
Em sua nova brincadeira favorita — a guerra tarifária contra o restante do mundo —, o presidente norte-americano Donald Trump não poupou nem os pinguins. Tampouco as focas e as gaivotas. Esses animais são os únicos habitantes das Ilhas McDonald, um dos mais remotos lugares da Terra. Próxima à Antártida, essa ilha vulcânica recebeu visita humana pela última vez há mais de 10 anos. Mas foi incluída como "país" na lista da taxação de 10% nas importações, divulgada pela Casa Branca.
Há, na extrema-direita, uma estranha obstinação pela ignorância. Seus defensores não só perseguem a imbecilidade, mas têm imenso orgulho de exibi-la.
Aos interessados em conferir uma recente exibição pública da ode ao obscurantismo em território nacional, recomendo o vídeo em que o deputado do PL-AM Alberto Neto ridiculariza um projeto do Ministério da Justiça, em parceria com as operadoras de celular, que identifica receptores de telefones roubados e os notifica de que podem, também, responder por furto. Nas palavras do parlamentar, o "governo Lula vai mandar mensagem pro ladrão pedindo pra devolver o aparelho".
Quando o pastor Henrique Vieira (PSol-RJ) tenta esclarecer que a estratégia de ar o portador do aparelho (e não o "ladrão") resultou na devolução de 6 mil celulares e redução de 44% dos furtos em Teresina (PI), a reação da bancada do PL foi colocar algodão nos ouvidos e bater na mesa, para fazer barulho. "Há uma solidariedade na ignorância entre vossas excelências", resumiu Vieira.
Não à toa, os extremistas de direita são avessos à educação e à ciência — as quais, aparentemente, decidiram ser "pautas comunistas". Nesta semana, quase 2 mil acadêmicos norte-americanos, incluindo um prêmio Nobel, am uma carta, destinada ao Congresso, pedindo que os parlamentares defendam a ciência dos cortes drásticos impostos pelo governo Trump, que não só reduziu significativamente recursos para pesquisa como tirou autonomia de institutos e, agora, persegue até as universidades privadas com ameaças.
Curioso que os cortes são liderados pelo magnata Elon Musk, à frente do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) da istração Trump. Curioso porque Musk é fundador da SpaceX, empresa de exploração espacial, e da Neurolink, companhia de neurociência que desenvolve implantes cerebrais para projetos de interface homem-máquina. Isso nos leva a refletir se, de fato, os extremistas são tão ignorantes assim ou se atacam a ciência e a educação justamente por querer governar uma massa mergulhada no obscurantismo.
Claro que não me refiro a certos parlamentares do chamado "baixo clero" ou às pessoas que acreditam ser possível enviar sinais a extraterrestres com a lanterna do celular. Esses são, justamente, o protótipo de "povo" que os líderes extremistas desejam manobrar: ignorantes, crédulos, toscos.
Agora, alguém acha que Elon Musk, que, aos 24 anos, chegou a cursar doutorado em física aplicada, acredita nas teorias conspiratórias de Trump? Ou que o próprio Trump tem alguma coisa de bobo? Pensando bem, se o presidente norte-americano decidiu taxar as importações das Ilhas McDonalds, é bem capaz de os pinguins terem descoberto, por lá, uma reserva petrolífera…