Emmanuel Macron decidiu jogar todas as fichas de sua sobrevivência no poder e do fim da crise política em um aliado de sete anos. Em viagem oficial à Polônia, onde foi recebido pelo presidente Andrzej Duda e pelo premiê Donald Tusk, o titular do Palácio do Eliseu nomeou o ex-deputado centrista François Bayrou, 74 anos, para o cargo de primeiro-ministro — o quarto desde o início do mandato de Macron, em 2017, e o terceiro apenas neste ano.
O último premiê, Michel Barnier, não resistiu a um voto de confiança e foi destituído pela Assembleia Nacional sa, em 4 de dezembro, por 331 votos, 43 acima da maioria absoluta de 288. Bayrou chega ao governo de Macron em meio ao ime sobre o orçamento para 2025, que também foi barrado pelo parlamento. "Ninguém conhece melhor do que eu a dificuldade da situação" política e orçamentária da França, declarou o novo primeiro-ministro, em seu primeiro discurso.
Bayrou, que tomou posse em uma cerimônia no Hotel Matignon, em Paris, precisará de habilidade para assegurar uma maioria na Assembleia Nacional capaz de garantir a governabilidade e de impedir sua queda. Ele comparou sua missão a um "Himalaia" e tratou de fazer um aceno às forças políticas do país, ao defender a "reconciliação" como instrumento para superar a instabilidade.
A tarefa não será fácil. Presidente do Movimento Democrático (MoDem), ele enfrenta a resistência do partido de esquerda. Socialistas, comunistas e ecologistas, aliados do partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI) na Nova Frente Popular (NFP), se recusaram a entrar em um governo chefiado por Bayrou, apesar de terem aceitado discutir com a aliança de Macron e o partido de direita Os Republicanos (LR). O risco é de que eles imponham ao premiê escolhido o mesmo destino de Barnier. Os primeiros pediram, em vão, um primeiro-ministro de esquerda e uma mudança de rumo na política do governo, sobretudo após sua coalizão, que está à beira da ruptura, vencer as eleições legislativas.
"Ao nomear um de seus aliados (...), Macron se arrisca a agravar a crise política", alertaram os socialistas, pedindo que Bayrou se comprometa a não aprovar leis por decreto e a não depender da extrema direita, evitando, assim, a censura. Por sua vez, o partido LFI anunciou que apresentará uma moção de censura contra o novo premiê.
A extrema direita, que provocou a queda de seu antecessor, ao apoiar uma moção da NFP, disse que "a princípio" não o faria se ele acatasse suas demandas. Em setembro, o LR abandonou a oposição e, agora, condicionou a permanência no governo ao "projeto" de Bayrou. Na noite de ontem, o novo premiê convocou o ministro do Interior, o polêmico Bruno Retailleau, para abordar as prioridades do partido conservador. A composição do governo nos próximos dias e sua linha política serão estratégicas para sua sobrevivência. Por enquanto, o Executivo anterior apresentou uma "lei especial" para prorrogar o orçamento de 2024 e poder cobrar impostos.
Embora a Presidência sa tenha defendido Bayrou como o "candidato mais consensual" para "dialogar" com os demais partidos com vistas a uma "estabilidade" — exceto a extrema direita e a esquerda radical —, sua nomeação ficou no limbo horas antes. De acordo com a agência -Presse, o presidente, de centro direita, tinha a intenção de indicar o ministro da Defesa, Sébastien Lecornu. No entanto, durante uma reunião de quase duas horas, Bayrou ameaçou uma ruptura com a coalizão governista.
"Na longa história da Quinta República (iniciada em 1968), esta pode ter sido a primeira vez em que um primeiro-ministro elege a si próprio", afirmou Mutjaba Rahman, analista do Eurasia Group, para quem o novo premiê deverá se aproximar da esquerda para aprovar o orçamento.
Risco 6n1v1c
Um novo fracasso poderia agravar a crise política desatada por Macron em junho, com a antecipação inesperada das eleições legislativas de 2027, das quais saiu uma Assembleia Nacional em maioria clara e dividida em três blocos: esquerda, centro direita e extrema direita. Mas a pressão, agora, é maior. A segunda economia da União Europeia conta com altos níveis de deficit e de dívida públicos para a zona do euro, e os orçamentos frustrados de Barnier previam uma forte diminuição dos gastos públicos para acalmar os mercados.
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Embora Macron possa convocar novas legislativas a partir de julho, todos os partidos pensam nas eleições nacionais de 2027, nas quais o presidente não poderá se candidatar. As legendas buscam evitar se associar ao projeto de um chefe de Estado impopular, mas sem parecer responsáveis pela instabilidade política.