
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai ar por um procedimento complementar após a cirurgia realizada na segunda-feira (9/12) para tratar uma hemorragia intracraniana.
Segundo o boletim médico divulgado pelo Hospital Sírio-Libanês na quarta-feira (11/12), Lula "permanece sob cuidados intensivos" e "ou o dia bem, sem intercorrências".
Ele, inclusive, realizou fisioterapia, caminhou e recebeu visitas de familiares.
O mesmo comunicado destaca que o novo procedimento faz "parte da programação terapêutica" e consiste num "procedimento endovascular", que será realizado na manhã desta quinta-feira (12/12).
Entenda a seguir como funciona essa intervenção e por que ela é necessária em casos como o de Lula.
O que é um procedimento endovascular
Em resumo, o termo "procedimento endovascular" é usado para descrever qualquer intervenção feita a partir do interior de vasos sanguíneos.
A ideia é utilizar a rede de veias e artérias do corpo como "caminhos" para se chegar até o local que apresenta algum problema, com o objetivo de corrigi-lo ou tratá-lo.
Procedimentos do tipo usam fios e cateteres, que são inseridos num vaso sanguíneo através da pele.
Geralmente, os médicos fazem esse o pelo braço ou pela virilha.
Com ajuda de exames de imagem (como a tomografia, a ressonância magnética e a radiografia), esses profissionais de saúde guiam os cateteres até a região que apresenta um determinado problema.
Quando chegam no local desejado, eles podem "entupir" o vaso, para estancar uma hemorragia, ou instalar uma rede metálica, caso a ideia seja restabelecer a agem de sangue ali.
Há também a possibilidade de usar esse o para aplicar medicações ou outros tratamentos específicos (como moléculas radioativas, calor ou frio).
Esses procedimentos minimamente invasivos são usados na Medicina há pelo menos cinco décadas e apresentam inúmeras vantagens.
As intervenções muitas vezes podem ser feitas em ambulatórios, fora de centros cirúrgicos, e, como precisam apenas de pequenos furos na pele (sem necessidade de grandes cortes e suturas), têm uma recuperação muito mais rápida e com menos complicações.
As técnicas e os materiais utilizados evoluíram muito nos últimos anos e hoje são usados para tratar uma série de condições — de infarto e AVC a dor, inchaço na próstata e até câncer.
No caso de Lula, o boletim médico mais recente destaca que ele ará por uma embolização de artéria meníngea média.
Em outras palavras, embolização significa justamente entupir um vaso sanguíneo — no caso do presidente, a artéria meníngea média, que a pela cabeça — para interromper a agem de sangue ali.
Os médicos costumam usar substâncias químicas específicas ou calor para fazer o fechamento desse tubo do sistema circulatório.
Esse bloqueio é cuidadosamente avaliado por especialistas e não prejudica a chegada de suprimentos (oxigênio e nutrientes) para as células da região.

Por que Lula precisou de mais um procedimento?
Como explicado pelo boletim do Hospital Sírio Libanês, o procedimento endovascular é um tratamento complementar em casos como o do presidente.
Numa reportagem publicada pela BBC News Brasil na terça-feira (10/12), a neurologista Sheila Martins, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, já havia antecipado a necessidade dessa nova intervenção.
Para entender essa questão, precisamos recapitular pontos importantes do episódio.
No dia 19 outubro, Lula bateu a cabeça ao sofrer um acidente doméstico no Palácio da Alvorada.
Desde então, ele tem feito um acompanhamento com especialistas para avaliar se a pancada poderia ter alguma consequência mais grave.
Na segunda-feira, 9 de dezembro, o presidente apresentou um mal-estar e se queixou de dores de cabeça.
Ao ar por uma ressonância magnética em Brasília, os médicos diagnosticaram a hemorragia intracraniana.
Esse acúmulo de sangue aconteceu entre a dura mater (uma das meninges, as membranas que protegem o sistema nervoso) e a superfície do cérebro.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, esse quadro acontece frequentemente com indivíduos que sofrem batidas na cabeça — e pode demorar semanas ou até meses para dar sinais.
Após o choque, alguns pequenos vasos sanguíneos se rompem e ficam gotejando sangue aos poucos.
O líquido vermelho se acumula numa determinada região e forma um hematoma — que a partir de um certo tamanho começa a pressionar o cérebro e gera incômodos (como dor de cabeça).
Lula foi então transferido para São Paulo, onde ou por uma craniotomia, um procedimento para drenar o hematoma.
A cirurgia foi considerada bem-sucedida pelos médicos e não houve qualquer sequela.
Mas a craniotomia serve apenas para drenar o hematoma que se formou.
Os pequenos vasos que se romperam após a pancada podem continuar a gotejar sangue — e gerar um novo hematoma depois de algum tempo.
É por isso que, nesses casos, os profissionais da saúde fazem o procedimento vascular para fechar alguns desses tubos do sistema circulatório.
Assim, é possível resolver o vazamento (a hemorragia) e evitar um novo acúmulo de sangue (o hematoma) no futuro.
Como mencionado anteriormente, Lula vai ar pela embolização na manhã desta terça-feira (12/12) e os médicos que o acompanham devem divulgar mais informações sobre o caso numa coletiva de imprensa agendada para às 10h da manhã, no horário de Brasília.
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