Estados Unidos

Vazamento de plano de guerra coloca pressão sobre a Casa Branca

Presidente Donald Trump busca se distanciar do escândalo de vazamento dos planos de ataque ao Iêmen. Democratas pedem a renúncia do secretário da Defesa, Pete Hegseth. Conselho de Segurança Nacional assume responsabilidade

Donald Trump, em foto feita em 21 de março, no Salão Oval da Casa Branca, ao lado de Pete Hegseth: tentativa de proteger o secretário -  (crédito: Annabelle Gordon/AFP)
Donald Trump, em foto feita em 21 de março, no Salão Oval da Casa Branca, ao lado de Pete Hegseth: tentativa de proteger o secretário - (crédito: Annabelle Gordon/AFP)

"Atualização da equipe: O tempo agora é favorável. Acabo de confirmar com o Centcom (Comando Central dos EUA) que lançaremos a missão", escreveu o secretário da Defesa americano, Pete Hegseth, no Houthi PC small group, um grupo do aplicativo de mensagens Signal que era frequentado por 19 membros, entre eles, além de Hegseth, o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance; Michael Waltz, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca; e John Ratcliffe, diretor da Agência Central de Inteligência (CIA). Hegseth acrescentou, duas horas e meia depois: "Ataques de drones (isso é, quando as primeiras bombas caírem)". 

O secretário da Defesa e os demais integrantes do grupo não se deram conta de que, no meio deles, havia um jornalista adicionado por engano. O plano do ataque aos rebeldes separatistas huthis, do Iêmen, ocorrido em 15 de março, foi exposto pela revista The Atlantic, da qual o "intruso" Jeffrey Goldberg é o editor-chefe. A publicação das telas intensificou a pressão sobre a Casa Branca e as cobranças de renúncia de Hegseth. Também produziu uma "corrida" das autoridades para tentarem minimizar o incidente.

O Conselho de Segurança Nacional, o Gabinete do Conselho da Casa Branca e a equipe do executivo Elon Musk — chefe do Departamento de Eficiência Governamental — investigam como Goldberg foi adicionado ao grupo do Signal. "Elon Musk ofereceu-se para colocar seus especialistas técnicos nisso para descobrir como esse número foi inadvertidamente aceito na conversa", declarou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.

O presidente Donald Trump buscou se distanciar do escândalo e levantou a hipótese de "defeito" no aplicativo Signal. Ao ser questionado por repórteres se as informações vazadas não eram confidenciais, ele respondeu: "Foi o que ouvi, não sei, não estou certo, você tem que perguntar às muitas pessoas envolvidas". O republicano disse que pretende descobrir "se há algum erro ou se o Signal não funciona". "Pode ser que o Signal não seja uma empresa muito boa. (...) Acho que o Signal pode ser defeituoso, para ser honesto com vocês. Usamos o Signal, todo mundo usa o Signal, mas pode ser uma plataforma defeituosa, e vamos ter que descobrir isso", acrescentou. 

Trump responsabilizou Waltz por ter criado um grupo no Signal e incluído Goldberg sem perceber e procurou isentar Hegseth. "Foi Mike (Waltz), eu acho, não sei. (...) Como vocês trazem Hegseth para isso? Ele nada tem a ver com isso. Tudo isso é uma caça às bruxas", disse. A Casa Branca confirmou que o presidente leu as mensagens no Houthi PC small group. O chefe do Pentágono se defendeu e afirmou que fez o seu trabalho ao transmitir "informações em tempo real" sobre o ataque ao Iêmen.

Parece não ter sido o suficiente para reduzir a pressão. "Pete Hegseth deve ser demitido imediatamente se não tiver coragem de reconhecer seu erro e renunciar", afirmou à rede de TV CNN o líder democrata na Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries. A também democrata Tammy Duckworth, integrante do Comitê de Serviços Armados do Senado, chamou o secretário da Defesa de mentiroso. "Trata-se claramente de informações classificadas, que vazaram por negligência", declarou, em alusão a uma publicação de Hegseth na rede social X, em que ele cita "planos de guerra realmente medíocres". 

Cuidado

"As comunicações ultrassecretas devem ser transmitidas com o máximo cuidado e segurança, para prevenir o não autorizado e proteger informações confidenciais de ameaças em potencial", declarou ao Correio Scott J. White, professor associado e vice-diretor do Instituto de Pesquisa sobre Privacidade e Cibersegurança da Universidade George Washington, em Washington D.C.

Parte das mensagens enviadas por Pete Hegseth no aplicativo Signal
Parte das mensagens enviadas por Pete Hegseth no aplicativo Signal (foto: Kayla Bartkowski/Getty Images/AFP)

A reportagem publicada pela The Atlantic, ontem, apresenta as capturas de tela de mensagens de Hegseth. Duas horas depois do cronograma elencado pelo secretário da Defesa nas mensagens, houve o bombardeio ao Iêmen. Também ontem, ao conceder entrevista para o apresentador de podcast Vince Coglianese, Trump garantiu que "não havia detalhes" na troca de informações. "Não havia nada ali que comprometesse e não teve impacto no ataque, que foi um grande sucesso", comemorou. 

J.D. Vance acusou a The Atlantic de superdimensionar a história. "Sem localizações, sem fontes ou métodos. Sem planos de guerra", reagiu Waltz. Na segunda-feira, ele itiu ter criado o grupo no Signal. O secretário de Estado, Marco Rubio, reconheceu que "alguém cometeu um grande erro" ao incluir Goldberg no grupo e explicou que o espaço foi aberto para a coordenação de comunicações.

Rodrigo Craveiro
postado em 27/03/2025 06:00
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