Opinião

Visão do Correio: Novo diabetes desafia médicos e governos

É preciso unir forças para conhecer melhor a nova classificação de diabetes, ligada à desnutrição. Casos são subnotificados e pouco compreendidos

Diabetes tipo 5 está ligado a casos de desnutrição  -  (crédito: Daniel Ferreira)
Diabetes tipo 5 está ligado a casos de desnutrição - (crédito: Daniel Ferreira)

Não bastasse sermos o sexto país com o maior número de casos de diabetes no mundo —  foram 16,6 milhões de brasileiros com a doença em 2024 —, a Federação Internacional de Diabetes (IDF) reconheceu oficialmente, na semana ada, uma nova forma de classificação da enfermidade. O tipo 5 é associado a um dos fenômenos mais característicos dos países de baixa renda ou em vias de desenvolvimento: a desnutrição. Ainda que tenha sido descrita, pela primeira vez, há quase 70 anos, a "versão mais atual" ainda é subnotificada e pouco compreendida. 

E os desafios não param por aí. A IDF divulgou o Atlas de Diabetes em seu congresso mundial, em Bangcoc, na Tailândia, demonstrando o crescimento da doença, de uma forma geral, nos cinco continentes: 589 milhões de adultos, com idade entre 20 e 79 anos, vivem com diabetes atualmente, o que corresponde a uma a cada nove pessoas.

O impacto nos governos é robusto. Ainda que o Brasil tenha programas de assistência no Sistema Único de Saúde (SUS), como a Farmácia Popular e a Prevenção de Diabetes, nos últimos 17 anos a doença e suas implicações causaram pelo menos US$ 1 trilhão em gastos com saúde, um aumento de 338% durante esse período, de acordo com o Atlas.  

Segundo os especialistas, o diabetes tipo 5 geralmente afeta pessoas abaixo dos 30 anos, com baixo peso (índice de massa corporal igual ou menor a 19), extremamente magras e com deficiências nutricionais crônicas — ao contrário do diabetes tipo 2, comumente ligado ao excesso de peso e ao sedentarismo, além de ser mais frequente em adultos acima de 35 anos. De acordo com a IDF, a "nova versão" atinge mais homens do que mulheres, especialmente aqueles que vivem em áreas rurais, onde o diagnóstico é mais limitado.

Por outro lado, se assemelha ao tipo 1 por afetar jovens e pessoas mais magras, podendo até ser confundida com ele, mas, devido à desnutrição, está relacionada à menor formação de células no pâncreas — e não pela destruição da produção de insulina pela glândula. Até o momento, os médicos desconhecem o mecanismo exato da doença, além de dados oficiais que atestem sua prevalência, já que muitos casos podem ter sido equivocadamente classificados.

Fato é que a reversão do novo diabetes ainda é nebulosa, porque não há experiências clínicas em pacientes diagnosticados. Além disso, dizem os médicos, apenas a reposição de insulina não é suficiente para reverter o quadro, que, se não for tratado adequadamente, pode elevar o risco de complicações, como cegueira, amputações e doenças renais.

Trata-se, portanto, de mais um desafio para a comunidade médica, pesquisadores e poder público. É preciso unir forças para conhecer melhor essa nova classificação, como lidar com ela e multiplicar as informações sobre alertas e cuidado. E em países que, como o Brasil, enfrentam uma espécie de sobreposição de vulnerabilidades — casos significativos tanto de excesso de peso quanto de desnutrição — esse enfrentamento multidisciplinar se torna ainda mais essencial.

A boa notícia é que a IDF anunciou a criação de um grupo de trabalho que vai, nos próximos dois anos, elaborar diretrizes terapêuticas específicas de diagnóstico e tratamento para essa forma de diabetes. A expectativa é de que a união de esforços resulte em protocolos — que não podem se limitar apenas a intervenções médicas — que permitam aos pacientes um atendimento adequado, humano e eficaz.

Por Opinião
postado em 18/04/2025 06:00
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