
"A Faixa de Gaza é o local mais faminto da Terra", assegurou ao Correio, por meio do WhatsApp, Jens Laerke, porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da Organização das Nações Unidas (OCHA) em Genebra. De acordo com ele, a IPC (Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar) — referência global para análise de crises alimentares e nutricionais — estabelece que toda a população de Gaza (2 milhões de palestinos) enfrentam "risco crítico de fome, depois de 19 meses de conflito, deslocamento em massa e bloqueio à ajuda humanitária vital". "Não há tempo a perder", alertou.
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Laerke garantiu que a OCHA e seus parceiros estão prontos para entregar a ajuda humanitária aos palestinos necessitados, "onde quer que estejam". "Precisamos, urgentemente, da reabertura de todas as agens fronteiriças para Gaza, a fim de receber ajuda a partir de todos os corredores, incluindo Jordânia e Egito; de um ambiente seguro em Gaza, para que possamos alcançar as pessoas em segurança; e da habilidade de entregar alimentos diretamente às famílias", explicou. "Não menos importante, que todas as partes respeitem o direito internacional e os princípios humanitários de humanidade, imparcialidade, independência e neutralidade."
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Segundo Laerke, dezenas de milhares de paletes de alimentos e outros itens essenciais estão prontos para entrar em Gaza. "A ajuda foi paga por doadores do mundo todo. Foi liberada na alfândega, aprovada e está pronta para ser transportada. Podemos entregá-la imediatamente. Precisamos inundar Gaza com ajuda, e rapidamente", comentou, ao responsabilizar o bloqueio total imposto por Israel pela crise humanitária.
Apesar do alerta feito pelo OCHA, o ministro israelense da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, defendeu o uso de "força total" no território ocupado palestino. "Depois que o Hamas rejeitou a proposta de acordo mais uma vez, não há mais desculpas (...). É hora de entrar com toda a força necessária, sem hesitar, para destruir (...) o Hamas", escreveu Ben Gvir, em mensagem enviada pelo Telegram ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
"Dádiva divina"
"Desde que o primeiro-ministro Netanyahu formou este último governo, há quase três anos, tenho repetido repetidamente que seu governo é fascista e messiânico, que fará de tudo para expulsar os palestinos e anexar gradualmente a maior parte, se não toda, da Cisjordânia e, eventualmente, Gaza", afirmou ao Correio Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio. "Para este governo, o ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, foi uma dádiva divina, que lhes deu a oportunidade de realizar o que tanto sonhavam", acrescentou. Para ele, as declarações de Ben-Gvir não são uma surpresa. "No fim das contas, Israel pagará o preço pelo horror que se desenrola em Gaza. Será apenas uma questão de quando", advertiu.