
Perto de completar 14 anos e sobrevivente de uma hérnia de disco que o deixou temporariamente paraplégico, meu cachorro salsicha diminuiu consideravelmente o ritmo. Sabiamente, não tenta dar os maiores que suas curtas perninhas. eia meio desajeitado, o rabinho balançando totalmente fora de ritmo. Há pouco mais de um mês, trocamos a guia tradicional por um arnês, que me permite conduzi-lo sem que ele se desequilibre, como vinha acontecendo com frequência.
São os desafios da idade avançada — infelizmente, para um cão, 14 anos é bastante coisa. Porém, apesar das limitações, Bento tem uma vida de qualidade. Ama comer e segue uma alimentação natural balanceada, prescrita pela veterinária e preparada por mim. Faz fisioterapia e acupuntura. Tem livre o a qualquer parte da casa, o que inclui minha cama, onde tira longas sonecas. Gosta de cheirar arbustos e postes para recolher informações dos pets que aram por ali e, se parece cansado no eio, ganha colo na volta. E, o mais importante: não sente dor nem desconforto. Bento é apenas idoso.
Nos nossos eios diários, muitas pessoas se aproximam para perguntar a idade — ele já está com o fuço branquinho. Pedem para fazer carinho, o chamam, carinhosamente, de vovozinho. Especialmente as crianças gostam de elogiá-lo: "Que cachorrinho fofo", costumam dizer.
Mas às delicadezas, infelizmente, se sobrepõem as opiniões não solicitadas de desconhecidos. Dificilmente, escapo de comentários do tipo "coitadinho, não vai durar muito", "nossa, como dá trabalho!", "pobrezinho, deve estar sofrendo". Noutro dia, tiveram a pachorra de perguntar se não estávamos pensando em "sacrificá-lo".
Matar um cão que se alimenta espontaneamente, faz seus eios, enxerga, demonstra alegria com seu rabinho fora de ritmo, dorme confortavelmente e recebe muito carinho apenas porque está velho? Porque já não anda como antes, tem dificuldades para escapar de obstáculos simples e parece não ouvir tão bem? Não, obrigada.
Não é apenas a insensibilidade e a falta de educação que me assustam: é perceber como nós lidamos com o envelhecimento. Essas pessoas estão falando de um cachorro. Mas, nitidamente, projetam nele o que pensam sobre a velhice.
Doenças crônicas, dificuldade de locomoção, cansaço, desorientação podem ser amenizados com um estilo de vida saudável, mas a verdade é que, quando se vive muito, dificilmente se escapa das limitações físicas associadas à idade. É um processo natural, que deveria, se não celebrado, como prova da resiliência, ao menos ser normalizado.
Creio que, quando opinam sem serem solicitadas sobre um cão idoso, essas pessoas, na verdade, mostram repugnância pela velhice em si. A mim, resta comemorar cada o lento do Bentinho. Sinal de que ainda caminhamos juntos.
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