
Quem pensa em meio ambiente sem pensar no social ou no econômico corre o risco de ser utópico ou ingênuo, pois o sucesso de uma política ambiental a necessariamente pelo social e pelo econômico. Sem emprego e renda é impossível preservar o meio ambiente. Negócios e preservação ambiental precisam andar de mãos dadas.
A preservação ambiental no Brasil depende do setor privado, que dispõe de tecnologia, dinamismo e recursos para investir em projetos ambientais. Conservar o meio ambiente gera lucros e impactos positivos para as empresas aumentando reputação e credibilidade.
Acabo de ler o inteligente livro de Marcus Peçanha (Conexão — Capitalismo e meio ambiente), que afirma com acerto que os governos trabalham com orçamentos cada vez mais apertados com prioridades para os gastos sociais. A iniciativa privada tem recursos e disposição para investir, o que não acontece com todos os outros setores da economia.
Ainda que o governo tivesse recursos, não tem agilidade de planejamento e execução. A iniciativa privada, para investir, não está sujeita a legislações, não presta contas para o Ministério Público, para o Tribunal de Contas, para a CGU. Portanto, a iniciativa privada tem muito mais liberdade e dinamismo do que o governo.
Além de ter recursos, a iniciativa privada está sendo pressionada a investir porque os indicadores serão mais cobrados na questão do ESG (termo em inglês para meio ambiente, social e governança). Os fundos de investimento, os bancos, as instituições de fomento e até os bancos públicos, como o BNDES, estão evitando investir em empresas que não têm bons indicadores no que tange ao ESG.
Assim, as empresas buscam solidificar sua política nesse aspecto para manterem o não apenas ao mercado consumidor, mas também ao capital mais barato. Assim como os governos, nos três níveis — municipal, estadual ou federal — precisam da iniciativa privada para preservar o meio ambiente, a iniciativa privada precisa dos governos para fazer projetos ambientais escaláveis e com bons indicadores. E as parcerias são inexoráveis e devem avançar muito nos próximos anos.
O que será construído e gerará retorno serão modelos de concessões que englobem também variáveis como créditos de carbono e pagamentos por serviços ambientais. Em um futuro próximo, o acionista que operar uma concessão verá o quanto de carbono e de biodiversidade está resgatando, o quanto de sociedades tradicionais está ajudando. E irá ao mercado rentabilizar seus investimentos, por meio de vendas de crédito de carbono ou da venda de serviços ambientais.
Outro bom exemplo de PPP é a agenda de qualidade ambiental urbana. Pode-se conceder à iniciativa privada a reciclagem do lixo. O modelo das PPPs configura o que de melhor existe no momento. É um instrumento de mercado que traz consigo riscos. No caso do meio ambiente, ainda está, em alguns casos, sendo maturado e haverá um processo de calibragem e consolidação. Mas podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que o modelo mais adequado que já apareceu para a preservação ambiental é esse.
Mercado e trabalho precisarão fazer aperfeiçoamentos em razão da dependência mútua, e a melhor ferramenta é a mensuração de indicadores. Marcus Peçanha menciona os erros que devem ser evitados no processo, bem como ensina como as empresas podem ar o mercado de créditos de carbono e também como o combate ao desmatamento pode ser bom negócio para a iniciativa privada. O livro do jovem consultor e empreendedor em ESG é de leitura agradável e oportuna. Revela com precisão a conexão capitalismo e meio ambiente.
RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA, advogado, é presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas (APLJ)
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