
Nova York — Recém-filiado ao PSD, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, não nega a vontade de construir um projeto nacional a partir da nova legenda. E, por ter ficado fora dos pólos na eleição ada, considera-se um dos mais capacitados para concorrer à Presidência da República. Porém, se houver outro nome com maior capacidade eleitoral, ele apoiará. Ele considera que é preciso ter um diálogo mais equilibrado entre os Poderes e um orçamento que caiba no bolso do brasileiro. E é isso que pretende levar adiante numa pré-campanha e que terá um ensaio, hoje, em seu discurso no 14º Lide Brazil Investment Forum, um dos eventos mais tradicionais da chamada "brazilian week" em Nova York. "O país está desbalanceado, está gastando mais do que arrecada. Isso impõe juros altos, que acabam tirando força e fôlego da nossa economia", observa. A seguir, leia a entrevista ao Correio.
Por que o senhor escolheu o PSD?
Meu movimento foi porque o caminho ficou muito estreito para o PSDB. O PSDB cumpriu um papel ao longo do seu período. Tive 24 anos de filiação ao PSDB, mas o contexto do cenário político eleitoral brasileiro impunha uma movimentação. E nos partidos políticos, tenho boa relação com dirigentes diversos, mas as condições que o PSD oferece... inclusive por ter recebido muitos tucanos. Percebo um ambiente no qual me sinto bastante confortável para discutir projetos e políticas públicas para o futuro do país. Então, é o que me atrai, mais do que simplesmente ser candidato. Ser candidato em 2022, o próprio PSD me ofereceu e eu fiquei no PSDB porque entendia que seria uma movimentação brusca, há seis meses de eleição. E agora é o contrário. O PSDB me assegurava ser candidato na fusão com o Podemos, mas entendi que não é sobre ser candidato simplesmente. Nem lá, em 2022, era sobre atender uma a aspiração de ser candidato e me movimentar de uma forma apressada. E nem agora é sobre ser candidato me mantendo numa estrutura que, infelizmente, parece ter dificuldades. Torço para que dê certo a fusão do PSDB com Podemos, que consigam criar uma força nova, mas não tenho tempo disponível para ajudar nisso, na construção dessa viabilidade de uma nova força política. E eles ainda tem muito um processo para cumprir da própria fusão: vai ter que fazer chamar convenção, delegados, tem um processo de estruturação disso, para o qual vai ser demandado uma energia e um foco, que vai acabar consumindo uma necessidade que tenho — de colocar energia e foco para fora da vida partidária. Então, fiz a movimentação para o PSD e estou confiante nessa oportunidade de contribuir via PSD.
Quais são os próximos os?
Está-se falando sobre a iniciativa do ex-presidente (Michel) Temer. Acho que tem um diálogo entre aqueles dispostos a cumprir uma agenda para o Brasil, que tem de ser de reformas que deem ao país a capacidade de trazer o orçamento do tamanho da capacidade do povo de pagamento de impostos, que é o que está faltando até aqui. O país está desbalanceado — está gastando mais do que arrecada. Isso impõe juros altos, que acabam tirando força e fôlego da nossa economia. Então, tem uma agenda de reformas que precisa ser feita: desde novas reformas da previdência, reforma istrativa até diálogo do ponto de vista interinstitucional, para haver um ambiente institucional melhor. Estou me referindo, aqui, especialmente ao que diz respeito à própria participação do Congresso no orçamento e, do outro lado, o Judiciário.
Isso precisa acalmar? Dizem que o Executivo não está tendo força para resolver...
Pois é. Mas não é sobre, simplesmente, ter força. O vácuo do próprio Executivo nas diversas crises que acometeram os governos nos anos recentes, desde Dilma (Rousseff) a (Jair) Bolsonaro, acabaram deixando o Executivo fragilizado nessa interlocução institucional. E aí, o orçamento foi capturado no Congresso e, do outro lado, o Judiciário tomando decisões que adentram o mérito das políticas públicas. Isso precisa ser dialogado para construir uma ponte para um equilíbrio institucional melhor no país. Existem outros governadores que têm essa mesma disposição. Tenho muito respeito pelo Ratinho (Jr, governador do Paraná), pelo Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo). Acho que se impõe a nós termos a capacidade de conversarmos para tentar oferecer uma alternativa para o país. Do meu lado, o que me dá uma mobilidade maior é, justamente, não ter me atrelado a uma das forças que protagonizam a polarização, como são Lula e Bolsonaro. Isso me deixa mais à vontade para poder mostrar uma alternativa ao país. E é isso que vou trabalhar, ao longo dos próximos meses, para mostrar ao meu novo partido a oportunidade que a gente tem de criar essa alternativa para os eleitores brasileiros.
A terceira via?
É o terceiro pólo, vamos dizer assim. Do ponto de vista de posicionamento para o eleitor, é importante entender que algo alternativo a essa polarização não é sem sabor, nem sem cor e sem cheiro. É um terceiro polo. É sobre polarizarmos, inclusive, em relação a esses dois polos. Porque eles limitam as capacidades do país, num gasto de energia gigantesco enfrentando um ao outro, sem enfrentar os problemas. Quero ter a oportunidade de mostrar que não é este centro que se fala, é um centro-avante. Não é um centro sem posições, contemporizador das coisas. Ele tem posições sobre os assuntos. A diferença é que ele concilia posições que estão, hoje, apropriadas por um dos campos com as que estão apropriadas pelo outro campo. Para dar um exemplo: enfrentar crime com força e com energia, realmente, responsabilizando organizações criminosas e até endurecendo leis, mas sem desconsiderar o papel das políticas preventivas na área social para oferecer alternativas para população mais vulnerável.
O deputado Aécio Neves (PSDB-MG) divulgou uma carta em que disse que a sua escolha pelo PSD representaria uma opção mais regional do que nacional. Que avaliação o senhor fez daquela carta?
O deputado tem liberdade de ter opiniões e, agora, de protagonizar dentro do novo partido que vai se formar entre PSDB e Podemos as suas opiniões políticas. Não me cabe fazer comentário sobre. Respeito. Estou, agora, justamente buscando o meu caminho via PSD, uma força política relevante que se estruturou, que me convidou num outro momento para concorrer à Presidência da República, porque não estou na política simplesmente para concorrer a um cargo eletivo. Insisto na frase de Margaret Thatcher: "It used to be about doing something and, today, is only about being someone" ("Antes era sobre fazer algo e, hoje, é sobre ser algo"). Então, tem gente na política que quer ser. Até aspiro e desejo ser e ocupar posições, mas não é sobre isso. É sobre a capacidade de fazer a diferença e, eventualmente, reconhecer que outro nome pode ter melhor capacidade eleitoral, numa oportunidade específica. Vou estar lá para ajudar a construir um projeto e um plano para o país. No momento, no que estou vendo do que está aí sendo discutido de nomes, me sinto totalmente credenciado para me apresentar a ser um nome que lidera, puxar esse projeto.
Vêm aí pelo menos duas federações. Uma está posta, que é a União Brasil com o Progressistas. E vem outra, que é MDB e Republicanos — pelo menos as conversas começaram. O PSD ficará como?
As federações, depois que se proibiu fazer coligações na eleição proporcional, compensam isso e trabalham numa coligação com uma duração nacional por mais tempo. Elas têm, especialmente, o condão de viabilizar a formação de chapas para as eleições proporcionais. Acho que essa é a maior preocupação dos líderes partidários quando formam federações. O que vejo no PSD é um apetite, uma disposição pelas conversas que mantive não apenas com o presidente (do PSD, Gilberto) Kassab, mas, também, com outros líderes, para protagonizar uma eleição majoritária. Quem vai poder falar sobre isso é o presidente Kassab, mas vejo muito apetite para liderar um projeto majoritário. Aí vai ter que ver o quanto que se concilia entre os partidos a formação de um projeto majoritário para o Brasil. O governador Tarcísio está no Republicanos, é um nome nesse processo. Mas insisto que não é sobre identificar os nomes antes de buscarmos construir o projeto comum. Qual é o projeto que a gente tem de país? Quais são as agendas que vão ter que ser colocadas como prioridade entre todas, tantas são as agendas que o Brasil tem para superar problemas históricos? Quais são as agendas prioritárias que devem ser conduzidas?
Então, é primeiro ver o projeto para, depois, definir o perfil?
Tenho absoluta com convicção disso. Respeito muito o Tarcísio, assim como respeito o Ratinho Jr., como tenho boa relação com o Ronaldo Caiado (governador de Goiás) e com o Romeu Zema (governador de Minas Gerais). Mas, antes de definir quem de nós pode liderar um projeto, se é que há uma expectativa de construirmos conjuntamente, tenho toda a disposição de a gente construir conjuntamente. Mas vamos nos unir em torno de uma candidatura que vai defender o quê? E não apenas sobre o que vai ser feito, mas, também, sobre como deve ser feito. Para mim, isso é também crítico, porque não é só sobre qual é a agenda. Mas como a gente acorda que deve ser feito politicamente? Defendo um caminho que não coloque brasileiros contra brasileiros e que não insista numa luta fratricida que incentive a polarização. A gente tem que construir a oportunidade de mais sobriedade na política, porque a política é para fazer as pessoas mais felizes e não para tornar a vida inável.
Mas isso atrai o eleitor? Porque, pelo que a gente vê, o eleitor, em muitos casos, tem se mostrado afeito à polarização.
Acho que existe um caminho para polarizarmos sem brigar com as pessoas e brigarmos com os problemas.
Sem gerar ódio.
Esse é o ponto. Ou seja: você pode entrar no debate de forma enfática, defender convicções com firmeza e até ser firme e brigar. Mas firmeza não tem relação com ser desrespeitoso e grosseiro. É mais sobre com firmeza para debater, a partir dos argumentos, as posições dos outros, e não ficar lançando suspeitas sobre as intenções e o caráter alheio. Mostrar que a forma como os outros estão agindo está produzindo efeitos muito negativos para o Brasil. É esse o ponto. Não preciso discutir se Lula é bem-intencionado ou não nas suas ações. Preciso discutir quais são os efeitos que as ações dele tem na vida das pessoas e mostrar de maneira firme o erro que é a condução que ele tem do Brasil. E o preço que se paga, ou que se pagará, pelas suas ações ou omissões no futuro pela a sociedade. Não preciso ficar discutindo se ele é bem-intencionado ou não.
Por exemplo?
Meu exemplo é o próprio da minha eleição ada, no Rio Grande do Sul. No primeiro turno, insistimos num caminho em que fizemos prestação de contas das ações do governo, mostrando os benefícios que a sociedade tinha obtido. Quase não ei para o segundo turno das eleições. No segundo turno, optei por não declarar meu voto (para presidente da República). Em princípio, optar por não declarar o voto poderia soar como: "Ah!, vai adotar uma postura conciliadora. Seja qual for o presidente, vai trabalhar, algo sem sabor, sem cores". Mas não foi assim. Encontramos um caminho em que não só simplesmente não declarei meu voto e a minha posição naquele segundo turno, como defendi, de maneira enfática e firme, o direito de não declarar o voto. Porque justamente quem seria eleito naquela eleição não era um preposto da Presidência da República no Palácio Piratini, e sim aquele que iria defender os interesses do Estado. De maneira firme defendemos essa posição e isso foi compreendido pela população gaúcha. Então, não é simplesmente sobre "Ah!, veja bem, vamos nos relacionar com qualquer um, não queremos entrar nessa briga". Não. Brigamos pelo direito de não apresentar posição. E fizemos isso em favor do interesse que o estado tinha, de ter um governador capaz de brigar pelos interesses do estado com quem estivesse no Palácio do Planalto. Então, nessas eleições de 2026, é sobre isso também. Não é sobre ter uma postura simplesmente contemporizadora, sem entrar nas brigas, nas pautas que interessem. Se tiver a oportunidade de ser candidato, é para entrar, sim, para brigar, para me posicionar sobre cada um dos temas. Mas quero ficar na briga de xingar e ver quem é mais grosseiro e lança mais insultos.
O senhor falou da agenda de futuro, mas e a desta semana, aqui em Nova York. Quais investimentos deseja levar?
Tem duas frentes. Temos aqui uma semana que reúne bancos, fundos de investimento que circulam por aqui. Além de relação com investidores internacionais, é muito, também, de relação entre os próprios investidores brasileiros que estão circulando por aqui e que se encontram. Então, quem define para onde vão os recursos está, de alguma maneira, nesta semana, aqui em Nova York. Existem duas frentes: uma, demonstrar o ambiente de negócios melhor no Rio Grande do Sul, seja por desburocratização, redução de carga tributária, capital humano que temos de excelente qualidade, parques tecnológicos, todo a nossa estrutura econômica receptiva para investidores em diversos setores; e a nossa aposta, também, na área de tecnologia e de inovação, pelo ecossistema que temos no estado, que é, reconhecidamente, o mais inovador do Brasil, segundo o ranking da competitividade dos estados. Por exemplo: é o estado mais inovador pelo que tem, justamente, de qualidade de capital humano, de ecossistemas de inovação. Essa é uma vertente. Mostrar esse ambiente para que o Rio Grande Sul esteja no olhar de cada um dos investidores. E de outro lado, também compartilhar o portfólio que é liderado pelo próprio estado em termos de PPPs, de concessões. Temos aí concessões de estradas e de aeroportos que estão em curso. Depois de termos cumprido uma boa parte da agenda que a gente apresentou nos últimos anos de privatizações e, também, de outras concessões. O que a gente quer deixar é a mensagem, depois de um ano das enchentes, de um estado que foi muito percebido e olhado no ano ado pela dor que vivia. Mas a reconstrução não recebe a mesma audiência da destruição. A gente quer ter essa oportunidade de mostrar que o estado já se recupera. Alguns dados: no ano ado, o crescimento econômico do Grande Sul foi maior que o nacional. Nesses primeiros três meses de 2025 já geramos mais empregos do que todo o ano ado. Somos o terceiro estado que mais gerou empregos no Brasil e apenas a sexta população. Somos o terceiro maior gerador de empregos em números absolutos no Brasil. A economia está voltando com força. E temos o plano Rio Grande, que é o nosso plano de reconstrução e resiliência em curso, criando sistemas de proteção e promovendo os investimentos para garantir a capacidade de ar novos eventos climáticos. Queremos mostrar isso com clareza para que todos tenham a certeza de que aquele estado que eles olharam, um ano atrás, já retomou, sabe para onde está indo e tem um plano coerente, bem estruturado, com uma governança bem definida para garantir essa reconstrução.
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