O papa de todas as fés

"Pré-conclave" marca o início do funeral do papa Francisco no Vaticano

Cardeais dão início a reuniões informais, no Vaticano, para discutir o nome do futuro ocupante do trono de São Pedro. A expectativa é que o novo pontífice seja um conciliador

Os religiosos que já se manifestaram sobre o processo eleitoral concordam que o perfil do novo ocupante do trono de São Pedro deve ser unificador, agradando tanto os mais progressistas quanto os conservadores -  (crédito:  AFP)
Os religiosos que já se manifestaram sobre o processo eleitoral concordam que o perfil do novo ocupante do trono de São Pedro deve ser unificador, agradando tanto os mais progressistas quanto os conservadores - (crédito: AFP)

À véspera do funeral do papa Francisco, cardeais que escolherão o próximo pontífice começaram uma série de reuniões informais na preparação para o conclave, período em que, trancados na Capela Sistina da Basílica de São Pedro, votarão em um nome até que a fumaça branca da chaminé anuncie que Habemos papam. Os religiosos que já se manifestaram sobre o processo eleitoral concordam que o perfil do novo ocupante do trono de São Pedro deve ser unificador, agradando tanto os mais progressistas quanto os conservadores. 

Ainda não há data para o início do conclave, que só pode começar quando os 135 cardeais votantes — aqueles com menos de 80 anos — chegarem ao Vaticano. Segundo a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, que rege o processo, a votação deve ocorrer entre 15 e 20 dias após a morte do papa. O prazo pode ser antecipado, caso todos os eleitores cheguem antes disso, e a data que vem sendo apontada pela mídia italiana é entre 5 e 6 de maio. 

A missão de escolher um novo líder após os 12 anos de pontificado de Francisco — um papa amado por muitos, mas que enfrentou forte oposição dentro da própria Igreja — não será fácil. O cardeal luxemburguês Jean-Claude Hollerich, que já está no Vaticano, confessou aos repórteres que está apreensivo. "Nós nos sentimos muito pequenos. Devemos tomar decisões para toda a Igreja, então rezem por nós", afirmou o jesuíta, um próximo conselheiro de Francisco.

Responsabilidade

Na opinião do cardeal franco-espanhol François-Xavier Bustillo, os cardeais não devem ser "táticos ou estratégicos". "Devemos servir e agir com responsabilidade", disse, citado pela agência de notícias Presse (AFP). Já o conservador Gerhard Müller, um confesso opositor de Francisco, foi menos diplomático. Em entrevista ao jornal britânico The Times, disse que a Igreja Católica corre o risco de cisma, caso um papa progressista seja eleito novamente. "A questão não é entre conservadores e liberais, mas entre ortodoxia e heresia", declarou o cardeal alemão. 

Oscar Rodriguez Maradiaga, cardeal de Honduras, tem mais de 80 anos e não pode voltar. Porém, disse ao jornal italiano La Stampa que espera alguém simples e humilde. "Um pontífice que mina as lutas de poder dentro da igreja, que continua sendo uma referência de paz no mundo." 

Para Kim Haines-Eitzen, professora de estudos religiosos da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, o posicionamento do futuro papa em relação a questões políticas, sociais e morais é um ponto-chave do conclave. "O papa Francisco foi um defensor incansável dos vulneráveis e dos marginalizados, incluindo os migrantes. Seus esforços para incluir as vozes das mulheres e expandir sua liderança remontam aos primórdios da história da Igreja", aponta. "A questão agora é se o próximo papa seguirá os os progressistas de Francisco."

Sinodalidade

Professor de história e especialista em catolicismo, o norte-americano John T. McGreevy, da Universidade de Notre Dame, acredita que o próximo papa dará continuidade a um conceito bastante usado por Francisco, o da sinodalidade. Segundo a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o termo se refere ao espírito de unidade do povo cristão, para que todos caminhem juntos. "Francisco iniciou, por meio do processo de sinodalidade, uma nova maneira de os católicos falarem sobre as questões que os dividem ou sobre os novos desafios", diz. "O impacto desse mecanismo é incerto; mas parece improvável que seja totalmente interrompido."

Dos 135 cardeais votantes, 80% foram nomeados por Francisco, que priorizou países do Sul Global e regiões isoladas. "Ele nomeou um grande número de cardeais diversos, então é estatisticamente provável que alguém com sua abertura possa ser eleito", destaca Michele Dillion, professora de Sociologia da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, especialista em catolicismo.

 


Eu acho

"Há grande especulação sobre quem, do Colégio Cardinalício, pode ser o próximo papa. Atualmente, há 252 cardeais no total, vindos de uma ampla gama de países, incluindo, é claro, a Itália. Eles variam muito em suas ideias sobre a direção futura da Igreja Católica, desde o Cardeal Robert Sarah, Prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, que representa a ala tradicional da Igreja, até o cardeal liberal Luis Tagle, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização. Atualmente, 12 dos 22 cardeais mais importantes são considerados nos círculos do Vaticano como papabili, ou seja, sérios candidatos a papa por não serem muito velhos e possuírem as qualidades de liderança adequadas. Dado o crescimento e a vitalidade do catolicismo nos países em desenvolvimento, em comparação com o declínio do cristianismo no Ocidente, é provável que o próximo papa venha da África. Ele pode vir da Europa, embora, como o catolicismo é uma religião global, haja um desejo de garantir que o papado (com sede na Cidade do Vaticano) não se torne muito eurocêntrico. Como Francisco I é da Argentina, é improvável que haja um papa sul-americano duas vezes consecutivas."

Rebecca Rist, professora de História Medieval da Universidade de Reading, na Austrália

  • Soldado da Guarda Suíça reverencia cardeais no Vaticano: votação para a escolha do sucessor do papa deve ocorrer a partir de 5 de maio
    Soldado da Guarda Suíça reverencia cardeais no Vaticano: votação para a escolha do sucessor do papa deve ocorrer a partir de 5 de maio Foto: AFP
  •  This photo taken and released on April 23, 2025, by The Vatican Media shows cardinals paying their respects and walking next to the coffin of late Pope Francis at the St Peter's Basilica, during a ceremony following the procession of the late Pope's coffin from the chapel of Santa Marta to St Peter's Basilica in The Vatican. (Photo by Handout / VATICAN MEDIA / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT
    This photo taken and released on April 23, 2025, by The Vatican Media shows cardinals paying their respects and walking next to the coffin of late Pope Francis at the St Peter's Basilica, during a ceremony following the procession of the late Pope's coffin from the chapel of Santa Marta to St Peter's Basilica in The Vatican. (Photo by Handout / VATICAN MEDIA / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / VATICAN MEDIA" - NO MARKETING - NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS Foto: AFP
postado em 26/04/2025 05:01
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