
A Ucrânia proporá uma trégua aérea e naval com a Rússia durante negociações com uma delegação dos EUA na Arábia Saudita na terça-feira, disse uma alta autoridade ucraniana à AFP nesta segunda-feira (10).
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, deve chegar ao reino do Golfo nesta segunda-feira, onde uma delegação de Kiev se encontrará com representantes dos Estados Unidos na terça para discutir futuras negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.
De acordo com uma alta autoridade ucraniana, que pediu para não ser identificada, a Ucrânia apresentará "uma proposta para uma trégua no ar e uma trégua no mar, porque essas são opções de cessar-fogo fáceis de implementar e monitorar".
Zelensky enfatizou em uma mensagem do Telegram que "a Ucrânia busca a paz desde o primeiro segundo da guerra e sempre dissemos que a única razão pela qual a guerra continua é a Rússia".
Espera-se que a reunião de terça-feira seja a primeira entre as autoridades ucranianas e americanas desde a desastrosa visita de Zelensky à Casa Branca no final de fevereiro, que desencadeou uma tensa discussão.
Desde então, Washington suspendeu a ajuda militar e parou de compartilhar dados de inteligência, e Kiev tentou retomar os laços com o presidente Donald Trump.
Zelensky se encontrará com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman e sua equipe "ficará na Arábia Saudita para trabalhar com [seus] parceiros americanos", disse o presidente ucraniano.
As negociações ocorrerão em Jidá, às margens do Mar Vermelho, onde bandeiras ucranianas estavam hasteadas nas principais ruas nesta segunda-feira.
De acordo com o enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, a reunião deve "definir uma estrutura para um acordo de paz e um cessar-fogo inicial" entre Rússia e Ucrânia.
"Vantagem" para a Rússia
De acordo com a revista britânica The Economist, a Ucrânia provavelmente avisará que não aceitará nenhum acordo que limite sua capacidade de rearmamento, que a force a reconhecer os territórios ocupados por Moscou como parte da Rússia ou que interfira na política interna ucraniana.
O governo britânico realizará uma reunião virtual no sábado com os países dispostos a apoiar uma trégua na Ucrânia, anunciou Downing Street.
As relações entre Washington e Kiev mudaram drasticamente nas últimas semanas, desde que Donald Trump retornou à Casa Branca em janeiro.
Uma transformação que coincide com um momento delicado para Kiev na frente de batalha. No último fim de semana, a Rússia reivindicou avanços significativos na região de Kursk, parcialmente ocupada pelos ucranianos, além de avanços na região ucraniana de Sumy, pela primeira vez desde 2022.
Para o alto funcionário ucraniano, que falou à AFP, se os Estados Unidos continuarem omitindo as informações de inteligência de Kiev, a Rússia ganhará uma "vantagem significativa" no campo de batalha.
No final de fevereiro, depois que Trump acusou Zelensky de ser um "ditador", ingrato e de não querer a paz, os dois se envolveram em uma tensa discussão no Salão Oval da Casa Branca.
Um acordo deveria ter sido concluído naquele dia para permitir aos Estados Unidos o aos recursos minerais da Ucrânia, mas nunca foi assinado.
"Muitos avanços"
No entanto, as tensões diminuíram nos últimos dias: Zelensky chamou o incidente de "lamentável" e Trump disse que seu contraparte ucraniano está disposto a negociar, inclusive ameaçou Moscou com novas sanções. No domingo, o presidente dos EUA disse aos repórteres que haveria "muitos avanços a partir desta semana".
Na terça-feira, a Ucrânia será representada pelo chefe da istração presidencial, Andrii Yermak; pelo chanceler, Andrii Sybiga; o ministro da Defesa, Rustem Umerov, e chefe-adjunto do gabinete presidencial, Pavlo Palissa.
Enquanto isso, os Estados Unidos enviaram funcionários de alto escalão que se encontraram com uma delegação russa em fevereiro, incluindo o secretário de Estado, Marco Rubio, e o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz.
Marco Rubio deve chegar a Jidá nesta segunda-feira e também se encontrará com Mohammed bin Salman, de acordo com o Departamento de Estado.