Estados Unidos

Professores criticam proibição de alunos estrangeiros em Harvard

Em entrevista ao Correio, dois professores da renomada universidade não pouparam críticas ao governo do republicano Donald Trump e alertaram sobre as consequências da medida para o ensino e a pesquisa

Estudantes caminham em pátio da universidade, em Cambridge, no estado de Massachusetts -  (crédito: Jozeph Prezioso/AFP)
Estudantes caminham em pátio da universidade, em Cambridge, no estado de Massachusetts - (crédito: Jozeph Prezioso/AFP)

A guerra travada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra uma das mais prestigiadas instituições de ensino do mundo tem novo capítulo. Em carta ao presidente da Universidade de Harvard, Alan Garber, a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, anunciou a "revogação com efeito imediato" da certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio (Sevis), que permite a estrangeiros estudar nos EUA. Com isso, ficam proibidas as matrículas de alunos estrangeiros. Estudantes provenientes de outros países que se encontram matriculados terão que buscar outras universidades.

"Harvard teve muitas chances de fazer o correto. Negou-se. Perdeu a certificação do Sevis como resultado do descumprimento da lei. Que isso sirva de aviso a todas as universidades e instituições acadêmicas do país", publicou Kristi na rede social X.

Segundo a secretária, Harvard fomenta a violência e o antissemitismo e "se alinha com o Partido Comunista da China em seu campus". Em comunicado enviado à agência de notícias -Presse, a Universidade de Harvard classificou a ação do governo como "ilegal". "Estamos totalmente comprometidos a manter a capacidade de Harvard de receber nossos estudantes e acadêmicos internacionais, que são procedentes de mais de 140 países e enriquecem a universidade e esta nação de forma incomensurável", afirmou.

A nota adverte que "a ação retaliatória ameaça prejudicar gravemente a comunidade de Harvard e o país, e prejudica a missão acadêmica e de pesquisa da universidade". O número de estudantes estrangeiros em Harvard chega a 6.793, o que representa 27,2% do total. A cada ano, a instituição recebe entre 200 e 300 alunos e acadêmicos brasileiros. 

Alex Keyssar, professor de história e de política social da Universidade de Harvard, itiu ao Correio que o veto de matrícula de estudantes estrangeiros se insere na continuação e na escalada da guerra lançada por Trump contra a instituição. "Uma razão pela qual isso se intensificou é que Harvard não recuou nem se rendeu às exigências anteriores feitas à universidade — exigências que significariam abrir mão da independência da universidade", observou. Para ele, o conflito atual deve ser compreendido também como uma guerra de procuração. "Ao lutar contra Harvard, o governo Trump ataca o ensino superior de forma mais geral, a ciência e o que percebe como sendo o establishment liberal."

Carola Suárez-Orozco, professora da Faculdade de Educação de Harvard, acha que o anúncio do Departamento de Segurança Interna é "profundamente preocupante em vários níveis". "Para Harvard, essa política representa uma ameaça financeira significativa, visto que os estudantes internacionais representam mais de um quarto do nosso corpo discente", explicou ao Correio. Ela reconhece que o verdadeiro custo é "muito maior". "A perda de estudantes internacionais representa um profundo deficit humano e intelectual. Isso priva a nossa comunidade da diversidade de perspectivas e da criatividade." 

A professora se disse muito preocupada com a forma com que tais políticas possam prejudicar o desenvolvimento acadêmico e pessoal. "Nessa era de crescente exclusão, é fundamental que reconheçamos e protejamos as contribuições dos estudantes internacionais, não apenas para a vitalidade de nossas instituições, mas para o futuro de nossa sociedade."

EU ACHO...

Alex Keyssar, historiador político da Universidade de Harvard
Alex Keyssar, historiador político da Universidade de Harvard (foto: X/Reprodução)

"A proibição de matrícula de estudantes estrangeiros não é uma surpresa completa. O governo Trump vem ameaçando fazê-lo. Ainda assim, é chocante ver isso acontecer. A ordem, provavelmente, é ilegal e deverá ser revertida nos tribunais. Mas isso poderia levar meses, e muitos danos terão sido causados aos alunos e à instituição."

Alex Keyssar, professor de história e de política social da Universidade de Harvard

Carola Suárez-Orozco, diretora da Iniciativa de Imigração em Harvard e professora da Faculdade de Educação da universidade
Carola Suárez-Orozco, diretora da Iniciativa de Imigração em Harvard e professora da Faculdade de Educação da universidade (foto: Arquivo pessoal )

"Como professor que trabalha em estreita colaboração com muitos estudantes de pós-graduação talentosos e comprometidos, considero desolador que suas vidas e trajetórias acadêmicas possam ser destruídas, no meio dos estudos, sob pretextos precários. Testemunhei em primeira mão a ansiedade e a angústia que esses estudantes têm enfrentado."

Carola Suárez-Orozco, diretora da Iniciativa de Imigração em Harvard e professora da Faculdade de Educação

  • Alex Keyssar, historiador político da Universidade de Harvard
    Alex Keyssar, historiador político da Universidade de Harvard Foto: X/Reprodução
  • Carola Suárez-Orozco, diretora da Iniciativa de Imigração em Harvard e professora da Faculdade de Educação da universidade
    Carola Suárez-Orozco, diretora da Iniciativa de Imigração em Harvard e professora da Faculdade de Educação da universidade Foto: Arquivo pessoal
postado em 23/05/2025 05:53
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