OPINIÃO

Visão do Correio: Proteger o planeta é obrigação de todos

Papado de Francisco fez o desenvolvimento sustentável, expressão tão repetida por diversos setores, ou a fazer parte do vocabulário oficial da Igreja

O Papa Francisco (C) gesticula ao chegar para uma audiência geral semanal no salão Paulo VI, no Vaticano, em 22 de janeiro de 2025       -  (crédito: Andreas SOLARO/AFP)
O Papa Francisco (C) gesticula ao chegar para uma audiência geral semanal no salão Paulo VI, no Vaticano, em 22 de janeiro de 2025 - (crédito: Andreas SOLARO/AFP)

Há uma semana, o mundo reflete sobre a importância do argentino Jorge Mario Bergoglio para a humanidade. O papa que escolheu ser Francisco — em reverência a São Francisco de Assis, que dedicou a vida aos pobres — deixou um amplo legado, não apenas para a Igreja Católica. Em 12 anos de pontificado, seus ensinamentos foram de economia a questões espirituais, ando por diversos assuntos que afligem os tempos atuais. Voz permanente contra as guerras a que assistimos, as desigualdades sociais que aumentam e o sofrimento que cerca os imigrantes, ele também insistiu em outro desafio dos dias de hoje: o meio ambiente.

Com seu perfil inovador, o bispo de Roma colocou a natureza na pauta cristã, chamando para o Vaticano a responsabilidade de orientar os fiéis a esse respeito. O desenvolvimento sustentável, expressão tão repetida por diversos setores, ou a fazer parte do vocabulário oficial da Igreja. Em consequência, como é comum diante das posições papais, as incontáveis paróquias espalhadas pelos continentes começaram a tratar o meio ambiente em encontros, homilias e, principalmente, a incentivar atitudes ecológicas.

Inspirador pelas palavras, mas especialmente pelas ações, o papa Francisco deu exemplos importantes nesse contexto desde sua eleição, em 2013. De pequenos gestos — como a escolha por carros de baixo consumo de combustível e a estreia do primeiro papamóvel elétrico — a outros com alcance transformador, ele demonstrou sua preocupação com o planeta. Em 2015, escreveu em uma carta oficial: "Nada deste mundo nos é indiferente". A "justificativa" para a encíclica Laudato si', na qual a degradação ambiental e a crise climática são abordadas, estava colocada de uma maneira capaz de tocar os corações dos católicos e de quem se dispusesse a ouvir.

Com gentileza e sabedoria, o pontífice lançou a missão coletiva da atualidade: cuidar da "casa comum". Além de um convite, o texto apresenta uma crítica aos impactos ambientais e sociais causados por um sistema econômico baseado no consumo desenfreado, no descarte descontrolado e na exploração dos recursos naturais.

Inovador e atento, Francisco aponta a ciência como indicativo de alternativas de recuperação e de sustentabilidade, mas destaca a necessidade de transformação cultural que envolva os valores, a espiritualidade e a ética dos povos.

O apelo ambiental do papa, que tanto tocou as pessoas com seu olhar humanitário, precisa ser ouvido. No Brasil, os frutos institucionais já aparecem, como a Campanha da Fraternidade 2025 com o tema "Fraternidade e Ecologia Integral". Que esse pensamento extrapole as dependências católicas e mobilize a população. Afinal, a orientação que vem de Francisco diz respeito à sobrevivência de forma digna, com cooperação global e compromisso. A natureza não pode mais ser vista como fonte para uso indiscriminado. A mudança profunda, tão disseminada pelo pontífice, precisa motivar a todos, independentemente de religião.

postado em 28/04/2025 06:00
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