
Trânsito enlouquecedor, corre-corre para chegar à escola a tempo, professores com conteúdos a serem dados, crianças e adolescentes tentando aprendê-lo até o dia da prova, sem o uso do celular….Encerrando o primeiro mês escolar do ano, professores, pais e filhos tiveram ocasiões de sobra para entrarem em contato com uma reação que, de forma exagerada, tem comprometido cada vez mais a saúde dos brasileiros: a ansiedade.
O levantamento intitulado Calendário da Saúde, publicado pela Ipsos, mostra que cerca de 45% dos brasileiros sofrem do problema e 19% têm depressão. No caso das crianças e jovens em idade escolar, a tecnologia contribui, e muito, para o aumento da incidência desses transtornos. No livro A geração ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais, o autor — o psicólogo americano Jonathan Haidt — fala sobre o declínio das brincadeiras que se contrapõe ao aumento exponencial do consumo de equipamentos eletrônicos.
Haidt aponta quatro fenômenos que acabam por contribuir para a permanência dessa geração ansiosa: a privação social, a privação do sono, a atenção fragmentada e o vício. Outro risco alertado pelos especialistas é a possibilidade de sintomas associados ao excesso de eletrônicos, como dificuldade de concentração, impulsividade e esquecimento, serem confundidos com o transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Com a recente sanção da Lei nº 15.100, de janeiro de 2025, restringindo o uso de celulares nas escolas — o que, aparentemente, está sendo respeitado na maioria das instituições de ensino do país —, cabe aos pais a função de controlar a utilização dos equipamentos eletrônicos dentro de casa. Mas há quem diga que crianças e adolescentes vivem hoje uma dicotomia e que talvez aí esteja a fonte da ansiedade: a superproteção por parte dos pais, preocupados com a violência e com a falta de oportunidades, e a subproteção virtual, por falta de conhecimento ou devido a falhas na área de cibersegurança.
A geração ansiosa é avessa ao contato físico, teme a não aceitação e descansa nas redes sociais como meio de refúgio, evitando, assim, ficar exposta. O mundo virtual lhes parece mais seguro, menos adverso. Só que, não. As telas, muitas vezes, escondem os sentimentos, dizimam a interação real em troca de um mundo fantasioso e viciante.
Como desafio, especialistas que lidam com a chamada disciplina positiva recomendam que pais e educadores cumpram algumas missões: sejam mais presentes na vida dos educandos/filhos, façam uma espécie de curadoria das redes sociais, deem pequenas responsabilidades a crianças e adolescentes e enfatizem a importância das boas horas de sono, proporcionando a eles um ambiente saudável e interativo.
Sem dúvida, um desafio enorme. O apoio do poder público com campanhas de conscientização e criação de ferramentas de e pode tornar a tarefa menos difícil. Assim como um movimento que não deposite a solução do problema apenas por meio de punições, como castigos por desrespeitar limites de uso dos dispositivos eletrônicos, ou de medicações psicotrópicas, quando os possíveis transtornos são diagnosticados. As novas gerações precisam de melhores cuidados.