ARTIGO

Problemas sociais e avaliação governamental no DF

Embora haja reconhecimento positivo em áreas como obras e eventos, o GDF enfrenta forte insatisfação em áreas críticas, como saúde, combate à corrupção e à violência de gênero

 A saúde pública continua sendo a principal preocupação da população do DF -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
A saúde pública continua sendo a principal preocupação da população do DF - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Lucio Rennó professor de Ciência Política da UnB e coordenador do ObservaDF

Pesquisa recente do ObservaDF, publicada como relatório intitulado Avaliação de Governo no Distrito Federal - 2025, disponível em https://observadf.unb.br/pesquisas/, enfocou as percepções populares dos cidadãos e das cidadãs do DF sobre os piores problemas da região e a qualidade do serviço público no Governo do Distrito Federal (GDF). A pesquisa, realizada com 1.000 entrevistas em 29 regiões istrativas, entre 19 e 26 de abril de 2025, tem margem de erro de 3 pontos percentuais. É representativa da população urbana do Distrito Federal. Os dados, nota técnica e questionário estão disponíveis em https://observadf.unb.br/dados/.

A pesquisa revela que a saúde pública continua sendo a principal preocupação da população do DF, citada por quase metade dos entrevistados (49,2%) como o pior problema da região. A segurança pública (17,4%) e a corrupção (3,4%) aparecem em seguida na lista de problemas mais graves mencionados espontaneamente. Ao combinar as menções como primeiro e segundo problemas, a saúde é citada por 40% e a segurança pública, por 24%. Educação aparece em terceiro lugar no cômputo geral, com 6%. Ou seja, os problemas de sempre seguem preocupando a população do DF, com um crescimento impressionante da preocupação e crítica à saúde pública em relação a pesquisas anteriores. A questão só se agrava, ao invés de melhorar.

Na avaliação geral do desempenho do GDF, o relatório aponta um equilíbrio, mas com uma leve prevalência de avaliações negativas. A soma das avaliações positivas ("ótimo" e "bom") totaliza 30,2%, enquanto as negativas ("ruim" e "péssimo") somam 34,8%, uma diferença de 4,6 pontos percentuais, superior à margem de erro. Uma parcela considerável (37,3%) avalia o desempenho como "regular". Portanto, o GDF como um todo se depara com um cenário de moderada aceitação popular, com a população dividida em praticamente três grupos equivalentes.

Analisando as categorias extremas, a avaliação "péssimo" (22,5%) é significativamente maior do que "ótimo" (5,4%). Isso indica que uma parcela expressiva da população está muito insatisfeita. Já as avaliações de intensidade intermediária ("bom" e "ruim") pendem mais para o lado positivo. São 19,4% que consideram o governo bom e 12,3% que o consideram ruim. Não obstante, as visões mais radicais sobre o governo são desproporcionalmente desfavoráveis.

A pesquisa também avaliou a percepção de melhora ou piora na atuação do GDF em áreas específicas no último ano. O governo é melhor avaliado em áreas como realização de obras (49,9% percebem melhora), promoção de eventos culturais (39,5%), oferta de ônibus de qualidade (38%) e incentivo à prática desportiva (34,2%).

A melhora na percepção sobre a oferta de ônibus (35,2% percebem melhora) é notável, especialmente porque historicamente era alvo de muitas críticas. Políticas como o programa Vai de Graça e a possível renovação da frota podem ter alterado a percepção negativa em relação aos ônibus, que agora são vistos mais positivamente que o metrô, cuja avaliação deteriorou. Há uma significativa alteração na avaliação da população sobre os principais modais de transporte público coletivos. O metrô, melhor avaliado no ado, hoje é visto como tendo piorado no último ano.

Por outro lado, as avaliações negativas são intensas em áreas como combate ao feminicídio (46,1% percebem piora), combate à corrupção (45,2%) e atendimento à saúde (42,2%). Essas são as áreas em que a população demonstra profunda insatisfação. Questões de segurança pública ligadas a gênero, como combate ao feminicídio e ao assédio sexual (31,7% percebem piora), destacam-se como áreas com desempenho visto como deficitário e avaliações predominantemente negativas.

O relatório conclui que, embora haja reconhecimento positivo em áreas como obras e eventos, o governo enfrenta forte insatisfação em áreas críticas, como saúde, combate à corrupção e, particularmente, em questões de segurança pública relacionadas a gênero. Há uma clara relação entre os principais problemas identificados e as áreas pior avaliadas na atuação governamental. Saúde, segurança (incluindo violência urbana e temas de gênero), corrupção e educação seguem sendo problemas persistentes e áreas de substancial insatisfação. A avaliação popular serve como um instrumento importante de transparência e diálogo entre a sociedade e o Estado e de aprimoramento da qualidade dos serviços públicos. Pesquisas científicas sobre a opinião pública, dessa forma, contribuem para melhor o desempenho do governo.

 

postado em 04/06/2025 06:00 / atualizado em 04/06/2025 07:38
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