
Raul Jungmann — Foi ministro da Reforma Agrária, Defesa e da Segurança Pública. Preside o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram)
Ao avaliarmos a trajetória da civilização, salta aos olhos o papel central dos minerais, utilizados com diversas finalidades, na evolução dos povos mais antigos até os dias atuais, quando influem decisivamente na transformação da geopolítica global.
Na civilização contemporânea, são os novos protagonistas, redefinindo o que significa poder no século 21. Isso em um contexto em que a transição energética, a descarbonização, a expansão da produção de fertilizantes e a soberania nacional impõem desafios inéditos.
Dominar o o a esses minérios é uma questão de crescimento econômico e, sobretudo, um sinal inequívoco de poder e influência internacional.
Os minérios moldaram o destino de civilizações e estiveram presentes na ascensão de impérios como o Egito Antigo, a Mesopotâmia, a Grécia Clássica, o Império Romano. No século 16, os minérios das Américas sustentaram os reinos de Portugal e da Espanha, influenciando a economia global.
Segurança mineral, ou seja, a condição de um país contar com oferta abundante de minérios, desdobra-se em diversas faces — alimentar, energética, climática, ambiental, hídrica e de soberania nacional —, demonstrando que a disponibilidade de matérias-primas é a base sobre a qual se constitui a qualidade de vida e o progresso da sociedade.
Hoje, a disputa pelo o aos minerais críticos e estratégicos vai além da questão comercial — é um verdadeiro torneio de xadrez geopolítico. Potências, como os Estados Unidos, a China e os países da União Europeia, agem para assegurar fontes seguras desses recursos, levando a tensões e conflitos.
Os EUA ameaçam intervir na Groenlândia — istrada pela Dinamarca — para ar as reservas minerais estratégicas e pressionam a Ucrânia com o mesmo propósito, evidenciando a interligação entre recursos naturais e as decisões que definem o equilíbrio de poder global.
A China amplia sua influência adquirindo mineradoras, inclusive, em solo brasileiro, para assegurar uma posição dominante no processamento e na distribuição. Atualmente, ela controla cerca de 80% do processamento das terras raras, minérios indispensáveis para alta tecnologia.
Concluímos que segurança mineral se tornou sinônimo de segurança multidimensional. Os minérios interferem na segurança alimentar favorecendo a produção de fertilizantes, e na segurança energética e climática via transição para fontes de energia limpas.
Está na segurança ambiental, já que a mineração integra cadeias produtivas que resultam em tecnologias verdes para proteger biomas e evitar os danos causados pela mudança no clima; na segurança hídrica, porque sistemas de uso racional e de reúso demandam minérios e metais, presentes em diversos equipamentos.
Na segurança ou soberania nacional, a autossuficiência em minérios, como urânio (usado em energia nuclear), nióbio (aplicado em defesa) e outros utilizados em tecnologia militar e bélica é estratégica para evitar dependência externa.
A história, portanto, ensina que nações que controlaram minérios ditaram rumos econômicos: carvão britânico, petróleo saudita e, agora, os minerais críticos e estratégicos (MCEs) são a moeda do futuro. No jogo atual, o Brasil precisa evitar tornar-se mero espectador, o que exige uma postura ousada e visionária, onde o país acompanhe e determine os rumos das negociações globais.
O país tem a chance de reescrever sua história mineral — não apenas como fornecedor, mas como arquiteto de um novo capítulo industrial, agregando valor aos minerais críticos e estratégicos, meta fundamental.
No entanto, a mineração privada, sozinha, não faz milagres nesse sentido: políticas públicas para fortalecer cadeias produtivas e resolução de gargalos precisam ser adotadas, mas exigem vontade política, assim como parcerias estratégicas entre os setores público e privado.
Esse é o caminho determinante para transformar o contingente mineral brasileiro em uma verdadeira vantagem competitiva. O Brasil, com seu potencial geológico e experiência histórica em mineração, tem condições de protagonizar essa nova era da evolução. Só que o tempo é curto e a implantação de um empreendimento minerário é amplamente complexo e de longo prazo.
A consolidação de uma política de segurança mineral, embasada em estratégias integradas e alinhadas aos princípios ESG, poderá transformar o país em um dos protagonistas nessa nova fase evolutiva da humanidade. A escolha entre ser do elenco principal ou espectador dependerá da capacidade de transformar recursos inertes no subsolo em estratégia de Estado, equilibrando desenvolvimento econômico, sustentabilidade e soberania.