EUA

Trump enfrenta crise interna com bolsas despencando e ameaças de greve

Sem descartar o risco de recessão no país, o presidente norte-americano enfrenta ainda a ameaça de paralisia do serviço público por falta de orçamento e possibilidade de desemprego

O republicano diz que o momento representa um
O republicano diz que o momento representa um "período de transição" e deu a entender que "leva um tempo" organizar a economia - (crédito: Getty Images via AFP)

Às vésperas de completar dois meses no poder, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vive um momento de turbulências econômicas. A crise interna envolve desde as tarifas que planeja impor a praticamente todos os países, que impulsionaram a moeda em relação às divisas mais negociadas, ao risco de paralisia dos serviços públicos por ausência de orçamento e outras medidas internas. A situação se agravou ainda mais diante do temor de uma recessão, gerando queda nas bolsas norte-americanas.

Trump itiu, em entrevista à Fox News, que os Estados Unidos estão "em um período de transição", o que, ao seu ver, "leva tempo". A resposta foi à pergunta se havia risco de recessão no país. Também ratificou sobre a elevação das taxas de juros de 25% impostas ao Canadá e México, parceiros importantes dos Estados Unidos. A rede ABC News informou que as ações despencaram, com perdas generalizadas em meio a uma guerra comercial crescente. O Dow Jones Industrial Average fechou em queda de 890 pontos, ou 2%, enquanto o S &P 500 caiu 2,7%. O Nasdaq, de alta tecnologia, despencou 4%, o que resultou em mais de US$ 1 trilhão em perdas, de acordo com a Bloomberg. A Tesla caiu 15%, A United Airlines e a Delta, mais de 4%.

A reação do republicano ocorre no momento em que o governo norte-americano aguarda a boa vontade do Congresso para aprovar o orçamento. A possível demora ameaça o funcionamento do Estado — o chamado "shutdown", quando há uma paralisia das atividades fundamentais para o funcionamento do país. O Congresso evitou uma paralisação no último minuto em dezembro, mas somente até 14 de março. Há uma proposta em discussão que pode salvar a situação até setembro.

Essa iniciativa permitiria Trump trabalhar com um orçamento mais coerente para financiar suas medidas, como a expulsão de migrantes. Mas os republicanos têm pouca margem de manobra na Câmara dos Representantes, uma vez que os conservadores ortodoxos se opõem às leis temporárias porque acreditam que só agravam o endividamento do país. A oposição democrata não apoiará o texto, em meio a cortes de pessoal no setor público federal, seguindo a orientação do conselheiro do presidente republicano, o bilionário Elon Musk.

Desemprego

De acordo com especialistas, se isso ocorrer, serão milhares de funcionários públicos tecnicamente desempregados, sem remuneração, até que a situação seja resolvida. O tráfego aéreo seria interrompido, parques nacionais, fechados e os pagamentos de auxílios alimentares a famílias de baixa renda seriam afetados. A situação é considerada muito impopular. No seu primeiro mandato (2017-2021), o presidente norte-americano teve uma queda de braço com os democratas sobre o financiamento para o muro na fronteira sul com o México, o que levou à paralisação parcial do governo federal por 35 dias.

Esse cenário tem repercussão direta no Brasil (ver página 8) e vários outros locais, elevando o dólar e criando instabilidade no mercado de investimentos. O novo primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, que acaba de assumir o posto, promete reagir com ferocidade às tarifas comerciais impostas por Trump. Em entrevista coletiva, demonstrou que não ficará parado e que vai adotar medidas severas contra o país vizinho. Ele reiterou a defesa pela autonomia e independência dos canadenses.

Ajuda externa

Em meio à crise interna, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, anunciou o cancelamento de 83% dos programas da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que representa uma parte importante da ajuda humanitária mundial. Em janeiro, Trump congelou a ajuda externa, alegando que estava em inconformidade com a política de seu governo, como as questões relativas a aborto, planejamento familiar e defesa da diversidade e inclusão.

"Os 5.200 contratos que agora estão cancelados implicaram gastos de bilhões de dólares de maneiras que não favoreceram (e em alguns casos até prejudicaram) os interesses nacionais fundamentais dos Estados Unidos", acrescentou Rubio. Criada em 1961, a agência USAID distribui ajuda humanitária por meio de programas de saúde e emergência em 120 países. O orçamento anual da entidade é de US$ 42,8 bilhões (R$ 247 bilhões de reais), e representa 42% da ajuda humanitária distribuída no mundo.

Nesta segunda-feira, Rubio agradeceu especialmente ao Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado pelo bilionário Elon Musk, que promove um corte de gastos e de postos de trabalho em todos os departamentos do governo.

Trump e seus aliados argumentam que a assistência externa é um desperdício e não serve aos interesses dos Estados Unidos. Já as organizações defendem que os cortes ameaçam a vida das pessoas mais vulneráveis.

Palestino preso

O governo dos Estados Unidos determinou ontem a prisão de Mahmoud Khalil, líder dos protestos pró-palestinos do ano ado na Universidade de Columbia, em Nova York. Segundo Trump, foi "a primeira prisão de muitas". O estudante é de origem palestina, mas vive legalmente no país, inclusive tem "green card", e a mulher está grávida de 8 meses. A iniciativa é uma ação direta contra os que participaram de manifestações dessa ordem. Para o republicano, os manifestantes são  "agitadores pagos". Ben Wizner, diretor do Projeto de Expressão, Privacidade e Tecnologia da ACLU, disse que essas ações visam "intimidar e desencorajar a expressão de uma parte do debate público"

Correio Braziliense
postado em 11/03/2025 03:55
x