ARTIGO

Eterna ovelha negra

Rita Lee voltou a ser objeto de matérias jornalísticas, programas de televisão e bate-papos dos fãs por conta de dois documentários — Rita Lee: Mania de você e Ritas

. -  (crédito:  Reprodução)
. - (crédito: Reprodução)

Caetano Veloso, como de hábito, foi assertivo ao afirmar na letra do clássico Sampa ser Rita Lee "sua mais completa tradução", ao referir-se à megalópole brasileira. A cantora e compositora nasceu na Vila Madalena, região boêmia da Zona Sul da capital paulistana, em 1947, mas tinha uma relação afetiva com outros bairros de sua cidade.

Desde o início da vitoriosa trajetória como vocalista de Os Mutantes, a artista encantou a tantos que a ouviram interpretar alguns dos maiores sucessos do rock brasileiro, movimento que a teve como rainha. A mim ela conquistou quando, adolescente, a vi e ouvi pela primeira vez no histórico Festival da Record de 1967, quando, ao lado de Sérgio Dias (guitarra) e Arnaldo Baptista (baixo), acompanhou Gilberto Gil em Domingo no parque.

A eterna ovelha negra (apelido que recebeu após o gigantesco sucesso obtido pela canção homônima), partiu para outra dimensão em 2023 e deixou como legado um inestimável acervo musical. Recentemente, ela voltou a ser objeto de matérias jornalísticas, programas de televisão e bate-papos dos fãs por conta de dois documentários — Rita Lee: Mania de você e Ritas. 

O primeiro, disponibilizado na plataforma HBO Max, mostra, entre outros fatos, a leitura pelos filhos Beto, Juca e Antônio da carta de despedida deixada pela mãe; e o viúvo Roberto Carvalho, em choro compulsivo, tomar conhecimento das últimas palavras da cônjuge. Foram outros dois momentos comoventes da produção.

Já o filme, em cartaz no circuito das salas de exibição do país, revela a cantora fazendo comentários hilários, por vezes contundentes, mas sempre relevantes; além de observações feitas em alusão a momentos de tensão que viveu, como abuso de álcool e maconha e a prisão na época da ditadura militar. Há também a participação dos amigos Gilberto Gil e Ney Matogrosso, que apresentou Rita a Roberto Carvalho.

A estreia do filme ocorreu na última quinta-feira, Dia de Santa Rita de Cássia, que, em São Paulo, ou a ser chamado de Dia de Rita Lee — embora ela tenha nascido em 31 de dezembro. Na sessão das 19h, no Cine Cultura do Liberty Mall, emocionados, os espectadores irromperam em aplausos no final.

Essa homenagem à Santa Rita de Sampa se junta à dos artistas plásticos Heraldo Braga, Paulo Terra e Pedro Terra, responsáveis pelo mural com imagens da estrela na Avenida  Domingos de Moraes, na Vila Madalena.  Ela vem sendo reverenciada, também, pela atriz e cantora Mel Lisboa, em Rita Lee — Uma autobiografia musical. 

Tive o privilégio de assistir a alguns shows da roqueira. O primeiro deles foi em 1975, no ginásio de esportes do Colégio Marista, na 609 Sul, na sequência da turnê de lançamento do LP Fruto proibido ,cujo repertório trazia a balada Ovelha negra, a música mais tocada no Brasil naquele ano.

Voltei a aplaudí-la quatro anos depois, no  extinto estádio Pelezão —  onde hoje existe um condomínio de luxo —, quando do início da parceria com o marido e guitarrista Roberto Carvalho; no emblemático Rock in Rio, de 1985. Dez anos depois, também no Rio de Janeiro, estava em frente ao palco quando ela abriu o memorável concerto dos Rolling Stones no Maracanã.

A última vez em que fiquei próximo de Rita (a quem entrevistei por três vezes) foi em 2012, numa apresentação em frente ao Congresso Nacional. Naquela oportunidade, ao cantar para 20 mil espectadores, baixou as calças e exibiu o bumbum para a plateia. Mais ovelha negra, impossível! 

 

IR
postado em 27/05/2025 06:00
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