
Campinas (SP) — O remédio amargo ingerido pelo Flamengo para se reestruturar a partir de 2013 na gestão de Eduardo Bandeira de Mello possibilitou a conquista de 23 títulos, saúde financeira e status de potência econômica. Mas a façanha não se restringe aos gramados. O clube mais popular do Brasil também se orgulha de ter uma veia olímpica fortalecida. Afinal, são vinculados à Gávea alguns dos principais atletas do país. Rebeca Andrade, Isaquias Queiroz, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Rafaela Silva e Lorrane Oliveira dispensam comentários. Com o presidente Luiz Eduardo Baptista, o Bap, o objetivo é expandir faturamento e resultados. E o responsável por tocar o projeto de modalidades — mais o futebol feminino — foi escolhido a dedo.
Membro da geração de prata do vôlei brasileiro nos Jogos de Los Angeles-1984, ex-diretor executivo geral do Fluminense e CEO do Comitê Olímpico do Brasil (COB) entre 2008 e 2016, Marcus Vinícius está há três meses no cargo de diretor de esportes olímpicos e otimiza o tempo. Renova contratos, faz mudanças em patrocínios, viabiliza a expansão da marca e afirma: "O Rio já ficou pequeno, o Brasil vai ficar pequeno e teremos de ir para outros lugares". Em entrevista durante a feira CBC & Clubes Expo, destaca o tamanho da lista de espera da Gávea para a ginástica artística, a a limpo a situação das outras modalidades e como encontrou a casa.
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O que você preparou para este trabalho?
Neste ano, não haverá aumento das modalidades. Estamos focados em arrumar as casas das modalidades que estão lá. O plano que apresentei quando me convidaram foi um de 10 anos, para o esporte olímpico do Flamengo ser o maior do mundo em resultado, receita e formação de atletas.
Qual era a sua prioridade?
Ginástica artística. Minha missão no primeiro mês era renovar com todas as medalhistas olímpicas de Paris. Então, Jade Barbosa, Rebeca Andrade, Lorrane e Flavinha renovadas. A ginástica é um fenômeno na Gávea, temos 1.500 alunos na escolinha e 3 mil na fila, baseado nos resultados das meninas. Elas treinam um dia por semana na Gávea e outros na Barra da Tijuca do COB. Georgette Vidor é a minha headcoach e minha coordenadora de ginástica e continuará sendo.
Como encontrou a casa?
O que eu encontrei no Flamengo foi uma estrutura muito arrumada. Apesar de a turma atual não gostar, Bandeira de Mello e Fred Luz arrumaram a casa para o Flamengo ser o que é hoje. Não tenho a menor dúvida. Tinha uma dívida gigante, muito menos receita do que despesa. Arrumou, ou a ter receita nova, pagou os impostos que não se pagavam, todo mundo CLT. Encontrei uma empresa pronta. Vou fazer o esporte olímpico do meu jeito, essa é a única diferença.
Para quem não conhece a Gávea, é quase uma prefeitura entre o Leblon e a Gávea. É uma cidade. Os números do Flamengo são impressionantes: tem 50 milhões de torcedores, 100 mil sócios. Cinquenta milhões querem saber o resultado do futebol, tem 100 mil sócios-torcedores que querem entrar no Maracanã mais cedo, 7 mil sócios que rodam na Gávea todos os dias e 1.500 atletas treinando e competindo todos os dias. Esse é o desenho do meu trabalho, dos meus problemas e das minhas soluções.
O Flamengo tem uma gestão 100% profissional. Diretora de marketing foi contratada de mercado, diretor de comunicação, de mercado, financeiro, de mercado, de esportes e futebol, de mercado. Isso que me atraiu a voltar a trabalhar. Estava rodando o mundo aí. Estou 24h no Flamengo cuidando das 10 modalidades.
Como funcionam os patrocínios para os olímpicos?
Pixbet está no futebol masculino e feminino, e Flabet, uma segunda marca da Pixbet, patrocina o vôlei. Antes, vendia-se o futebol e os outros eram acoplados. Agora, estamos mudando, precificando separadamente os esportes olímpicos e atacando alguns patrocinadores específicos para os esportes olímpicos. Não estamos pegando só o "troco" que o futebol dá. É mais fácil vender o futebol, mas, muitas vezes, o valor que vem para os outros esportes não é o que vale aquela propriedade. Cada esporte tem um orçamento.
A ginástica é a propriedade mais cara?
O mais caro é o basquete. Basquete e vôlei. O olímpico hoje é pago. Tudo que tem no olímpico gera receita. Essa história de que o futebol é que banca o esporte do Flamengo não é verdade. O esporte olímpico do Flamengo é autofinanciável, dá lucro.
Por que a ginástica não é a mais cara?
A ginástica não é uma propriedade fácil. Uma coisa é ter "boom" e outra é ter espaço de publicidade. Tem de haver eventos transmitidos, espaço no uniforme, coisa que não tem. O maior não tem nenhuma marca, nem da Adidas. Tem alguns esportes que não são fáceis, como o polo aquático, que tem só a touca.
Como é a parceria Sesc/Flamengo no vôlei feminino?
O acordo que o Bernardinho tinha com a gestão anterior era muito estranho. O Flamengo patrocinava o time do RJ-Vôlei, bancado por quatro patrocinadores, mas muito pelo Sesc-RJ. O Flamengo não dava nada, só emprestava camisa. Rasgamos esse contrato, estamos fazendo um novo, com uma gestão em parceria com o RJ e com o Sesc, com aporte de recursos, trazer um patrocinador para aumentar o orçamento do vôlei feminino. O orçamento está entre o quinto e oitavo do Brasil. Vamos elevar ano que vem para estar entre os quatro e, nos próximos dois ou três, estar no padrão dos demais e brigar só pelo título.
E o basquete masculino?
Cheguei com a missão de dispensar o treinador, porque tinha um ruído do qual não fiz parte. Cheguei com a missão de dispensar o Gustavinho (Gustavo Conti), um treinador de que gosto muito. Esteve em Seleção Brasileira comigo, em Olimpíada e em Pan-Americano. Essa era missão, assim como trazer um treinador do tamanho dele, mas com resultado maior, que foi o argentino Sergio Hernandez, com cinco Olimpíadas, medalha em Mundial. Estamos fazendo movimentos para voltar a torcida do Flamengo no basquete. Caiu muito a média de público. O orçamento do basquete masculino é o maior do Brasil, por isso temos a missão e a obrigação de estar em todas as finais.
Como enxergam a gestão do Bap?
Toda a nova gestão, principalmente os diretores que foram contratados, estão muito animados com a postura do Bap. Tudo que ele prometeu para mim e para os outros que conheço está sendo cumprido. Os voluntários não estão na Gávea, não existem mais vice-presidentes por área. Você é comandado e tem par com executivos de mercado. Ele montou realmente como se fosse uma empresa, investiu nos executivos e cada um tem suas metas. Não cumprindo, sai fora, não ganha bônus.
O esporte olímpico do Brasil deveria ir atrás de patrocínios de bets?
Deveria. Onde tem mais dinheiro bom em marketing, que não é lei de incentivo, são as bets. Nos últimos 35 dias, me reuni com 18 bets. Teve um evento, fiz uma série de reuniões.
Há planos para escolinhas de olímpicos fora do Rio?
Já tem. O Flamengo tem escolinhas de várias modalidades, com uma filosofia de academia e vejo o Flamengo muito maior do que isso. Vamos aproveitar isso. O Flamengo tem um faturamento gigante. O Rio já ficou pequeno, o Brasil vai ficar pequeno e teremos de ir para outros lugares. Estou conversando com o Oriente Médio para os esportes olímpicos terem local de aclimatação, pré-temporada a caminho de outros campeonatos. Todo mundo quer saber das escolinhas. Quando se fala em Flamengo, as pessoas pensam no futebol e em alta performance. Eu tenho a missão de que essa alta performance se confirme nas outras nove modalidades.
*O repórter viajou a convite do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC)