O papa de todas as fés

"Jorge nos olhará e estará sempre presente", diz sobrinho de papa Francisco

Para o funcionário público de 41 anos, que se refere ao tio usando seu primeiro de batismo, o jesuíta argentino deixa lições de respeito, humildade, empatia e simplicidade

José Ignacio Bergoglio com o tio, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco  -  (crédito: Arquivo pessoal )
José Ignacio Bergoglio com o tio, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco - (crédito: Arquivo pessoal )

A intimidade fica evidente na forma como ele se dirige ao papa Francisco: "Jorge" — o primeiro nome do jesuíta argentino que comandou a Igreja Católica por 12 anos, Jorge Mario Bergoglio. O tempo verbal também parece fazer não acreditar que o tio, que lhe deu a primeira comunhão e a crisma, partiu na última segunda-feira, aos 88 anos. O funcionário istrativo José Ignacio Bergoglio, 41 anos, sobrinho de Francisco, começou se referindo ao tio no presente. "É um grande amigo, humilde, simples, de trato fácil, misericordioso", afirmou, em entrevista exclusiva ao Correio, a partir de Buenos Aires. Para José Ignacio, Francisco deixa lições de respeito, humildade, empatia e simplicidade, além de abnegação e doação. "Francisco deixará um enorme legado. É difícil esclarecer em breves palavras, mas creio que uma Igreja aberta, próxima aos fiéis e aos que sofrem, uma Igreja pobre para os pobres", itiu. Ele acredita que o próximo conclave escolherá o sucessor de Francisco inspirado pelo Espírito Santo, a fim de permitir a continuidade de sua obra.  

Como o senhor se recordará de seu tio Jorge Mario Bergoglio?

Jorge deixa uma lembrança inapagável em nossas vidas. É um grande amigo, humilde, simples, de trato fácil, misericordioso. Um companheiro muito bom, um excelente conselheiro. Vamos nos recordar dele com muito carinho, com muito amor. Ele estará sempre presente em nossas vidas para acompanhar-nos, para cuidar de nós, a partir do céu. Ele nos olhará e estará sempre presente. 

Quais as principais lições de vida que ele deixa para o senhor?

Creio que as lições mais importantes que ele nos deixou foram os pilares na vida: respeito, humildade, simplicidade, empatia. Também tem a ver com dedicação. Jorge se jogou em sua vocação, em seu amor a Deus e ao povo. Ele se dedicou até o ponto em que, no último dia de sua vida, saiu a abraçar o povo de Roma que o esperava na Praça de São Pedro. Sem dúvida, esses pilares são os mais importantes que tenhamos em nossas vidas. 

Qual foi o momento muito especial que o senhor guarda com carinho no coração?

No âmbito pessoal, citaria muitos momentos. Ele deu a primeira comunhão para mim e para uma fila de amiguinhos meus, que estavam presentes. Eu e minha esposa, que também tem um tio sacerdote, tivemos a sorte de receber a comunhão das mãos de nossos tios. Meu tio também me deu a confirmação do batismo. Me recordo de uma conversa que tive com ele, em que manifestei certa raiva e mal-estar com certas questões das igrejas de bairros, das secretarias de portas fechadas. Ele me presenteou com umas palavras que sei como valorizar, não é? Ele me disse: "José, tem razão em coisas para mudar. Aí ele falou: "Agora, o que você está fazendo para mudá-las? As coisas mudam por dentro, não por fora, não as criticando. Comprometa-se com tudo aquilo que o incomoda, comprometa-se". 

De que maneira o senhor analisa o legado de Francisco?

Francisco deixará um enorme legado. É difícil esclarecer em breves palavras, mas creio que uma Igreja aberta, próxima aos fiéis e aos que sofrem, uma Igreja pobre para os pobres, de pastores com ovelhas. Pastores que saem do rebanho para buscar aquelas que escaparam. Uma Igreja mais humana, que não tem medo de reconhecer seus erros, de pedir desculpas. Jorge, ou Francisco, pediu desculpas, em nome da Igreja, por coisas que se aram há muito tempo. São muitos os legados que ele deixa para esta Igreja.

E o futuro da Igreja, como será, sem ele?

Que pergunta, não? É difícil pensar em uma Igreja sem ele. É um pouco da questão anterior: Jorge ou Francisco deixará um grande legado nesta Igreja, com um monte de reformas em curso. Sem dúvida alguma, a Igreja elegerá, por meio do Espírito Santo, um novo sucessor. Creio que ele seguirá nesta linha de abertura, de reformas, de aproximação com a gente. A Igreja viveu mais de dois mil anos e isso se deve ao fato de ela ter sabido adaptar-se aos tempos atuais. A Igreja sabe que este mundo mudou e que tem que buscar novas formas de se comunicar com seus fiéis, de chegar até eles. Nesse sentido, creio que seguirá na mesma linha. 

 

 

 

 

postado em 25/04/2025 06:05
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