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Francisco ainda fala

Entre os inúmeros textos, existe o pensamento econômico de Francisco. Resgatamos, em matéria especial de Edla Lula, esta semana, as ponderações dele sobre a idolatria do dinheiro, ao qual ele chamava de "esterco do diabo", com críticas que não poupavam nem o banco do Vaticano

O Papa Francisco acena ao chegar para visitar o centro social da paróquia de Serafina para se encontrar com representantes de voluntários e centros de caridade, em Lisboa, em 4 de agosto de 2023       -  (crédito: Thomas COEX / AFP)
O Papa Francisco acena ao chegar para visitar o centro social da paróquia de Serafina para se encontrar com representantes de voluntários e centros de caridade, em Lisboa, em 4 de agosto de 2023 - (crédito: Thomas COEX / AFP)

Na próxima quarta-feira, começa o conclave, a grande reunião para a escolha do novo papa. Entre os preparativos e as especulações que ventilam a preferência de um Sumo Pontífice africano, italiano e ao menos dois brasileiros, ainda ecoa o legado de Francisco. Estão latentes, ao menos para mim, as palavras e as reflexões sobre o mundo em que vivemos. Até sair a fumaça branca que anuncia o Habemus Papam, ainda seremos impactados pela memória de Francisco e é bom que sejamos, que lembremos, que possamos refletir sobre o que ele nos deixou.

Entre os inúmeros textos, existe o pensamento econômico de Francisco. Resgatamos, em matéria especial de Edla Lula, esta semana, as ponderações dele sobre a idolatria do dinheiro, ao qual ele chamava de "esterco do diabo", com críticas que não poupavam nem o banco do Vaticano.

Como diz a reportagem, "o próprio testemunho, o papa Francisco difundiu, de forma contundente, o seu incômodo com o modo como funciona a economia e denunciou o esgotamento do sistema capitalista. Não por questões ideológicas nem mesmo com pretensões acadêmicas, mas pela firme convicção de que o mundo, como está, contraria em tudo o que pregou Jesus Cristo".

Será que ouvimos quando ele falou? Será que ouvimos agora com sua morte? Não resta dúvida de que Francisco foi um grande líder, que semeou palavras fortes e contrárias à exclusão, à destruição do meio ambiente, às guerras. Assim como tantas homilias potentes a favor do acolhimento, da paz, da ciência, do amor ao próximo. Francisco defendia uma "ecologia integral", que unisse todos os sistemas em busca de uma convivência pacífica com o meio ambiente e contra a degradação, seja ambiental, seja humana – esta provocada pelo individualismo extrema e pelo egoísmo.

Assisti emocionada às cenas da freira Geneviève Jeanningros, de 81 anos, quebrando o protocolo, próxima ao caixão de Francisco, chorando na despedida daquele que, além de líder religioso máximo, era um amigo. Uma imagem comovente que mostra que ele estava além das liturgias, mesmo nos ritos que parecem à prova de qualquer abalo.

E aqui abro um parênteses para falar sobre a cobertura multimídia de Rodrigo Craveiro, enviado especial do Correio a Roma. Com um celular na mão, Rodrigo usou de toda a sua vasta experiência na cobertura internacional para relatar fatos, mas também para contar sobre a emoção dos fiéis e nos impactar com histórias. Jornalismo é, acima de tudo, a força da verdade e a emoção é parte disso. Da cidade do Vaticano, Rodrigo foi repórter raiz entrando ao vivo na TV Brasília, na TV Alterosa, na Rádio Tupi, nas redes sociais do Correio ou fazendo belas reportagens no jornal impresso ao lado da colega Paloma Olivetto e sob a batuta da editora Ana Paula Macedo.

Despedidas são convites para revisitar a história das pessoas. No caso de pessoas públicas, também para rever tudo aquilo que semearam em vida. Na semana que chega, começa o processo para a Igreja Católica iniciar uma nova trajetória. Esperamos que as palavras de Francisco sejam também guia para o papa escolhido e que possamos ainda nos lembrar delas por muito tempo.

postado em 04/05/2025 04:07
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