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PLANEJAMENTO

Artigo: "Cidades e investimentos"

Correio Braziliense
postado em 04/04/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

Por ALDO PAVIANI — Geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília

Poucos se preocupam com os custos ou quais os valores financeiros aplicados num determinado centro urbano. Um dos motivos que leva a isso é que as cidades têm longa história desde sua fundação. Na evolução urbana, há cidades que foram surgindo no litoral por ter ancoradouros ou facilidade de o por navios. Dos portos que foram se formando, no caso brasileiro, surgiram cidades prósperas e que acabaram sendo capitais de províncias no Império, sendo mantidas na República. Por isso, há um cordão urbano ao longo da costa, o que acontece em países litorâneos.

No caso brasileiro, essas capitais, lentamente, cresceram e os investimentos nelas feitos são serviços, comércio ou conjuntos industriais e todos os equipamentos que os urbanitas demandavam. Isso vai num crescendo e nunca se completa porque sempre cabe algo mais ou é requerido, sobretudo, nas grandes metrópoles.

Na evolução urbana, os custos são absorvidos pelos benefícios que o aglomerado a acumuladamente a oferecer: meios de transporte, equipamentos de saúde pública (água tratada, esgotamento sanitário, coleta de lixo etc.), e os investimentos em pistas pavimentadas, estacionamentos e todo o que for preciso em regiões rodoviaristas, onde o automóvel é meio de transporte usual. Então, é um nunca acabar porque as demandas crescem e requerem investimentos públicos. Há ainda o desgaste pelo uso dos equipamentos existentes, que requer reparos ou que necessita de substituição. Então, a roda dos investimentos gira continuamente, fazendo com que as cidades sempre estejam relativamente atualizadas nesse aspecto.

Uma questão, todavia, parece ir a reboque: a demanda por habitação. Sempre há lacunas de moradias ou elas são iníveis para alguns estratos populacionais. Muitas cidades têm secretarias de habitação, com a finalidade de suprir sempre que possível os que desejam uma moradia. Por vezes, a cidade trata de organizar conjuntos habitacionais e famílias que se inscrevem nos programas estabelecidos. Outras vezes, são cooperativas que organizam a construção e muitas pessoas se habilitam para a compra. Procedem-se as construções e, ao final, se faz o rateio dos custos, o que, em conjunto, se torna mais aceito pelo grupo dos que adquiriram um imóvel. Há, porém, enorme lacuna de habitações em quase todas as grandes cidades, pois quase sempre a construção dos imóveis fica a cargo do setor privado, que tem aumentado os prédios de alto padrão, o que torna inível às pessoas de média-baixa e baixa renda. Aliás, o estrato empobrecido não tem opção ou o a imóveis, ficando excluído do que se convencionou denominar de mercado imobiliário. Daí, decorre o fato de que grandes faixas populacionais am a morar pagando aluguel, ampliando os que consomem algo ao redor de 30% dos ganhos nesse item.

Ultimamente, em razão do custo da terra, as cooperativas erguem edifícios. Eles não são muito altos; alguns, com quatro pisos, não têm elevadores, o que torna a construção menos onerosa. Outros, com mais de 10 andares, dispõem de dois elevadores, o de serviço e o social. Em muitos casos, ambos servem para as duas funções para pessoas que não se importam em mover-se juntamente com objetos transportados. Mas, se os elevadores estão distanciados, as pessoas utilizam apenas o elevador social. Pelo menos é o que se tem observado em edifícios em que os ascensores não estão próximos.

As cidades, sobretudo as metrópoles, investem enormes recursos para dotar o meio urbano com rede capilar de água tratada e esgotamento sanitário. Ambos são necessários à saúde pública e ao bem-estar da população. Mas não é o caso de muitos centros urbanos, cujo esgoto se esparrama pelas ruas e causa incômodo à população. Isso acontece porque muitas prefeituras optam por dotar as cidades de água potável, mas não de esgotamento das águas servidas e dos dejetos. Não o fazem por alegadas duas razões: uma, "o que está enterrado não rende votos" e duas, "os custos desse serviço são elevados e não há dotação orçamentária suficiente". Aí, a resolução do problema fica para o futuro.

Diferentemente de outras cidades, Brasília assume um papel de destaque no cenário nacional, por razão de ser a capital do país e de ter organizado um sistema que bem serve seus mais de três milhões de habitantes, com constantes investimentos na área de saúde pública. São hospitais públicos que servem todo o Distrito Federal, e não recusa atender pacientes da periferia metropolitana (os 12 municípios goianos limítrofes a Brasília), sobretudo neste período da covid-19, quando muitos infectados chegam aos hospitais e clínicas para atendimento imediato. Nesse aspecto, a mídia tem registrado estafa do corpo clínico e de enfermagem pelo continuado esforço em atender infestados pela pandemia. E não há sinais de que a covid-19 acabe.

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