
O brasiliense Daniel Diniz de Carvalho acaba de fazer história na ciência como pesquisador da Universidade de Toronto e do Hospital Princess Margaret, no Canadá. Ele foi o vencedor do Prêmio Gairdner Momentum no dia 11 de abril de 2025, com o reconhecimento internacional concedido a cientistas que protagonizam descobertas inovadoras com grande impacto na saúde humana. É a segunda vez que um brasileiro recebe a honraria, considerada um dos maiores indicadores de futuras premiações com o Nobel.
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A conquista veio graças a avanços inéditos na epigenética do câncer, área que estuda como as alterações químicas no DNA — sem mudanças na sequência genética — influenciam o surgimento e o comportamento dos tumores. A pesquisa de Carvalho reúne duas frentes principais: a biópsia líquida por metilação do DNA e o mimetismo viral induzido em células cancerígenas.
DNA no sangue e medicina de precisão
Um dos marcos do trabalho do pesquisador é a criação de uma tecnologia de biópsia líquida que detecta vestígios de DNA tumoral no sangue. “Conseguimos mapear as modificações químicas no DNA e, identificar se esse material vem de células normais ou cancerígenas. E, se for câncer, conseguimos apontar o tipo e o local do tumor com alta precisão”, explica.
A inovação abre portas para o diagnóstico precoce e o monitoramento em tempo real do tratamento de pacientes. “O teste pode dizer se o paciente está respondendo ao tratamento, se a doença regrediu ou se há sinais de que é preciso mudar a terapia. E, em breve, poderá ser feito o exame de rotina anual para detectar o câncer nos estágios mais iniciais”, destaca o cientista.
A outra frente que garantiu a premiação a Carvalho envolve o conceito de “mimetismo viral”: um método capaz de fazer com que as células tumorais pareçam infectadas por vírus. Essa estratégia desperta o sistema imunológico, tornando o câncer um alvo mais visível e vulnerável. O pesquisador lidera testes clínicos que combinam essa técnica com imunoterapias já existentes, potencializando os efeitos dos tratamentos e reduzindo a necessidade de quimioterapias agressivas. “O objetivo é tornar os tratamentos mais eficazes e menos tóxicos ou agressivos para os pacientes”, destaca.
Do “DNA lixo” à esperança de cura
Uma das descobertas mais fascinantes do laboratório do Daniel envolve a reinterpretação de partes do DNA humano antes consideradas “lixo genético”. Segundo ele, cerca de metade do nosso genoma é composto por resquícios de infecções virais que ocorreram durante a evolução da espécie. “Por muito tempo achamos que esses trechos não tinham função, estamos mostrando que podemos aproveitar essa função para tratar um câncer. Induzimos essa resposta antiviral contra o câncer”, afirma.
Além de representar um marco na medicina de precisão, a descoberta abre uma nova fronteira na biologia molecular. “A maior parte do nosso DNA ainda é desconhecida. Estamos começando a entender essa ‘matéria escura’ do genoma e como ela pode ser usada em benefício da saúde”, diz.
Como próximos os, na área de biópsia líquida, Daniel afirma que ao ter o teste disponível no mercado, é possível ser utilizado para detecção precoce. “Dependendo de como for, talvez 40, 45, 50 anos, será possível realizar o teste todo ano. Se tiver sinal de câncer, o teste também vai dizer o sinal da onde está vindo. A ideia é que com isso, as pessoas podem pegar esse câncer numa fase muito inicial e tratar de maneira menos agressiva e tóxica”, conta.
Raízes em Brasília
Apesar de hoje atuar em um dos centros de pesquisa mais avançados do mundo, Daniel Diniz de Carvalho nasceu e cresceu em Brasília, onde se formou em Veterinária pela Universidade de Brasília (UnB). Em 2012, mudou-se para o Canadá e ou a liderar um dos principais laboratórios de pesquisa em oncologia do país.
Hoje, divide seu tempo entre a pesquisa acadêmica e a coordenação da empresa Adela, dedicada à aplicação comercial de suas descobertas. “É uma honra imensa receber esse prêmio e, mais ainda, representar o Brasil na ciência mundial. Espero que minha trajetória inspire outros jovens cientistas”, afirma.
Concedido pela Fundação Gairdner, no Canadá, o prêmio já destacou ao longo das décadas nomes que futuramente se tornaram vencedores do Nobel.