecendo algumas coisas. Aí eu ficava conversando com ele, até que ele começava a lembrar. Nos tornamos muito amigos.”
O cuidador se lembra do dia em que começou a ajudar Carlos a fazer a higiene pessoal. Um momento delicado, mas a partir dali "ficou tudo mais fácil".
“Foi uma vez que fomos ao hospital colher um exame. Ele era bem fechado. Ia colocar uma camisa, você tinha de sair de perto. E ele não estava conseguindo fazer a coleta. Eu falei, ‘seu Carlos, o senhor quer uma ajuda"E gosto de fazer a mais do que aquilo que tem de fazer. Na maioria das vezes, quando você estuda, você tem um limite. Mas eu não vejo uma barreira. Participo de tudo, me sinto como um filho. Prefiro assim do que ter um curso e ter de me limitar.”

No entanto, especialistas chamam a atenção para os riscos que a falta de formação e preparos adequados dos cuidadores pode trazer para os próprios trabalhadores.
Félix compara a postura de Rodrigo à de muitas trabalhadoras domésticas brasileiras.
“Há um voluntarismo muito grande. ‘Pode deixar, eu limpo a vidraça, subo na escada, comigo não tem tempo feio’”, diz o pesquisador.
No trabalho de cuidado, no entanto, essa atitude pode ser muito mais prejudicial ao profissional, explica Félix.
“Vão levantar a pessoa, vão pegar o peso do corpo da pessoa idosa, mas não colocam uma cinta para proteger a coluna, não conseguem ver seus próprios limites”, diz o pesquisador.
“Existe também o aspecto psicológico. Quando ela [a cuidadora] não tem formação, ela tem mais insegurança. Não sabe como lidar com uma situação de surto da pessoa que ela está cuidando. Então, o medo, a insegurança, o estresse, a ansiedade são muito grandes.”
O custo pessoal para o cuidador e das profissões que envolvem cuidado de uma forma geral também está ligado ao envolvimento emocional com a pessoa cuidada.
'Você vai demorar para voltar?'

Rodrigo conta como a relação com Carlos, além de se tornar cada vez mais íntima, também ficava cada vez mais intensa e ganhava novos contornos conforme o idoso requisitava cada vez mais sua presença.
“Às vezes, eu tinha de ir à farmácia, e ele falava, ‘você não vai demorar não, né">O Ministério da Saúde não mencionou quantas pessoas recebem atendimento por meio desse serviço.
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