Casa

Mais que dividir o teto: como transformar a convivência em lar

Compartilhar o lar com alguém vai além da estética: exige diálogo, respeito e planejamento para transformar a casa em um espaço acolhedor para todos

Biombos e cortinas leves podem ajudar a separar o espaço e dar privacidade aos moradores -  (crédito: Fotos: Reprodução/Pinterest)
Biombos e cortinas leves podem ajudar a separar o espaço e dar privacidade aos moradores - (crédito: Fotos: Reprodução/Pinterest)

Conviver sob o mesmo teto, sejam casais apaixonados, sejam amigos de longa data ou até mesmo familiares, é um desafio que vai muito além da simples divisão de despesas. A casa, antes um santuário individual, transforma-se num espaço compartilhado em que hábitos, estilos e personalidades precisam coexistir em harmonia. Mas como evitar que o sonho da moradia dividida se torne um pesadelo de desentendimentos? A chave está na comunicação, na negociação e, acredite, até na decoração. 

Ao escolher morar com alguém, aceita-se conviver com uma personalidade diferente da sua, alguém que tem gostos, costumes, horários e preferências próprias. E conciliar todas essas variáveis pode ser complicado. Dividir o espaço não é só sobre estética, é sobre convivência. Então, antes de escolher a cor da parede ou o tipo de sofá, o ideal é alinhar expectativas: quem precisa de silêncio para trabalhar, quem gosta de luz natural, quem deseja de um cantinho só seu. Quando o projeto começa com esse diálogo sincero, a casa deixa de ser um espaço qualquer e vira um lar pensado para todos que vivem ali.

O médico psiquiatra do Hospital Santa Lúcia Fábio Aurélio Leite diz que o primeiro o para conciliar o espaço é saber respeitar os hábitos e maneirismos de outra pessoa e aprender a conviver com isso. Ele ressalta que saber ouvir e dialogar é essencial. "O diálogo é fundamental justamente para manter o ambiente agradável. Imagina duas pessoas que moram no mesmo lugar e que não conversam, elas mal se conhecerão e terão uma relação fria, que pode tornar a casa desconfortável", detalha. 

Planejamento 

Ao planejar ambientes que serão divididos, o equilíbrio é fundamental. A designer de interiores Aline Silva explica que o principal ponto é encontrá-lo tanto na estética quanto na funcionalidade. Isso significa considerar as rotinas de todos os moradores para que a casa possa ser um lar para todos.

Aline dá um exemplo pensando em um casal que adora receber visitas, mas um deles precisa de silêncio para trabalhar. "A gente cria áreas que funcionam para ambos: uma sala de estar aconchegante e convidativa, mas também um cantinho mais reservado, com uma mesa de trabalho num espaço tranquilo. E para evitar aquele conflito básico de 'quem usa o controle remoto', cada um tem seu espaço para relaxar e ser dono do seu jeitinho. Assim, a casa respira, todo mundo se sente confortável e as diferenças convivem numa boa."

Mobiliários com mais de uma função podem otimizar o espaço dividido
Mobiliários com mais de uma função podem otimizar o espaço dividido (foto: Reprodução/Pinterest)

Espaços pequenos e privacidade

Dividir um espaço pequeno exige criatividade e jogo de cintura. "A palavra-chave aqui é otimização", ressalta Aline. Móveis multifuncionais, soluções verticais, como prateleiras e camas com gavetões e a delimitação sutil de áreas, com um tapete ou iluminação diferenciada, são estratégias cruciais para manter o conforto e a funcionalidade. "O segredo é entender que conforto não é só espaço, é respeito e organização."

Moveis multifuncionais, como camas com gavetas, são estratégias cruciais para manter o conforto e a funcionalidade
Móveis multifuncionais, como camas com gavetas, são estratégias cruciais para manter o conforto e a funcionalidade (foto: Reprodução/Pinterest)

Aline sugere investir em mobiliário multifuncional, como um aparador que pode virar estação de trabalho, e prever espaços de armazenamento. "Quanto mais organizado o ambiente, mais leve a convivência. A casa precisa abraçar todo mundo que vive nela, sem que ninguém se sinta um hóspede", defende.

Mesmo em espaços que sejam compartilhados pelos moradores, como sala, cozinha e área de lazer, é possível ter privacidade. Estantes vazadas, biombos modernos, cortinas leves e painéis de correr podem dividir sem fechar, enquanto estratégias de iluminação podem criar um canto de aconchego. "Basta ter criatividade e um olhar sensível para a rotina das pessoas que vivem ali", pontua. 

Biombos e cortinas leves podem ajudar a separar o espaço e dar privacidade aos moradores
Biombos e cortinas leves podem ajudar a separar o espaço e dar privacidade aos moradores (foto: Fotos: Reprodução/Pinterest)

Conciliação de espaço e estilos

A organização de um ambiente tem um impacto direto na dinâmica dos moradores, pode tanto aproximar quanto afastar. Um layout que convida ao encontro, com sofás voltados para a conversa ou uma cozinha convidativa, estimula a interação. Por outro lado, a criação de cantos mais isolados ou a mudança na posição de uma mesa podem proporcionar uma certa independência. 

Quando o assunto é conciliar gostos e estilos diferentes na decoração, pode ser mais trabalhoso. O segredo está em encontrar pontos de acordo, misturando texturas, cores e peças que sejam agradáveis para todos. 

Quando se trata da divisão de espaços, como quartos ou escritórios domésticos, é preciso organização e compreensão das necessidades individuais. Em um lugar pequeno, vale apostar em divisórias simples, como um móvel ou cortinas. Mas o respeito à rotina é fundamental, separar o ambiente pensando nas demandas e no tempo de trabalho, como a necessidade de silêncio ou um espaço amplo, vai além do físico e vira questão de combinar. 

O psiquiatra Fábio diz que a divisão, seja de espaços, seja de tarefas, é uma questão de parceria, pois ao dividir a morada com alguém, divide-se também a vida. "Não é só compartilhar o ambiente, mas também propósitos e objetivos. Cada um está ando por algo, então é preciso ter um interesse e acordo mútuo de bem-estar dentro do que seja rotina, tarefas, espaço. É concordar em fazer o que for melhor para ambos, tornar a vida do outro mais fácil", detalha Fábio. 

Para casais, a ideia de abrir mão da individualidade em espaços compartilhados é um mito que precisa ser desfeito. "A individualidade é essencial pra gente se sentir bem e feliz dentro do relacionamento", afirma Aline. Ela ressalta a importância de ter "cantinhos que são só seus", mesmo dentro de um espaço compartilhado, como uma prateleira com livros ou um espaço para um hobby. "A ideia é que o espaço reflita tanto o casal quanto cada pessoa individualmente, e isso só fortalece a relação."

A forma como organizamos nossos lares e compartilhamos espaços tem um impacto profundo na nossa saúde mental. O ambiente em que vivemos influencia diretamente nosso humor, nossa paciência e até a forma como nos comunicamos, conforme aponta Aline Silva. "Espaços carregados de estímulos ou desorganizados podem deixar as pessoas mais irritadas sem perceber", salienta a designer.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 


  • Mobiliários com mais 
de uma função podem otimizar o espaço dividido
    Mobiliários com mais de uma função podem otimizar o espaço dividido Foto: Reprodução/Pinterest
  • Móveis multifuncionais, como camas com gavetas, são estratégias cruciais 
para manter o conforto 
e a funcionalidade
    Móveis multifuncionais, como camas com gavetas, são estratégias cruciais para manter o conforto e a funcionalidade Foto: Reprodução/Pinterest
postado em 25/05/2025 06:00 / atualizado em 25/05/2025 06:00
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